Cultura e Lazer

Prevenir é o melhor remédio, dizem os antigos

O ditado funciona como um aviso: «mais vale prevenir que remediar.» Mas vamos lá a ver. É para prevenir propriamente o quê?!

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Prevenir é o melhor remédio, dizem os antigos

O ditado funciona como um aviso: «mais vale prevenir que remediar.» Mas vamos lá a ver. É para prevenir propriamente o quê?!

O nosso Dicionário de provérbios, locuções e ditos curiosos das Seleções do Reader’s Digest oferece-nos uma forma ligeiramente diferente do velho ditado – «Melhor é prevenir do que remediar» –, mas a explicação não diferirá grande coisa. No fundo, «evitar um dano é sempre mais prudente e económico do que efetuar um conserto». Mas, a que deveremos estar especialmente atentos, quando se trata dos avisos da sabedoria popular?

Os ladrões, o fogo, o gato, o mar…

Tanto por onde escolher… Pensemos na ladroagem: «Depois da casa roubada, trancas à porta.» O mal já estava feito, portanto, e o mesmo se passou com quem talvez possa ter bebido demais na romaria, ou ter gastado mais do que devia: «Depois da festa, coça na testa.» Prevenir, antecipar, precaver, acautelar, vai tudo dar ao mesmo. O importante é estar atento, antes que aconteça algo de nocivo. Por exemplo, «a cão mau, corda curta»; é que se lhe derem espaço para ferrar, ele talvez ferre mesmo. E depois lá se vão as cautelas e caldos de galinha, que «a precaução vale mais que a cura». E, se em vez de cão, for o gato, tomai atenção ao peixe. «Com um olho assa-se a sardinha e com o outro vigia-se o gato.»

Mas, enfim, ninguém está livre de azares ou imprevistos, por mais previdente que seja. Porém, mesmo nesses casos, o povo diz que há lições a aprender. Como esta: «A primeira vez que me enganas, a culpa é tua; a segunda vez, a culpa é minha.» E quando o tema é fogo? «Com o fogo não se brinca», já se sabe, e quem não se acautelar, tarde chegará, conforme diz a História Geral dos Adágios Portugueses: «Queimada a casa, acode com água.»

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São tantos os perigos que até rimam (às vezes)

Já começámos a compreender: é preciso ter cuidado com praticamente tudo! São tantos os alertas que até os podemos meter a rimar.

Gaivotas em terra, tempestade no mar.

Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

Quem não sabe nadar, não se atire ao mar.

Quem tem rabo de palha, não se aproxime do fogo.       

Se vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas no molho.

Está bem, nem tudo terá rimado, mas isto dos provérbios também não é nenhuma ciência. A não ser se dermos palco ao nosso conselheiro José Joaquim Rodrigues de Bastos. Mais uma vez, ele inclui na sua Coleção de Pensamentos, Máximas e Provérbios (1847) várias frases originais sobre o tema. Cautelas? «O homem excessivamente civil é incómodo, o homem excessivamente acautelado é tímido, o homem excessivamente corajoso é turbulento.» Um problema de excessos, está-se bem de ver. E sobre isso de prevenir? Pois que «A prevenção não só entra nos espíritos vulgares, mas até nas almas mais puras e menos dispostas a escutá-la». Como noutras ocasiões, o conselheiro soa um pouco críptico. E, sem evitar juízos de valor, ou não estivéssemos no reino dos adágios: «O homem prudente sabe prevenir o mal, o corajoso suporta-o sem se queixar.»

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E quanto a cuidados com o dinheirinho?

Estejamos de acordo em que «há perdas muito mais fáceis de prevenir, que de reparar», e concentremo-nos na parte das economias e afins. Ainda segundo o conselheiro, «o prazer do lucro é menos vivo e menos constante que a dor da perda». Será? Que nos digam de sua justiça os investidores, os empresários, os que jogam a dinheiro. Nas negociatas, há lugares-comuns que têm séculos, como o «Não bebas cousa que não vejas, nem assines carta que não leias», ou a precaução de «jogar com cartas dobradas», rifão que significava “possuir mais de um recurso”. E até parece que estamos a ver o Major Hespanha, com o seu Dicionário de Máximas, Adágios e Provérbios (1936) na mão, a dar-nos uma palmada nas costas: «Não metas teu dinheiro em saco, sem veres se tem buraco.»

«Não trocar o certo pelo duvidoso», avisa-se noutras paragens, até porque «o seguro morreu de velho». E, por falar em velhice, saiba-se que «mocidade desprevenida, velhice arrependida», lema de que apresentamos ainda duas versões alternativas. Uma mais floreada: «Poupai para o tempo da adversidade e da velhice; que o sol da manhã nem sempre há de durar.» E outra mais poética: «Lembra-te do futuro, e o futuro se lembrará de ti.»

Aproveitemos, por isso, enquanto dura o sol da manhã. Com precauções acerca do futuro, claro; mas sem nos esquecermos de viver o presente.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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