Networking e Diversidade: Rede de contactos ou relações de confiança?

O networking pressupõe ganhar influência a partir de relações de confiança. E isto é diferente de uma mera soma de cartões de visita.

Se olharmos para a diversidade como condição fundamental de uma visão de integração e representação da complexidade do que somos, há um fio que podemos puxar para melhor entendermos como há no sentido de grupo, equipa ou comunidade um poder inequívoco. E que há uma sabedoria que podemos, progressivamente, ganhar e desenvolver para exponenciar esse poder. Foquemo-nos, pois, dentro dessa sabedoria, na ideia de networking, a qual, do meu ponto de vista, remete para a irreverência de construir em conjunto, de fazer algo que seja maior do que nós próprios e, por conseguinte, mais diverso. Mas há que saber fazê-lo.

Construir uma rede de networking pressupõe ganhar influência a partir da capacidade de criar, gerir e manter relações de confiança. E isto é (absolutamente) diferente de uma mera soma de cartões de visita. Olhemos, como nos recomendaria José Ortega & Gasset, maior filósofo espanhol do século XX, para as circunstâncias que fazem o ser humano e que nos permitem ganhar uma visão estratégica sobre de onde vimos?; onde estamos?; e para onde vamos? Se há fórum em que aprendi a importância do networking, esse fórum é a PWN Lisbon, organização global vocacionada para o desenvolvimento da carreira que tenho o privilégio de liderar, já com 12 anos de atividade em Lisboa.

Quando fui convidada para integrar a PWN Lisbon, dei uma resposta imediatamente comprometida com a missão e a visão da organização, sem medir o esforço que me exigiria passar a fazer parte. Sete anos depois e já com total conhecimento do que é e da sua direção, estou profundamente convicta de que pertencer à PWN Lisbon fez e faz toda a diferença na construção e consolidação do meu próprio sentido de missão pessoal, nas suas diferentes componentes; na aprendizagem ganha sobre os ecossistemas organizacionais e corporativos; na rede extraordinária de contactos de confiança (que não são comparáveis com os cartões de visita trocados em cocktails); na gratidão sobre todos os voluntários que fazem parte e permitem fazer acontecer e, ainda, sobre todas as pessoas impactadas pela organização que nos dizem, elas próprias, que ser membro da PWN Lisbon lhes mudou a vida. Ora, esta comunidade mudou radicalmente a minha própria perceção sobre o que é o networking e, até, porque não dizê-lo, também a minha vida.

Que lugares-comuns devemos (des)construir?

Mas ateimemos em desconstruir alguns lugares-comuns. Quando falamos de networking, falamos de ir a eventos e trocar cartões de visita ou perfis no LinkedIn? Sim, mas não só. Falamos de tomar copos? Sim, mas não só. De colecionar contactos? Sim, mas não só. Isto é: tudo isto pode e deve ser visto como instrumentalmente necessário, mas não como a fórmula única e isoladamente eficaz. Dito isto, que foco devemos ter? Que o networking é uma atitude estratégica, mas que, com o tempo e a consciência que sobre ele se ganha, passa a traduzir-se de forma natural e orgânica; que o networking tem jogos de estratégia, protocolos incorporados, regras próprias que amplificam a capacidade de mobilização, ainda que nem todas as pessoas partam por motivos diversos (competências, conhecimento, foco, disciplina, disponibilidade) do mesmo ponto de partida. E, tantas vezes, entre o conforto evidente de uma tarefa concluída e o retorno ambíguo do trabalho em rede, os gestores ingénuos continuam a escolher o primeiro. 

Que fundações e valores?

Agora, o tema do networking está ancorado, mais uma vez do meu ponto de vista, nas fundações e nos valores da nossa vida. O ponto é: olhemos para o nosso propósito de vida como um “tema” em permanente construção e redefinição; saibamos qual a nossa missão e visão estratégica de vida; ganhemos direção e intencionalidade, a partir da nossa vocação e do talento que tenhamos. A escritora brasileira Clarice Lispector, incontornável no panorama literário do século XX, e incorrigivelmente atual, escreveu assim: «Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir». É na conciliação das duas coisas, precisamente, que eu acredito. E no trabalho, trabalho, trabalho. Que não tenhamos ilusões sobre isto.

Leia ainda: Networking: Qual a utilidade e como aumentar a rede de contactos?

Que estratégia e protocolo de eficácia?

