Mochila encostada a mala de viagem aberta, ao lado de umas sapatilhas por calçar

Estudar longe de casa implica grandes desafios. Em muitos casos, o financiamento é um dos primeiros, e muitos jovens optam por recorrer a bolsas de estudo ou mesmo por trabalhar para pagar propinas e alojamento.  

Neste guia, o Doutor Finanças explica que passos deve dar se vai estudar longe de casa, sobretudo de forma a garantir uma gestão eficiente dos custos.

Onde ficar a viver?

O principal desafio de estudar longe de casa – face à escalada dos preços do imobiliário – é encontrar um lugar para viver. Esta realidade pode ser mais expressiva para quem vai estudar para as universidades localizadas nos grandes centros urbanos, onde há mais procura e, por isso, os preços são mais elevados.  

No ano passado, o preço mediano de alojamentos familiares em Portugal foi 1.777 euros por metro quadrado (m2), tendo as sub-regiões Grande Lisboa (2.939 €/m2), Algarve (2.752 €/m2), Região Autónoma da Madeira (2.395 €/m2), Península de Setúbal (2.117 €/m2) e Área Metropolitana do Porto (1.986 €/m2) registado valores superiores ao nacional, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). 

Caso beneficie de uma bolsa de estudo, as residências universitárias públicas são a solução mais económica de alojamento. Afinal, estas residências pertencem ao Estado, embora sejam geridas pelas instituições de ensino. Para tal (e caso estude numa universidade pública) deve candidatar-se a este apoio junto dos serviços académicos.

Contudo, pode não ser fácil arranjar vagas nestas residências, pois a maioria dos quartos está preenchida por estudantes de anos anteriores. Sendo o processo feito por candidatura, só terá a certeza que o alojamento está assegurado após o período de inscrições e matrículas. 

Assim, se as residências universitárias públicas não forem uma opção, tem as seguintes hipóteses: 

  • Residências universitárias privadas
  • Arrendar um quarto numa casa partilhada; 
  • Arrendar uma casa; 
  • Comprar uma casa numa zona perto da universidade.

No caso das residências universitárias privadas, o preço de um quarto privado é tendencialmente mais elevado do que o de um quarto numa casa partilhada. Mas existem algumas vantagens a ter em consideração, como o valor incluir as despesas de água, luz, internet, gás, e ainda poder usufruir em algumas residências de serviço de limpeza e lavandaria. Além disso, pode usufruir dos espaços comuns da residência e conviver com vários estudantes alojados nesse espaço. 

Estudar não tem de pesar na carteira

Consiga financiamento com mensalidades que cabem no orçamento

Arrendar um quarto ou uma casa: A solução mais comum 

Caso não consiga encontrar uma residência universitária onde ficar, e não tiver capacidade financeira para comprar uma casa, a solução mais em conta passa por arrendar uma casa ou apenas um quarto. 

Ao arrendar apenas um quarto, fica mais limitado, mas os custos também serão menores. Já se arrendar uma casa completa, terá mais liberdade e mais espaço, mas também mais despesas. Caso o senhorio o permita, e desde que conste do contrato de arrendamento, pode subarrendar outros quartos para aliviar os custos.

No primeiro trimestre do ano, a renda mediana subiu cerca de 10% para 7,46 euros por m2, segundo os números do INE. Mais uma vez, acabará por pagar mais se se deslocar para os grandes centros urbanos como Lisboa, Porto e Algarve. 

Uma pesquisa junto dos portais Idealista, Olx e SuperCasa permite concluir que será muito difícil encontrar quartos em Lisboa, por exemplo, a menos de 400 euros, sendo as rendas mais baixas aplicadas em zonas da periferia de Lisboa, como Odivelas e Amadora.  

Já no Porto o cenário é ligeiramente mais favorável, ainda que o mais comum sejam rendas acima dos 350 euros por quarto. 

Leia ainda: Como preparar a ida para a universidade longe de casa?

Carrinha de Mudanças

Comprar casa vale mesmo a pena? 

Pode ainda decidir comprar casa na cidade para onde vai estudar. Esta solução fará sentido, sobretudo, se a zona para onde for tiver futuros empregadores em que terá de trabalhar presencialmente, ou se quiser uma segunda habitação para investir (por exemplo, para colocar a arrendar após os estudos).  

