Vida e família

As ilhas sem dinheiro e o glutão da dívida

Dois videojogos que, entre marteladas e aventuras, apresentam aos mais novos conceitos de literacia financeira. E até os mais velhos aceitam o desafio.

O videojogo Escape from the Barter Islands, iniciativa do Banco da Reserva Federal do estado de Cleveland, assenta no princípio básico da troca direta. Robbie é um náufrago que dá à costa numa ilha tropical; ele tem uma jangada, mas precisa de uma vela para conseguir regressar a casa. Porém, a ilha das Laranjas só tem… laranjas. Ora, uma laranjada, se pode matar a sede, não resolve o problema do nosso herói azarado. Ele precisa de entrar no mundo do comércio… Comprar e vender coisas.

Eu tenho isto e tu queres isto

Toca de apanhar as laranjas, carregar a jangada, e rumar à próxima paragem destas Ilhas da Troca. Ali encontraremos um precioso remo, na posse de alguém que quer uvas. Felizmente, há quem esteja disposto a comerciar laranjas por uvas e, após umas trocas (sem baldrocas), prosseguimos a nossa rota. O chefe da nova e maior ilha informa-nos de que sim senhor, existe por ali uma bússola, mas teremos de efetuar um longo caminho até a obter. A lei da oferta e da procura, neste arquipélago sem canibais ou gente mal-intencionada, resume-se a uma questão de perspicácia: as pessoas são simpáticas e estão prontas a ajudar, desde que tenhamos connosco o produto certo. E, quanto mais rápido se fizerem as trocas, mais pontos obtemos. Muito bem, vamos lá a isto. Laranjas por maçãs, maçãs por peixe, peixe por bolachas, bolachas por pão, pão por… sei lá o quê! Que canseira para arranjar uma bússola!

Escape from barter islands

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Mas eis que aparece o conceito do dinheiro…

Enquanto efetuamos o nosso comércio de troca por troca, os tubarões nadam ao largo. Se o sol se puser sem que tenhamos conseguido a bússola, dão-nos a hipótese de tentar de novo. Dessa vez, ufa, conseguimos e, chegados à última ilha, já na pele de experientes comerciantes, sentimo-nos prontos para mais uma intensa, prolongada e complexa sequência de trocas. Mas eis que tudo se consegue resolver em duas penadas: laranjas por cocos e… cocos pela vela. Porquê, de repente, tanta simplicidade? Porque na Ilha dos Cocos, os frutos da palmeira são usados como dinheiro. Será já a caminho de casa, com o vento a enfunar a vela da jangada, que o jogador percebe como seria difícil continuar a navegar num mundo assente no sistema da troca direta. Se ninguém gostasse ou precisasse de laranjas, nem teríamos saído da segunda ilha. No fundo, o dinheiro inventou-se para que fosse mais fácil aos náufragos escaparem, não foi?

As dolorosas marteladas da dívida

E uma das razões para se criarem os bancos foi para emprestar dinheiro a quem precisasse dele. Mas convém ter atenção à subida dos juros e evitar o risco de sobreendividamento. O que em Break the Bank, diga-se, é tarefa extremamente complicada. Neste mini videojogo, o jogador assume o papel de funcionário de um banco comunitário. Supostamente, temos de ajudar os nossos clientes a obterem bons empréstimos e a pouparem tendo em vista o futuro. O problema vai ser o Sr. Javali, proprietário de uma empresa de consolidação de crédito, sempre pronto a dar uma martelada nos nossos porquinhos-mealheiro cor-de-rosa. Se não tivermos cuidado, lá se vão o nosso banco e as nossas boas intenções por água abaixo.

Esta espécie de xadrez simplificado – onde os porquinhos se mexem de quadrado em quadrado –, exige uma gestão cautelosa de cada movimento. A nossa fonte de rendimento passa por darmos cabo dos porquinhos adversários; mas cada martelada que recebermos gera mais dívida. E, se ultrapassarmos a fasquia dos 100 mil, bom, game over.

Break the Bank

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Controlar o glutão dos juros

Evitar a bancarrota requer alguma estratégia na disposição das peças e, sobretudo, na decisão sobre quando comprar novos porquinhos e armas (há martelos-relâmpago que atacam à distância, ou martelos-dourados que atacam todos os opositores nas casas em redor). Apesar da temática um pouco bélica, Break the Bank conduz-nos facilmente à ideia de que é necessário irmos controlando os montantes da nossa dívida. A única forma de salvarmos o nosso banco passa por aumentar o nível de poupanças e usá-las para amortizar sempre que possível; o sucesso está em encontrar o equilíbrio na contração de novos empréstimos e no abatimento regular da dívida. O que pode exigir medidas drásticas. Às vezes, as coisas não vão ao sítio só com falinhas mansas; pode ser preciso atacar a dívida com tudo o que se tem, pagando-a rapidamente, impedindo que o glutão dos juros cresça, cresça, cresça, até atingir uma dimensão insustentável. E isso, convenhamos, é tanto um jogo para os mais novos como uma possível aprendizagem para os mais velhos.

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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