Cultura e Lazer

Do querer ao poder, vai todo um orçamento

Dois videojogos que nos metem a fazer escolhas orçamentais – aparentemente simples – para ir ao baile de finalistas e cumprir um objetivo de vida.

A proposta do Save and Spend Challenge parece capaz de nos fazer suar: escolher uma personagem, uma profissão e respetivo salário associado, definir um objetivo de vida (comprar uma casa, um portátil, um carro, fazer uma viagem e sonho, etc.) e decidir os nossos gastos mensais extra; passados três anos, apura-se se o nosso personagem amealhou o suficiente para cumprir o objetivo traçado inicialmente.

Contas mensais com tudo no sítio

Neste desafio, os três anos passam num instante e, saiba-se, só nos obrigam a escolher um mínimo de três despesas extras, a distribuir por um plano diário, semanal e mensal. Os objetivos finais, diga-se, são facilmente atingíveis, caso se escolham poucas opções e nos fiquemos pelas mais baratas. Há algumas decisões óbvias: se “caminhar” custa zero dólares, vai diretamente para as atividades diárias. (E com isto até estamos a contribuir para um estilo de vida saudável.) Beber café é a mais barata das restantes hipóteses: seis dólares. Um por dia? Ou um por semana? Depois, existem despesas intermédias – comer fora, ir ao cinema, doações a organizações de beneficência, cortar o cabelo – que podemos remeter para uma vez por mês. E já está, casa comprada!

Apesar da simplicidade, o jogo patrocinado pelo Banco da Reserva Federal de Cleveland introduz-nos a alguns conceitos básicos de finanças. As contas do orçamento mensal mostram, desde logo, a diferença entre ordenado bruto e líquido e associam à personagem uma série de custos fixos: renda para um apartamento de duas divisões, alimentação e produtos para a casa, passe de autocarro e contributos de gasolina para as boleias partilhadas, gastos em serviços e num seguro de saúde, prestação do empréstimo que se fez para tirar o curso.

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Comedimento, sacrifício e, vá lá, um café por dia

Mesmo com tanto gasto, à base de alguns sacrifícios os nossos personagens lá conseguem o carro ou a viagem que tanto queriam. Cresce, então, uma dúvida: e se lhe aumentarmos o número de extras? E se quisermos comprar roupas novas todos os meses? Essa é, na verdade, a questão subliminar do jogo: ajustar o orçamento de forma a termos uma vida com alguns prazeres, sem pôr em causa o objetivo final. Assim, se a Nina conseguiu comprar a casa (gastando muito pouco), o Ted já ficou aquém das poupanças necessárias, pois quis fazer tudo a que tinha direito. Não admira que no final o tenham chamado de “super-gastador”...

A aparente simplicidade revela-se, assim, um engodo. O Ted quis comer fora todos os dias, ir ao cinema todas as semanas, comprar videojogos todos os meses e ainda ficar com dinheiro para dar entrada numa casa. Só que não foi possível. Talvez valha a pena recomeçar, dando ao Ted uma vida de hábitos mais comedidos. Ou então, talvez a Nina prescinda de ter casa própria e se contente com um novo portátil; assim, ela pode levar um dia-a-dia menos sacrificado, gastando um pouco mais nas coisas que lhe dão prazer. Talvez até consiga beber um café todos os dias!

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Baile de finalistas de sonho

Antes de pensar em ter-se casa ou carro próprio, houve um tempo em que outras opções parecem as mais importantes da vida. Como, por exemplo, o que vestir no baile de finalistas? Apenas com versão em língua inglesa, e um questionário muito adaptado ao imaginário norte-americano (mas que acabamos por reconhecer facilmente devido à influência do cinema), Plan Your Dream Prom é um jogo baseado em dez perguntas que funciona, novamente, como uma espécie de alarme: às vezes, aquilo que parece simples, afinal, pode não o ser.

Aproxima-se, então, o dia do baile. Quem não deseja, nessa noite, fazer boa figura perante o par? A pergunta inicial é sobre o número de semanas, meses ou anos que faltam até à grande data. Depois, questiona-se sobre o dinheiro que se tem guardado, o dinheiro com que os pais vão contribuir e outras possíveis fontes de rendimento. À partida, o total de dólares à disposição até pode parecer simpático. Surge, então, a dificuldade da escolha.

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Vamos de limousine, certo?

Segundo o jogo, um bilhete para o baile de gala custa em média 50 dólares. Será que na nossa escola vai ser mais do que isso? E vamos levar uma indumentária que já tenhamos, vamos alugar um fato, ou o sonho passa por usarmos um vestido ou smoking de designer? E os sapatos, já estão no nosso guarda-fatos ou closet ou temos de os ir comprar à loja? E há mais: bolsas, joias, meias, suspensórios, xailes... Talvez uma ida ao cabeleireiro; unhas de gel; maquiagem especial. Para compor, um ramo de flores para ela ou uma flor à lapela para ele?

Está quase na hora de irmos para o baile. Será que os pais emprestam o carro ou, nem pensar nisso, vamos é alugar um veículo especial? Uma limousine! Jantar antes? Seja. Num restaurante fino ou na churrasqueira da esquina? Talvez um hambúrguer com batatas fritas... Chegados à festa, é difícil resistir à fotografia oficial que imortaliza o momento. Afinal, em dia tão especial, tem-se direito a tudo, não?

A autodisciplina de dizer “não”

Se calhar, não, dizem as contas. Numa das nossas simulações, em que quisemos tudo do bom e melhor, faltavam uns 1500 dólares… Dado que o baile era só dali a dois anos, foram-nos dadas algumas hipóteses: a primeira, pôr de lado 9 dólares todas as semanas, até à data do baile; a segunda, cortar nos custos. “Parte de saber gerir um orçamento passa precisamente por se ter a autodisciplina suficiente para dizer ‘não’ a certas coisas, mesmo que as queiramos”. O segundo conselho passa por ganhar mais dinheiro, o que, em certas idades, não será propriamente uma opção. Portanto, talvez valha a pena jogar novamente, desta vez optando por alíneas menos caras...É que isso é o lado bom dos videojogos: podemos voltar sempre atrás e tentar não cometer os mesmos erros. E, assim, aprender lições e princípios válidos para a nossa vida real.

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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