Acima de tudo, não se esqueça que precisará de um valor de entradaa menos que seja elegível para a garantia pública, destinada à compra da primeira casa por jovens – e de garantir que consegue pagar a prestação.

Para ter uma ideia geral da prestação mensal que ficaria a pagar num crédito habitação para uma segunda habitação, vamos supor que compra um imóvel de 140 mil euros. Dado que se trata de um crédito habitação para uma segunda casa, o financiamento máximo é de 80% do valor do imóvel. Assim, na melhor das hipóteses, conseguiria um financiamento de 112 mil euros, e teria de ter em capitais próprios 28 mil euros para dar de entrada. 

Caso conseguisse um financiamento com um prazo de 360 meses, 30 anos, e uma TAN de 2% (spread + indexante), pagaria uma prestação mensal de 413,97 euros. É preciso ter em conta que este é um investimento que envolve ainda o pagamento do seguro de vida do crédito habitação, seguro multirriscos e, muito provavelmente, de condomínio. 

Além disso, teria de pagar comissões ao banco, o registo do imóvel, o IMT (Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis) e Imposto do Selo relativo à aquisição. Já anualmente, tem de fazer contas ao IMI, Imposto Municipal sobre os Imóveis. 

Propinas continuam congeladas e poderão ser devolvidas 

Sejam os pais, ou outros, a pagar os estudos, será sempre importante fazer um orçamento, para ter em conta as despesas, que vão desde a alimentação até às propinas e outros materiais de apoio ao estudo, como livros e sebentas.  

Por norma, as Universidades cobram propinas, que podem ser pagas mensal ou trimestralmente, e após a admissão, uma matrícula e um seguro escolar. Caso opte por uma instituição privada é ainda comum ter de pagar uma taxa de candidatura, que em algumas entidades já supera os 100 euros.  

Nas Universidades privadas, os valores pagos periodicamente variam de instituição para instituição, mas no ensino superior público as propinas são previamente definidas. Para o ano letivo 2025/2026, o teto máximo continua a ser de 697 euros, estando este valor congelado desde 2020. 

Além disso, tenha em conta que este valor que paga anualmente pode vir a ser-lhe ressarcido, sob a forma de prémio salarial, quando entrar no mercado de trabalho, caso se mantenha em vigor o diploma aprovado pelo Governo em 2023.  

Os valores do prémio salarial são de 697 euros por cada ano de licenciatura e de 1.500 euros a cada ano de mestrado integrado. O Estado pode conceder esta devolução de propinas de forma consecutiva ou interpolada, desde que os jovens cumpram os requisitos de atribuição. Estes valores não contam para o cálculo do IRS ou para as contribuições à Segurança Social

Leia ainda: Prémio salarial: Novas regras alargam devolução de propinas   

Bolsas de estudo e subsídios

Uma bolsa de estudo não é mais do que um apoio financeiro que é dado a estudantes ou trabalhadores para ajudar nos encargos com a frequência de um curso ou desenvolvimento de um trabalho de pesquisa. A bolsa de estudo pode ser atribuída por uma entidade pública ou privada. 

As bolsas de estudo mais comuns são as que se destinam às licenciaturas ou mestrados e que são atribuídas pela Direção-Geral do Ensino Superior. 

Para saber como se candidatar, bem como toda a legislação que se aplica às bolsas de estudo, pode consultar o portal da DGES

Note que, para se candidatar a estas bolsas, tem de reunir as seguintes condições

  • Ser cidadão português ou estrangeiro a residir permanentemente em Portugal
  • Estar matriculado numa universidade com um mínimo de 30 ECTS
  • Ter uma situação contributiva regularizada
  • O rendimento do seu agregado familiar tem de ser igual ou inferior a 16 vezes o IAS (Indexante de Apoios Sociais); 
  • Por fim, o património mobiliário não deverá ser superior a 240 vezes o IAS e o património imobiliário não poderá ser superior a 600 vezes o IAS. 

Quando entregar a sua candidatura, deve informar a DGES da sua situação de deslocado, o que será tido em conta por esta entidade no momento de pagar este subsídio. 

Subsídios de alojamento e deslocação 

Além da bolsa, os estudantes podem receber um subsídio de deslocação, com um teto de 250 euros anuais e um complemento de alojamento.  

