Viajar é um prazer para muitas pessoas. Mas basta uma emergência para transformar dias de descanso num cenário de preocupação e despesas elevadas. Assim, ter um seguro de saúde em viagem (devidamente adequado às necessidades) é essencial para garantir acesso a cuidados médicos quando está fora de Portugal. No entanto, muitas pessoas assumem que o seu seguro de saúde nacional cobre qualquer situação no estrangeiro. Porém, isso raramente acontece de forma completa.
A cobertura existe em alguns contratos, mas é geralmente limitada, direcionada apenas para urgências e com reembolso posterior. Além disso, há diferenças importantes entre viajar dentro da União Europeia e para fora dela.
Por isso, antes de sair do país, é importante perceber quais são as opções disponíveis, o que cada seguro cobre, quanto pode custar uma emergência e quando faz sentido contratar proteção adicional.
Neste artigo, explicamos como funciona o seguro de saúde em viagem, que complementos podem ser necessários e quais os cuidados que deve ter antes de partir.
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Viajar protegido: Porque o seguro de saúde em viagem é essencial?
Fora de Portugal, muda o sistema de saúde. Mudam as regras. E mudam também os preços. Em países com cuidados essencialmente privados, uma ida às urgências pode custar centenas ou milhares de euros.
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma urgência pode ultrapassar 1.500 dólares e um internamento atingir dezenas de milhares de dólares. Em muitos hospitais privados, a admissão exige prova de pagamento ou seguro válido.
Os seguros de saúde portugueses, quando incluem “Assistência no Estrangeiro”, cobrem sobretudo urgências, com capitais máximos que variam por seguradora e exigem, com frequência, que o cliente pague e trate depois do reembolso. O repatriamento raramente vem incluído por defeito.
Assim, ter um seguro de saúde em viagem com capitais adequados ao destino pode fazer toda a diferença, sobretudo em países com custos elevados e redes privadas dominantes.
Cobertura internacional do seguro de saúde português: Existe, mas é limitada
Se já tem seguro de saúde, confirme as condições da “Assistência no Estrangeiro”. Na prática, a proteção aplica-se a doenças súbitas e acidentes, cobre urgências e internamentos, e funciona muitas vezes por reembolso, mediante apresentação de faturas e relatórios.
O que fica de fora? Consultas de rotina, exames programados, seguimento de doenças crónicas sem declaração prévia e, em regra, transportes médicos especializados ou repatriamento, a menos que tenham sido contratados à parte.
Exemplo típico: desenvolve uma infeção gastrointestinal fora da UE. A observação médica urgente pode estar coberta, mas o seguimento de uma condição preexistente pode não estar.
Antes de viajar, informe a seguradora, confirme o capital disponível e peça os contactos de assistência internacional. Em caso de sinistro, ligue primeiro para a linha 24h do seguro. Essa chamada agiliza o encaminhamento para prestadores e a autorização de despesas.
Viajar na União Europeia: O papel do Cartão Europeu de Seguro de Doença
Na União Europeia, Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suíça e Reino Unido, o Cartão Europeu de Seguro de Doença (CESD) garante acesso ao sistema público de saúde em condições idênticas às dos residentes. Se, para os locais, a assistência for gratuita, também o será para si; caso existam copagamentos, pagará o mesmo.
O cartão é gratuito, tem validade (em regra) de três anos e pode ser pedido à Segurança Social, inclusive online. Se precisar, existe certificado provisório de substituição.
O CESD, porém, não substitui um seguro de saúde em viagem. Não cobre cuidados em clínicas privadas, não inclui repatriamento, nem resolve cancelamentos ou problemas com bagagem. Em caso de divergência (por exemplo, pagamento exigido quando deveria ter sido gratuito), pode pedir reembolso em Portugal, nos termos aplicáveis.
Nota: verifique antes de partir como funciona o sistema de saúde no destino. Em alguns países, como a Alemanha, existem copagamentos terapêuticos. Já noutros, como Espanha, o acesso público em determinadas situações pode ser gratuito.
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CESD na Europa: Como pedir e o que esperar no terreno?
Se o destino é europeu, peça o Cartão Europeu de Seguro de Doença (CESD) pela Segurança Social Direta, nos balcões da Segurança Social ou nas Lojas/ Espaços Cidadão. O envio para a morada indicada costuma demorar entre cinco e sete dias úteis. Se não chegar a tempo, existe um certificado provisório com o mesmo efeito.
No terreno, apresente o CESD nos serviços públicos ou convencionados. Se, apesar disso, lhe for cobrado um serviço que deveria ser gratuito para residentes, pode reclamar o reembolso em Portugal.
Fora da União Europeia: Quando o seguro de saúde em viagem é quase indispensável
Fora da UE, o acesso ao sistema público pode ser limitado e o privado caro. Nos EUA, o custo elevado é um facto conhecido pela maioria. No Japão, o sistema nacional não reembolsa despesas de viajantes e é importante confirmar a validade da apólice e a existência de parcerias locais.
Já no Brasil, além de custos variáveis, juntam-se riscos de saúde pública (dengue, febre-amarela, zika), o que reforça a necessidade de capitais adequados e da garantia de evacuação e repatriamento. Por fim, em destinos com fenómenos naturais frequentes (sismos, tufões), convém incluir cobertura de catástrofes.
