Num contexto em que as sociedades enfrentam crescentes desafios económicos e sociais, a literacia financeira assume-se como um pilar essencial da cidadania. A Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania (ENEC 2025) reforça essa ideia ao integrar a Literacia Financeira e o Empreendedorismo como dimensão obrigatória em todos os anos de escolaridade. Esta decisão traduz-se numa mensagem clara: formar cidadãos implica também prepará-los para gerir recursos, planear o futuro e tomar decisões económicas informadas.

A literacia financeira não se resume ao domínio de cálculos ou produtos bancários. Significa compreender que cada escolha financeira tem impacto individual, familiar e social. As Aprendizagens Essenciais da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento refletem esta visão:

  • No 1.º ciclo, as crianças aprendem a distinguir necessidades de desejos, a importância da poupança e o papel dos meios de pagamento.
  • Nos 2.º e 3.º ciclos, são introduzidos conceitos como elaboração de orçamentos, planeamento da poupança, investimento e proteção contra riscos, incluindo a fraude digital.
  • No ensino secundário, discute-se a ética financeira, a responsabilidade social das organizações e desenvolvem-se modelos de negócio sustentáveis.

Este percurso progressivo tem um objetivo claro: capacitar os jovens para tomar decisões conscientes e responsáveis ao longo da vida. Se devidamente concretizado, contribui para reduzir situações de endividamento precoce, consumo impulsivo ou vulnerabilidade a esquemas fraudulentos.

O desafio está na prática pedagógica. A literacia financeira só é eficaz quando ligada ao quotidiano. Um orçamento só faz sentido se associado a escolhas reais; a poupança só ganha valor quando relacionada com objetivos concretos. Para além disso, esta dimensão não deve ficar confinada a uma disciplina: ganha força quando integrada em áreas como Matemática, Economia, História ou Ciências, revelando a transversalidade das questões financeiras.

Mais do que uma competência técnica, a literacia financeira é uma competência de vida. Promove autonomia, pensamento crítico e responsabilidade. Ao preparar os jovens para gerir recursos de forma equilibrada, fortalece não apenas o bem-estar individual, mas também a coesão social.

A aposta da ENEC 2025 merece, por isso, ser entendida como uma oportunidade. Uma oportunidade para que a escola contribua, de forma consistente e articulada, para que cada aluno desenvolva as ferramentas necessárias a uma participação plena e consciente na sociedade. Porque cidadãos financeiramente informados são cidadãos mais preparados para enfrentar os desafios do presente e do futuro.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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