Este último é pago mensalmente e cobre o valor integral da renda, desde que este não supere entre 55% e 95% do IAS, consoante o concelho em que se situe a instituição de ensino superior frequentada. 

Pode ainda ter direito a um mês adicional desse complemento, caso esteja a frequentar um estágio, por exemplo. No entanto, só receberá este apoio, se não tiver lugar numa residência universitária pública. 

Se não receber bolsa, posso ter apoio de alojamento? 

Sim, mas mais uma vez, apenas se não conseguir lugar numa residência universitária. E, nesse caso, deixa de se chamar complemento e passa a ser um apoio extraordinário. 

O apoio extraordinário ao alojamento destina-se a estudantes do ensino superior que: 

• Estejam na condição de estudante deslocado; 

• Sejam beneficiários de abono de família, até ao 3.º escalão. 

Além disso, mesmo os estudantes cuja atribuição de bolsa de estudo tenha sido requerida e rejeitada podem beneficiar do apoio extraordinário ao alojamento se a bolsa tiver sido rejeitada por rendimentos per capita do agregado familiar superiores ao estabelecido no Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior. 

Se a bolsa tiver sido rejeitada por outro motivo, não podem beneficiar do apoio extraordinário ao alojamento. 

Sala de aulas com alunos sentados a assistir a uma aula

Bolsas para o interior 

Caso tenha ingressado num curso ministrado por uma Universidade no interior, saiba que pode ainda receber a bolsa + Superior. Ao todo, são pagos 1.700 euros, anualmente, e este subsídio pode ser acumulado com a bolsa da DGES. Para tal deve cumprir as seguintes condições. 

  • Já deter uma bolsa da DGES; 

Bolsas de estudo privadas 

Existem diversas entidades, algumas sem fins lucrativos, e instituições de investigação que têm programas de bolsas com as suas próprias condições de acesso.  

Alguns exemplos: 

  • Fundação para a Ciência e Tecnologia; 
  • Instituto Camões; 
  • Fundação Luso-Americana; 
  • Fundação do Oriente 
  • Embaixada da República Federal da Alemanha; 
  • Fundação Calouste Gulbenkian; 
  • Fundação Cidade de Lisboa; 
  • Fundação Eugénio de Almeida; 
  • Fundação Rotária Portuguesa; 
  • Associação Duarte Tarré; 
  • ANA; 
  • Fundação Aga Khan; 
  • Fundação Caixa Agrícola do Noroeste; 
  • Caixa de Crédito Agrícola do Vale do Távora e Douro; 
  • Fundação António Aleixo; 
  • Fundação Millenium BCP; 
  • entre outras. 

Trabalhar e estudar: É possível?

De forma a conseguir cobrir outras despesas, como alimentação e livros, há quem opte por trabalhar durante os estudos. 

No entanto, para quem vai estudar longe de casa, pode ser desafiador encontrar uma oportunidade de trabalho, já que terá de ser um part-time, para conseguir assistir às aulas e estudar, ao mesmo tempo. 

Pode procurar na região empregos neste regime. Há várias empresas que oferecem vagas deste tipo e que empregam muitos estudantes, como as operadoras de call-center. 

Existem ainda outras possibilidades, onde a gestão do tempo é facilitada, como dar explicações de uma disciplina que tenha feito com sucesso no secundário ou até baby-sitting.  

Leia ainda: Trabalhador-estudante: Como ganhar dinheiro enquanto se estuda? 

Além disso, confirme junto do gabinete de apoio social da sua universidade se não existe um programa para alunos tarefeiros, onde são desempenhadas tarefas pelos estudantes na própria instituição de ensino superior em troca de um pequeno salário à hora, ou de uma redução da propina. 

Como construir um orçamento? 

Além das propinas, há outras despesas que irão exigir mais esforço da sua carteira ou dos seus pais, pelo que é importante construir uma espécie de orçamento familiar, com um levantamento de todos os custos.  

Despesas com alojamento, comida, viagens e transportes devem assim entrar na equação. E a própria localidade vai ter impacto neste valores. Por exemplo, arrendar um quarto em Lisboa ou no Porto terá um peso maior no orçamento do que um quarto em Castelo Branco ou na Beira Interior.  