A “isto” devemos juntar um protocolo de eficácia: ser prestável, ser fiável, ser relevante, ser influente. À prestabilidade e fiabilidade associaria sempre a partilha, a promoção de pontes, a criação de relações mais humanizadas, assentes mais na escuta do que no ato de protagonizar; no dar do que no receber; numa atitude que está desinteressadamente ao serviço. A fiabilidade será pedra de toque, neste quadro, da confiança que se constrói paulatinamente e que, para o networking e os seus frutos, é requisito insubstituível.

Se nos focarmos na relevância, eu dividi-la-ia em 5 grandes componentes, as quais sintetizam no fundo tudo o que ficou dito atrás: valores; formação; atitude; comunicação; e networking. Que os nossos valores sejam inegociáveis e referenciais de ética, competência, talento e propósito. Para isso, é sempre inspirador ter role models em todas as vertentes (não apenas profissionais), para que os nossos modelos, uma vez holísticos, possam posicionar-se como referências a todos os níveis.

Para nos tornarmos relevantes, é essencial uma permanente atitude de aprendizagem e a disponibilidade para atualizar conhecimentos ou ganhar novas competências à medida da evolução da carreira. E juntar a isto a intenção de trabalhar a formação de uma forma integral, não abrindo mão de ser uma “pessoa inteira” em qualquer circunstância, sem depender das funções específicas ou do cargo ocupado. Fazer adicionar aos valores e à formação a atitude: ter uma capacidade renovada de auto-motivação, fazer mais do que nos é pedido, colocar competências ao serviço da empresa e não das funções específicas, perguntar permanentemente: como fazer a diferença? A relevância também está relacionada com a comunicação: recorrer à capacidade de bem comunicar como uma ferramenta estratégica de liderança e reputacional. Procurar saber o que dizer, em que momento, com quem, através de que canais… são pouquíssimas as ferramentas tão poderosas, como a comunicação o é, de liderança e gestão de equipas. E, em paralelo, vem o networking, claro. Mas há que investir no networking de forma sustentada, profissional, confiável; lá está, fazer pontes construtivas, dentro e fora da empresa em que trabalhamos.

Ter influência, por último, pressupõe ter acesso a informações privilegiadas; acesso a grupos de desenvolvimento de aptidões; ter poder; construir influência a partir da capacidade de criar, gerir e manter relações de confiança…

Metodologia(s)

Que metodologias ter? Haverá várias e cada pessoa deve, seguramente, descobrir a sua própria metodologia. Ficam aqui algumas que fazem a síntese de várias pessoas que conheço e que melhor me inspiraram sobre o que o networking é e o seu contributo para a diversidade das organizações que queremos ter. Devemos começar por mapear e alimentar diferentes tipos de redes (operacional, estratégica e de desenvolvimento) e fazer parte de diferentes grupos ou comunidades. Devemos compreender como funciona a própria organização (qual o organograma formal e informal; escolher mentores e partilhar a visão de vida; identificar fatores de sucesso no desempenho das funções; criar oportunidades e aceitar tarefas adicionais ao trabalho corrente para ampliar redes, ganhar experiência e interiorizar diferentes maneiras de pensar e agir. Devemos antecipar oportunidades para dar e receber das redes (não esperar apenas pelos momentos de necessidade; ao invés disso, manter contacto permanente e orgânico com as redes). Podemos criar um conselho de diretores (com pessoas melhores do que nós em alguma matéria; que nos acrescentem valor), mentores e patrocinadores (porque nenhum líder, por melhor que seja, pode ser isoladamente o melhor conselheiro).

Que sentido de diversidade tem, afinal, o networking?

Identificaria três grandes ideias para o explicar: 1) liga-nos a pessoas a vários níveis, funções e organizações, contribuindo para a diversificação e credibilização das nossas referências; 2) facilita o nosso crescimento e desenvolvimento, alavancando a concretização de objetivos, metas e sonhos; 3) dá importante suporte ao cumprimento do nosso propósito de vida.

E porque esse lugar aonde tivermos chegado acompanhados… vamos perceber claramente que não seria alcançável se nos tivéssemos feito à estrada sozinhos. E esse lugar será também o lugar onde ganharemos evidência sobre o tipo de pessoa em que tivemos a capacidade de nos tornar (por não termos chegado ali sozinhos).    

Leia ainda: Uma História da (des)igualdade – Factos, Números e Magos

Presidente da PWN Lisbon, organização internacional focada no desenvolvimento da liderança. Há 18 anos no setor das comunicações, é profissional de comunicação e marketing, com o mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade Católica Portuguesa. Fundou o Entre | Vistas, plataforma digital de comunicação cultural que originou o livro da sua autoria As Perguntas que Somos.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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