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Imagem onde um homem escreve um cheque, com várias moeda e uma calculadora em cima da mesa

A literacia financeira não é apenas uma questão de conhecimento. É uma alavanca real de crescimento económico e estabilidade social. O Global Financial Inclusion Index 2025, desenvolvido pelo Principal Financial Group e pelo Centre for Economics and Business Research (Cebr), demonstra que um aumento de 10 pontos percentuais nos níveis de literacia financeira pode elevar o PIB em 0,3 pontos percentuais em apenas quatro anos.

O estudo, que abrange 42 economias, mostra que as pessoas com maior literacia financeira falham menos nos pagamentos, endividam-se menos e gerem melhor o dinheiro. A literacia financeira, quando acompanhada de políticas públicas e inovação digital, é a base para economias mais estáveis e sociedades mais resilientes.

O relatório deste ano confirma também que, após dois anos de progresso, a inclusão financeira global estagnou. O índice recuou ligeiramente para 49,4 pontos, após ter atingido 49,6 pontos em 2024. No entanto, continua muito acima da linha de base registada em 2022 (41,7 pontos).

Literacia financeira: O fator que mais reduz o incumprimento

O impacto da literacia financeira no sistema económico é mensurável. O Cebr conclui que um aumento de 1 ponto percentual na literacia financeira média está associado a menos 2,78 pontos percentuais na taxa de incumprimento de crédito das famílias.

Este efeito é direto: quanto melhor as pessoas compreendem o funcionamento do crédito e os custos associados, menos recorrem a empréstimos de risco e mais rapidamente corrigem atrasos nos pagamentos. Maior literacia traduz-se em decisões mais racionais e sustentáveis, o que se reflete num sistema bancário mais sólido e numa economia mais estável.

O inquérito indica ainda que a literacia financeira contribui para melhorar o rácio dívida/rendimento (DTI). Ou seja, as famílias com mais literacia conseguem manter um equilíbrio mais saudável entre os rendimentos e as obrigações financeiras, evitando o sobreendividamento.

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Um retrato global: A inclusão financeira abranda

O relatório mostra que, em 2025, a inclusão financeira global abrandou. Os ganhos dos últimos dois anos deram lugar à estagnação, sobretudo devido à queda do apoio das empresas aos trabalhadores.

O pilar “apoio do empregador” recuou em 83% dos mercados analisados, com muitas empresas a reduzirem benefícios financeiros, programas de formação e incentivos à poupança. O contexto geopolítico instável e o aumento dos custos operacionais ajudam a explicar esta retração.

Em contrapartida, o papel dos governos e dos sistemas financeiros ganhou relevância. O pilar “apoio governamental” cresceu em 60% das economias, refletindo políticas públicas mais ativas em literacia, regulação e digitalização.

Singapura continua como líder mundial

Singapura é, pelo quarto ano consecutivo, o país com melhor desempenho global. Lidera nos três pilares do índice: governo, sistema financeiro e empregadores. Além disso, atinge uma pontuação global de 81,1 pontos.

Seguem-se Hong Kong (71,7), a Suíça (71,1), a Coreia do Sul (69,8) e a Suécia (68,9). O Reino Unido regressa ao top 10, enquanto a Noruega e os Países Baixos descem ligeiramente.

A liderança de Singapura explica-se por um sistema financeiro altamente digitalizado, uma forte aposta na educação financeira e políticas governamentais que integram tecnologia e formação em todos os níveis de ensino.

Digitalização: O outro pilar da inclusão financeira

A digitalização é apontada como o principal motor da inclusão financeira. Os países que investiram em pagamentos instantâneos e open banking estão entre os que mais progrediram entre 2022 e 2025.

No Brasil, o sistema Pix transformou-se num caso de sucesso global, com 175 milhões de utilizadores e 15 milhões de empresas. Já na Tailândia, o PromptPay tem mais de 80 milhões de utilizadores e realiza mais de 2 mil milhões de transações mensais.

A Coreia do Sul e o Brasil já avançaram para o modelo de open finance, integrando seguros, investimentos e pensões.

O relatório sublinha que interligar sistemas de pagamento e permitir a partilha segura de dados são hoje fatores determinantes para o acesso universal a produtos financeiros. Onde a tecnologia é acessível e segura, a inclusão financeira cresce de forma sustentada.

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A ascensão do Golfo: Investimento em fintechs e educação

Os países do Golfo registam as maiores subidas no índice de 2025. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) e a Arábia Saudita apostaram em estratégias nacionais de digitalização e educação financeira, tornando-se casos de referência na região.