Damos um exemplo de mapa de despesas básico, para um aluno deslocado: 

Alojamento e despesas/mensal: 250 euros 
Comida/mensal: 150 euros 
Transportes/mensal: 30 euros 
Viagens para casa/mensal: 50 euros 
Despesas com cafés, jantares ou saídas: 150 euros  

São 680 euros mensais, a que terá de acrescentar o valor das propinas e dos materiais de estudo.

Pessoa cozinha legumes numa frigideira ao lado de vários condimentos e vegetais

Estratégias para poupar nas refeições e em material escolar 

Existem algumas estratégias que podem permitir que os jovens poupem “uns trocos”, sem comprometer o sucesso académico ou as relações interpessoais. 

As refeições podem facilmente ser uma grande fonte de despesa. Assim:

  • Faça o máximo de refeições em casa. Fará bem à carteira e à saúde; 
  • Durante o período das aulas, aproveite para comer na cantina da universidade. São oferecidas refeições completas e nutritivas a preços bastante acessíveis;
  • Planeie bem as compras e faça sempre listas antes de sair para o supermercado. Evitará compras por impulso e gastos desnecessários;

    No que diz respeito a material escolar, dependendo do curso, também é possível poupar: 
  • Em vez de comprar livros, procure ir à biblioteca e requisitar os manuais mais caros; 
  • E lembre-se das sebentas – o melhor amigo dos alunos no ensino superior. São normalmente facultadas pelos alunos mais velhos e revelam-se o verdadeiro Santo Graal dos cursos. 

Se tem uma mesada, é hora de melhorar a sua gestão 

Como temos referido ao longo deste guia, estudar fora da sua cidade representa um esforço financeiro para o orçamento da sua família. E, por isso, caso tenha uma mesada para fazer face às suas novas despesas, é importante que aprenda a gerir o seu dinheiro de forma inteligente. Afinal, não vai querer que, antes do fim do mês o saldo da sua conta esteja a zero. 

No caso de ter feito um levantamento das despesas que terá de suportar antes de ir para universidade, o melhor é olhar para esses valores e confirmar se estão corretos. Depois de atualizar estes dados, é hora de fazer o seu primeiro orçamento familiar.

Ou seja, vai colocar numa folha Excel ou numa aplicação que permita gerir o seu dinheiro, o valor que tem de mesada e todas as despesas que terá de suportar. Esta é uma forma simples de perceber se tem o dinheiro necessário para fazer face às suas despesas ou quanto vai sobrar ao final do mês. 

Lembre-se que, para ter uma noção mais exata do valor que sobra, precisa de colocar no seu orçamento os micro gastos habituais (cafés, bolos, etc.) e até os luxos que não está disposto a abdicar. Caso contrário, corre o risco de ter uma surpresa desagradável ao ver o saldo da sua conta e nem perceber como é que o dinheiro desapareceu.  

Se a sua mesada for superior às suas despesas, é importante que reserve algum dinheiro para cobrir despesas imprevistas que possam surgir. Se seguir o seu orçamento à risca não só ficará mais descansado financeiramente, como saberá o valor exato que pode gastar nas diversas situações. 

Visite o local onde vai estudar, antes do arranque do ano letivo 

Mais do que as despesas, possivelmente terá de gerir as suas emoções. Um sítio novo com pessoas novas pode parecer assustador, mas não tem de ser.

Assim, se tiver possibilidades, visite mais do que uma vez a cidade para onde vai estudar. Conhecer a zona onde poderá morar, perceber a distância até à universidade, experimentar os transportes públicos e procurar supermercados, lojas ou centros de saúde são medidas práticas que fazem toda a diferença.

Estas visitas são também oportunidades para identificar zonas seguras, mais económicas ou mais bem servidas de infraestruturas. Por norma, os estudantes que visitam previamente o local têm mais facilidade em adaptar-se ao novo ambiente. Afinal, já tiveram oportunidade de se familiarizar com o espaço e com as rotinas locais.  

Estudar numa universidade fora da sua cidade implica alguns sacrifícios financeiros e pessoais. E por isso mesmo, esta é uma decisão importante que deve ser bem planeada. Antecipe, organize-se e faça bem as contas, para que possa desfrutar da sua vida académica e ter sucesso nos seus estudos. 

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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