Há países que exigem seguro para entrada ou obtenção do visto, com capitais mínimos e cobertura médica e de repatriamento válidas durante toda a estadia (por exemplo, Cuba, Rússia, Argélia). Em qualquer um destes casos, sem a apólice certa, pode não embarcar ou ficar sem assistência adequada. Confirme sempre os requisitos consulares antes de reservar.
Viagens curtas vs. estadias longas: Que solução escolher?
Para viagens curtas (férias, trabalho pontual, programas Erasmus de curta duração), a solução mais prática é contratar um seguro de viagem com cobertura médica robusta, assistência 24 horas e repatriamento. Pode adicionar cancelamento e bagagem se fizer sentido. O objetivo é simples: capital alto para despesas médicas e garantia de transporte sanitário para Portugal, se necessário.
Para estadias longas, mudança de país ou estudos prolongados, um seguro de saúde internacional pode ser mais adequado. Estas apólices permitem consultas não urgentes, exames programados, e acesso a redes privadas em vários países, com capitais e franquias ajustados ao perfil do segurado.
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O que realmente interessa na apólice: Capitais, repatriamento e como usar
O coração do seguro de saúde em viagem são os capitais para despesas médicas. Ajuste-os ao destino. Nos EUA e no Canadá, capitais baixos esgotam depressa.
O repatriamento é a outra peça essencial. Um transporte sanitário assistido pode ser muito caro. Sem repatriamento, uma emergência complexa transforma-se num problema logístico e financeiro.
Na prática, guarde sempre os contactos de emergência e ligue à assistência 24h antes de se deslocar a um hospital. A seguradora pode encaminhar para uma unidade da rede e garantir pagamentos diretos, evitando adiantamentos altos. Se pagar do próprio bolso, guarde faturas detalhadas, relatórios clínicos e comprovativos de pagamento. É isso que permitirá o reembolso posterior.
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Exclusões que ditam surpresas: Desporto, álcool, gravidez e zonas de risco
Há exclusões que se repetem e merecem atenção. Doenças preexistentes sem declaração, acidentes associados a álcool ou drogas, desportos de inverno ou radicais sem cobertura específica, gravidez em fase avançada e deslocações para zonas de guerra ou catástrofes podem não estar cobertos. Se vai praticar ski, mergulho, trekking em altitude ou surf, peça a extensão desportiva.
Outro ponto que gera confusão são as vacinas. As apólices de viagem tendem a cobrir eventos que ocorram durante a deslocação, não a preparação clínica anterior. Se o destino exige imunização, a vacinação é, em regra, a cargo do viajante. Planeie com antecedência e guarde o boletim atualizado.
Já pode estar coberto e sem saber: Olhe para as condições dos cartões de crédito, seguro auto e vida
Antes de subscrever um novo contrato, verifique as apólices que já tem. Muitos seguros automóvel incluem assistência em viagem que o acompanha mesmo quando não conduz o carro no estrangeiro.
Alguns cartões de crédito oferecem seguro de viagem se pagar a viagem com o cartão, com capitais para acidentes pessoais e despesas médicas.
Já os seguros de vida associados ao crédito habitação podem contemplar indemnizações por morte ou invalidez permanente em viagem.
Por fim, certos seguros de saúde cobrem despesas no exterior até 60 dias, desde que avise a seguradora de antemão. Avalie capitais e franquias para evitar duplicações e desperdício de dinheiro.
E o preço? Ajustar capitais ao destino compensa
O custo do seguro de saúde em viagem depende do destino, da duração, da idade e dos capitais. Na Europa, a proteção semanal tende a ser mais acessível do que na América do Norte.
As apólices anuais internacionais, pensadas para múltiplas viagens, têm prémios superiores, mas podem compensar para quem sai frequentemente. Em qualquer cenário, capitais mais altos significam prémios maiores. Mas também maior segurança.
Antes de partir: Três decisões que evitam dissabores
Primeiro, confirme o que o seu seguro de saúde já cobre fora de Portugal, incluindo capitais, franquias e necessidade de aviso prévio. Segundo, se viajar para a Europa, peça o CESD e saiba onde o pode usar.
Em terceiro, ajuste o seguro de saúde em viagem ao destino: verifique repatriamento, evacuação médica, linhas de apoio 24h e eventuais exigências consulares. Se a viagem envolver desporto, adicione a cobertura. Se o itinerário passar por zonas com riscos sanitários ou fenómenos naturais, reforce capitais e garanta prestadores na região.
Estas decisões, tomadas antes de fazer as malas, evitam sustos caros e resolvem problemas quando eles acontecem.
Informação antes da proteção… e proteção antes do voo
O seguro de saúde em viagem é a rede que amortece o imprevisto. Em países com custos elevados ou acesso privado dominante, é, muitas vezes, a única forma de garantir cuidados sem comprometer o orçamento familiar. Mesmo dentro da Europa, o CESD deve ser visto como complemento, não como substituto da apólice.
Assim, o caminho é simples. Perceba o que já tem, identifique o que falta, e acrescente a proteção certa para o seu destino. A melhor proteção começa sempre antes de fazer as malas.
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