É preciso rever os critérios de análise de risco no crédito

Precisamos de correr mais riscos para não bloquearmos a economia, nomeadamente para quem está no início da sua vida profissional.

Num artigo anterior falei do triângulo entre o bom, o mau e o vilão no crédito, defendendo que precisamos de correr mais riscos e que um incumprimento muito baixo é revelador de que a economia não está na sua capacidade máxima.

Neste sentido, é importante repensarmos os critérios de análise de risco. Porque, ao não corrermos riscos, estamos a condicionar a economia como um todo.

Vou centrar-me nas regras que estão estipuladas para o crédito habitação. As regras dizem que um cliente, quando contrata um financiamento para a compra de casa, não pode ter uma prestação que ultrapasse 35% do seu rendimento. Contudo, se quiser comprar um telemóvel através de financiamento, pode chegar aos 50%.

As regras de crédito habitação deviam ser mais flexíveis por várias razões, sendo que uma delas é que o risco de incumprimento no crédito habitação é muito inferior ao de um crédito pessoal.

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Nem precisamos de recuar ao período da troika, em que o incumprimento estava mais elevado, para confirmarmos esta realidade. Em junho de 2023, os créditos vencidos no consumo representavam 3,4% do total financiado (993,5 milhões de euros). Já no caso da habitação, o rácio de malparado está nos 0,3% (287,6 milhões de euros), de acordo com os dados do Banco de Portugal.

Uma prova viva de que o risco no crédito habitação é muito menor. E, por isso, talvez devêssemos flexibilizar um pouco as regras. Não para todos, não em todos os casos, obviamente.

A avaliação de risco dos jovens, por exemplo, devia ser menos intransigente. Os jovens, por natureza, ganham menos, porque estão a começar a sua carreira profissional, mas têm uma probabilidade maior de verem os seus rendimentos crescer. Além disso, têm mais tempo pela frente.

Por outro lado, os critérios de avaliação de financiamento para bens de consumo de curto prazo, deviam ser mais exigentes do que para comprar um carro ou uma casa.

Bem sei que tudo conta para a economia e para o seu crescimento, mas comprar um bem que não é de primeira necessidade, com recurso a crédito, devia contar com requisitos um pouco mais exigentes do que na compra de uma casa.

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Malparado mais do que controlado

Se analisarmos os dados do crédito vencido facilmente constatamos que o nível de incumprimento é muito reduzido. E mesmo que viajemos até à última crise financeira, o malparado no crédito habitação atingiu um máximo de 2,7% do total dos empréstimos. E estamos a falar de um período muito difícil para Portugal, sendo a maior crise de que temos memória.

Não nos podemos esquecer que o crédito concedido é fruto da acumulação de capital, acumulação essa, em grande parte, oriunda das poupanças dos clientes das instituições financeiras. Essas poupanças são transformadas pelo sector financeiro num instrumento que gera rendimento, o que significa que há todo o interesse em se colocar este capital em setores que permitam gerar mais acumulação de capital. 

É claro que não podemos avançar com financiamentos sem avaliar o risco. Não é isso que defendo, longe disso. Mas acredito que precisamos de correr mais riscos para não bloquearmos a economia, nomeadamente para quem está no início da sua vida profissional.

Leia ainda: Qual é a sua taxa de ansiedade?

Cláudio Santos, iniciou carreira no setor da banca em 1992 no Loyds Bank, terminando em 2012 no Deutsche Bank após passar por Banco Fomento Exterior e Banco BPI. Após uma experiência internacional de 3 anos como Diretor Comercial, ingressou em 2016 no Doutor Finanças. Atualmente é Partner, Board member e Chief Commercial Officer (CCO).

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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