Os Emirados Árabes Unidos subiram 3,9 pontos no pilar “sistema financeiro” e escalaram 12 lugares em “acesso a capital”. Quanto à Arábia Saudita, melhorou 4 posições e consolidou o seu estatuto de líder árabe em fintechs, com mais de 230 startups financeiras ativas. A meta é atingir 525 até 2030.

Estes países mostram que a combinação entre política pública, inovação e formação financeira é a chave para acelerar a inclusão.

América Latina: Com avanços digitais, mas fragilidade social

A América Latina mostra sinais mistos. A Argentina destaca-se, com uma subida de 28,9 pontos desde 2022, impulsionada pela criação da plataforma “Transferencias 3.0“, que permite pagamentos instantâneos por QR Code.

O Brasil mantém uma posição estável, mas com uma ligeira descida devido à retração empresarial. Já o Peru e o México enfrentam dificuldades em ampliar o acesso financeiro nas regiões fora dos grandes centros urbanos.

Assim, conclui-se que a digitalização não basta sem literacia financeira. O acesso tecnológico sem compreensão financeira pode perpetuar riscos e desigualdades.

Europa: Com estabilidade, mas pouco dinamismo

Na Europa, as economias mais ricas mantêm bons indicadores, mas o crescimento é lento.
A Suíça e a Suécia continuam entre os cinco melhores países, enquanto a Noruega caiu devido ao abrandamento das exportações e à redução de benefícios empresariais.

O Reino Unido recupera terreno, apoiado por melhorias em literacia financeira e regulação pós-Brexit.
Ainda assim, a região enfrenta um problema estrutural: a perceção de inclusão entre os trabalhadores tem vindo a diminuir.

Segundo o relatório, “as economias com redes públicas fortes tendem a ter menor apoio empresarial direto, mas maior estabilidade social”.

O papel do governo e das empresas

Em 2025, a maioria dos governos reforçou a sua atuação como rede de proteção financeira. Os programas de literacia, a digitalização e as medidas de apoio social foram essenciais para conter a retração económica.

Por outro lado, as empresas reduziram o envolvimento direto na promoção da literacia e dos benefícios financeiros dos trabalhadores. Em tempos de incerteza, as medidas voluntárias são normalmente as primeiras a serem cortadas.

No entanto, o relatório destaca que onde o Estado é menos presente, as empresas assumem um papel central na inclusão financeira. Tal facto explica o bom desempenho de países como Índia, Tailândia e Malásia, onde o empregador é muitas vezes a principal fonte de formação e crédito.

O impacto da literacia financeira na estabilidade económica

O Global Financial Inclusion Index 2025 confirma que a literacia financeira é um fator determinante para a estabilidade económica. Nos países onde os níveis de literacia aumentaram, o endividamento é mais sustentável, o incumprimento diminui e a confiança no sistema financeiro aumenta.

Esta relação é direta e cumulativa: quanto maior for o nível médio de literacia, menor o risco de sobre-endividamento e maior a capacidade das famílias para poupar e investir.

A literacia é, segundo o relatório, “a ponte entre a inclusão e o crescimento”.

O que revelam os números sobre o impacto da literacia financeira

Os resultados econométricos do Cebr demonstram, com base em 42 economias:

  • +1 ponto percentual em literacia financeira → -2,78 p.p. em incumprimento.
    Menos famílias falham pagamentos de crédito e menos bancos registam crédito malparado.
  • +1 ponto em literacia → -6,7 p.p. no DTI (rácio dívida/rendimento).
    As famílias comprometem uma menor percentagem do rendimento em dívidas, o que aumenta a margem para poupança e investimento.
  • +10 pontos em literacia → +0,3 p.p. no crescimento do PIB em quatro anos.
    A literacia melhora a estabilidade financeira e cria um ciclo positivo de confiança e consumo responsável.

Segundo o relatório, estas correlações confirmam que a literacia financeira é um instrumento de política económica, não apenas educativa. Promover a compreensão financeira é investir em produtividade e resiliência.

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Um alerta e uma oportunidade para Portugal

Portugal não integra o grupo de países analisados no índice, mas as conclusões são particularmente relevantes. A evidência de que a literacia tem efeitos diretos sobre o crescimento económico reforça a importância das iniciativas nacionais de educação financeira, lideradas pelo Banco de Portugal, ASF e CMVM.

A integração da literacia financeira nas escolas, a promoção da poupança e a literacia digital devem ser prioridades de longo prazo. Como refere o relatório, “o verdadeiro progresso começa quando as pessoas têm acesso e compreensão para tomar decisões informadas sobre o dinheiro”.

Num contexto de crédito caro e elevada incerteza, a literacia financeira é a melhor proteção económica para as famílias, empresas e país.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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