Depois de um crescimento fulgurante a partir de 2019, o investimento em produtos financeiros sustentáveis tem vindo a perder dinamismo nos últimos trimestres, num movimento explicado por vários fatores que colocaram uma “sombra” sobre este segmento da indústria dos fundos de investimento.

A moda do investimento “verde” ganhou força no final da década passada, altura em que a transição energética era um tema em forte expansão e a ética na gestão das empresas um assunto a que os mercados dedicavam muita importância. A chegada da pandemia acentuou esta tendência, pois ficou mais premente a necessidade de apostar em energias limpas, na descarbonização da economia mundial e na proteção do meio ambiente.

Aproveitando esta tendência de maior consciência sustentável dos investidores, as instituições financeiras aumentaram de forma expressiva o lançamento de fundos sustentáveis. E os investidores correram a deslocar capital para estes fundos da categoria ESG (sigla em inglês para environmental, social e governance), que aplicam o dinheiro em companhias que cumprem princípios sustentáveis na área do ambiente, social e governação.

As subscrições globais de fundos de investimento ESG superaram os 100 mil milhões de dólares pela primeira vez no quarto trimestre de 2020, permanecendo acima desta fasquia em todos os trimestres do ano seguinte. Os ativos sob gestão aproximaram-se dos 2 biliões de dólares a nível global, um montante significativo e que consolidou este segmento “verde” dos fundos de investimento como crucial para o setor.

Gráfico da Morningstar com dados sobre os fluxos dos fundos sustentáveis

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Ameaça energética trava ímpeto “verde”

A inversão da tendência de crescimento das subscrições ESG surgiu no início de 2022, devido sobretudo ao impacto da invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Os objetivos de transição energética ficaram para trás, com as preocupações com a segurança energética a sobreporem-se aos objetivos climáticos. As energéticas tradicionais (petróleo, gás e carvão) ganharam vida e as companhias ligadas às energias renováveis sofreram desvalorizações acentuadas, contribuindo para afastar os investidores dos fundos “verdes”.

O movimento anti-ESG nos Estados Unidos ganhou força, acentuando o desligamento dos investidores norte-americanos dos fundos sustentáveis. A política seguida por Donald Trump, de recusar a urgência da transição energética, só agravou a tendência. O ceticismo também cresceu na Europa, devido em parte ao forte aperto regulatório por parte das autoridades, com imposição de normas rígidas e, por vezes, inconsistentes que deixaram investidores e instituições financeiras baralhadas.

A atratividade dos fundos ESG também foi afetada pela comercialização de produtos financeiros rotulados como “verdes”, mas que na prática aplicavam capital em ações e obrigações de companhias que não seguiam princípios sustentáveis. Esta prática, conhecida por “greenwashing”, retirou credibilidade a este segmento, que foi deixado de parte por muitos investidores e gestoras de ativos.

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Primeiro trimestre negativo na Europa

Os dados da Morningstar mostram que as subscrições globais de fundos ESG começaram a abrandar a partir de 2022, acentuando a tendência em 2023, ano que culminou com o primeiro trimestre de fluxos negativos (100 milhões de euros nos últimos três meses desse ano). As subscrições líquidas (entradas menos saídas) trimestrais rondaram 10 mil milhões de euros em 2024, menos de 10% dos volumes observados três anos antes.

Os alarmes soaram no primeiro trimestre deste ano, marcado pelo início do segundo mandato de Donald Trump na Casa Branca. As subscrições globais foram negativas em 11,8 mil milhões de dólares, com a Europa a registar o primeiro saldo negativo de sempre, enquanto os Estados Unidos já acumulam 10 trimestres de saídas líquidas de dinheiro dos fundos “verdes”.

O segundo trimestre foi marcado por uma recuperação, com subscrições globais de 4,9 mil milhões de dólares, mas que não afastam a ideia de que o investimento em fundos sustentáveis deixou de estar na moda. A Europa domina este segmento, representando 85% dos ativos sob gestão a nível global (3,5 biliões de dólares em junho) e 73% dos fundos (7.426 em junho).

Retornos superiores em 2025

O desempenho mais desfavorável dos fundos sustentáveis nos últimos tempos contribuiu para afastar os investidores destes veículos e justificar subscrições mais elevadas nos fundos tradicionais. Contudo, a tendência inverteu-se em 2025, o que pode ajudar a travar a evolução descendente desta indústria.

De acordo com os dados do Institute for Sustainable Investing, do Morgan Stanley, os fundos “verdes” geraram um retorno de 12,5% no primeiro semestre, superando a rendibilidade de 9,2% gerada pelos fundos de investimento que não têm restrições na composição das suas carteiras.

Segundo a mesma fonte, foi a margem positiva favorável aos fundos sustentáveis mais elevada desde 2019, refletindo sobretudo o bom desempenho dos fundos que investem na Europa (+17,2%). Os ativos europeus registaram uma primeira metade de ano muito forte, tirando partido das avaliações mais atrativas e saída de capital das bolsas norte-americanas.

Numa análise a mais longo prazo, o instituto do Morgan Stanley conclui que o investimento em fundos ESG gerou rendibilidades mais elevadas. Um investimento de 100 dólares em dezembro de 2018 gerou um retorno de 54 dólares, enquanto nos fundos tradicionais o ganho foi de 45 dólares.

Apesar desta dinâmica favorável aos fundos “verdes”, as subscrições dos fundos tradicionais continuam a ser mais elevadas. Os ativos destes fundos representam apenas 6,7% do total gerido por todos os fundos de investimento, o que contrasta com o máximo de 7,2% atingido em junho de 2023.          

Sendo evidente esta fase de perda relativa de importância dos fundos sustentáveis, os temas da transição energética, alterações climáticas e responsabilidade social continuam incontornáveis na agenda global. Para que os fundos “verdes” voltem a crescer acima do mercado, é essencial que os retornos continuem favoráveis e os reguladores garantam a transparência e simplificação deste segmento, sem que tal desincentive o seu desenvolvimento por parte do setor financeiro.

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