Porque se investe a longo prazo?

O que é investir a longo prazo? O que deve ter em consideração e quais as especificidades do mercado de capital português?

A expressão longo prazo é um chavão que é utilizado sempre que se aborda o tema de investimento em ativos financeiros. A pertinência do termo não está em questão, até porque faz todo o sentido.

A questão é que, ao evidenciarmos o longo prazo, podemos correr o risco de desvalorizarmos o veículo ou o ativo em que vamos investir. Como é de longo prazo, para daqui a 5 ou 8 anos, qualquer coisa é boa!!

Ser acionista: Investir com responsabilidade

Quando investimos num título ou num veículo (fundo ou ETF) que é composto por um cabaz de várias empresas, tornamo-nos acionistas. O nosso objetivo é que este “passo” nos permita ter um potencial de retorno elevado. Em termos práticos, estamos a financiar empresas, que se aplicarem bem os recursos, irão criar mais riqueza e emprego. O nosso risco será sempre o crescimento ou não das empresas em que investimos.

A questão do longo prazo tem precisamente a ver com este facto. Quando investimos num negócio, temos de ter a perceção que a riqueza não se gera de um dia para o outro. As sementes têm de ser lançadas, os alicerces têm de ser criados, a estratégia tem de ser implementada e isto demora tempo.

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Importância da equipa de gestão

Para tornar tudo isto mais complexo, temos de ter a noção que os business plan nem sempre correm como o esperado. Existem obstáculos ou imprevistos que têm de ser ultrapassados.

Uma ideia ou um negócio que aparentemente pode ter um enorme potencial, tem ou deverá estar a ser gerido por equipas de gestão que tenham know how especializado e visão para conseguirem seguir a “viagem” independentemente das oscilações que possam existir.

Especulação diferente de investir

Quem melhor conhecer os negócios e as equipas de gestão, maiores probabilidades terá de o seu investimento no longo prazo alcançar o objetivo/sucesso pretendido.

Nos últimos anos, criou-se a ideia de que rapidamente se conseguem obter retornos interessantes e de uma forma fácil. A realidade é que estamos a viver num contexto caracterizado por grandes injeções de liquidez por parte dos bancos centrais e por taxas de juro baixas, que originaram um crescimento considerável dos ativos mobiliários e imobiliários, criando-se a ideia de facilitismo.

Passou-se do 8 para o 80. Nos investimentos e na vida, devemos ter sempre presente a disciplina, o equilíbrio e a noção dos riscos, quando essas linhas são atravessadas, podemos sofrer as consequências de uma forma abrupta.

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Investimento: qual a abordagem?

A atitude com que se investe nos ativos financeiros (mobiliários) deverá ser igual à forma de investir em imobiliário. Para investir numa casa/apartamento precisamos de conhecer a pessoa que nos está a vender a casa (se tem legitimidade para o fazer), a localização, o estado em que se encontra, se não existem quaisquer penhoras, hipotecas,… Ou seja, para efetuarmos um investimento imobiliário, temos de conhecer em pormenor as características do imóvel.

Nos mercados financeiros o racional deverá ser o mesmo. É fundamental tentar conhecer a empresa em que pretendemos investir, o plano de crescimento, a dinâmica e competências da equipa de gestão.

Investir numa empresa só porque a conhecemos no nosso dia a dia, pode ser um grande erro, até porque se não aprofundarmos o conhecimento não iremos saber se a empresa está a aumentar as suas vendas, se os custos aumentaram, se está a gerar cash flows, se está endividada, entre outras questões que têm muita influência na sua valorização.

Claro que para a maior parte da população esta análise é difícil de ser efetuada, porque não têm know how para o fazer. Existem sempre alternativas muito interessantes, que passam por encontrar fundos de investimento que contenham equipas de gestão com qualidade que façam este trabalho de pesquisa e análise, e que tenham uma carteira composta por vários ativos (diversificada), de forma a reduzir o risco.

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Mercado de capitais português: qual o caminho a seguir?

O Orçamento do Estado inclui uma medida que visa o englobamento das mais-valias, tendo em conta dois pressupostos:

  • Se o ativo não estiver em carteira por um período superior a 365 dias
  • Se os rendimentos globais da pessoa em causa ultrapassarem os 75.009€

Nos países desenvolvidos, nomeadamente nos EUA que é a maior economia do mundo, o mercado de capitais tem uma influência e preponderância enorme. Em Portugal, a dimensão do nosso mercado é muito reduzida, porque somos um país com poucos habitantes e temos um contexto de pequenas e médias empresas, não havendo espaço interno para o surgimento de grandes marcas.

Adicionalmente, temos uma literacia financeira muito reduzida, conforme ficou constatado no recente estudo efetuado pela CMVM.

Em termos estratégicos, a medida presente no Orçamento do Estado e que visa o englobamento das mais-valias segundo os pressupostos atrás descritos, acaba por ser um incentivo (pelo lado negativo) para que os investidores tenham um horizonte temporal de investimento mais alargado.

Contudo, numa bolsa de valores (Portugal) em que a liquidez é muito reduzida, esta medida poderá ser prejudicial para o desenvolvimento do nosso mercado de capitais, que deveria ser dinamizado, para se poder afirmar como um suporte real à nossa economia.

Em vez de procurarmos obter mais receitas fiscais de uma forma simples, deveríamos promover o conhecimento, fazendo com que o investimento em mercado de capitais se tornasse em algo interessante e não assustador para a maioria das pessoas. No longo prazo, a população teria maior conhecimento, tomaria melhores decisões, poderia apoiar mais as nossas empresas e o Estado conseguiria obter maiores receitas fiscais, saindo todos a ganhar!

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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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