Imagem de várias casinhas de brincar, umas vermelhas outras verdes, sobre notas de euro

Avaliar o valor de uma casa antes de comprar é um passo essencial para garantir que não paga mais do que o imóvel realmente vale. Num mercado com preços em alta e a variar de rua para rua, saber quanto uma casa deveria custar permite negociar melhor, evitar surpresas no crédito à habitação e tomar decisões seguras. Para muitos compradores, este é o ponto que define se o sonho de ter uma casa própria se concretiza ou se acaba por ser um peso financeiro difícil de suportar.

Neste artigo, explicamos passo a passo como pode analisar corretamente o preço de um imóvel antes de avançar para uma proposta.

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Comece pelo essencial: Medir o mercado hoje, rua a rua

Antes de marcar visitas e começar a negociar, precisa de compreender o valor por metro quadrado real da zona onde quer comprar. Não basta ver anúncios. O preço pedido não é o preço final. Muitos imóveis são colocados no mercado acima do valor pelo qual acabam por ser vendidos.

Como pode fazer esta análise:

  • Defina a área onde quer comprar: freguesia, bairro ou até uma rua específica.
  • Procure três a cinco imóveis comparáveis vendidos recentemente.
  • Os comparáveis devem ter:
    • a mesma tipologia (T1, T2, etc.),
    • área útil semelhante,
    • estado de conservação parecido,
    • localização equivalente.

O INE publica dados sobre o preço mediano por m2 por freguesia, município e região, nas Estatísticas de Preços da Habitação ao nível local. Cruzá-los com preços reais de vendas recentes permite-lhe evitar pagar acima do valor de mercado.

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Comparação de mercado (passo a passo)

Este é o método mais utilizado por peritos e mediadores. Funciona como um “espelho”: compara a casa que quer comprar com imóveis semelhantes.

Passo a passo:

  1. Recolher comparáveis fiáveis.
    Se não tiver acesso a dados de venda final, registe:
    • preço pedido, tempo que o imóvel está no mercado, reduções de preço ao longo do tempo.
    Quanto mais tempo um anúncio estiver ativo, maior a probabilidade de o preço estar inflacionado.
  2. Ajustar diferenças entre imóveis.
    Mesmo imóveis parecidos têm fatores que alteram o valor, como:
    • localização no prédio (andar),exposição solar,existência de elevador,garagem ou arrecadação,estado da cozinha e casas de banho,qualidade de isolamento térmico e acústico.
    O objetivo é aproximar todos os comparáveis ao mesmo nível. Assim, consegue calcular uma média coerente.
  3. Definir uma faixa de preços para negociar.
    • Preço mínimo: o mais baixo dos comparáveis ajustados.
    • Preço razoável: média dos comparáveis.
    • Preço para proposta inicial: ligeiramente abaixo do razoável, para acomodar margem de negociação e eventuais obras.

Ferramenta útil para avaliar o valor de uma casa

O Simulador de Valor de Imóvel do Doutor Finanças, em parceria com a Alfredo, permite testar preços com base em transações reais. Embora não substitua um perito, ajuda a validar se a sua análise está no caminho certo. É um apoio rápido para confirmar tendências locais.

Avaliação bancária: Como funciona e porque mexe no negócio

Se vai recorrer a crédito habitação, a avaliação bancária será decisiva. Esta avaliação é feita por um perito credenciado e independente, que analisa:

  • localização e acessibilidade,
  • ano e tipo de construção,
  • áreas (útil e bruta),
  • qualidade dos materiais,
  • estado de conservação,
  • eficiência energética.

O banco usa o valor mais baixo entre o preço de compra e o valor da avaliação. Isto significa que, se o avaliador atribuir um valor inferior ao preço pedido, o banco não financia a diferença. Nesse caso, terá de reforçar os capitais próprios.

Importante:

O Banco de Portugal recomenda que o financiamento (LTV) não ultrapasse:

  • 90% para habitação própria e permanente.

Por isso, é prudente planear a entrada considerando a possibilidade de a avaliação ser inferior ao preço pedido. Além disso, mantenha em mente um cenário conservador para garantir que consegue comprar o imóvel.

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Custo e rendimento: Quando fazem sentido?

Estes métodos são úteis sobretudo para quem compra uma casa com objetivos de investimento.

Capitalização de rendimentos (para arrendamento)

  1. Comece por estimar a renda mensal que o imóvel pode gerar.
  2. Multiplique por 12 para obter a renda anual.
  3. Aplique uma taxa de rentabilidade esperada (yield).

Se o valor calculado for muito inferior ao preço pedido, o imóvel pode não ser um investimento interessante.

Método do custo (quando não há comparáveis)

Aplica-se sobretudo a:

  • moradias únicas,
  • zonas de baixa oferta.

Considera o custo de construir a casa hoje, o valor do terreno e o desgaste ao longo dos anos (depreciação). Serve, sobretudo, para validar se o valor pedido tem fundamento.

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O papel do certificado energético e da documentação

A classificação energética influencia conforto, custos e valor. O Sistema de Certificação Energética explica que uma classe mais elevada valoriza o imóvel e dá acesso a benefícios. Além de ser obrigatória na venda e em anúncios, a certificação aponta medidas de melhoria com impacto no preço que aceita pagar ou na sua decisão de renegociar.

Confirme ainda: certidão predial, caderneta predial, licença de utilização (quando aplicável), plantas, regulamento e atas do condomínio e situação de obras. Qualquer risco jurídico ou dívidas do condomínio são um sinal de alerta. Se existirem obras extraordinárias aprovadas ou previstas, isso deve ser refletido no preço.

Se comprar com crédito, garanta que a documentação está alinhada com o que será exigido até à escritura. Assim, evita atrasos e avaliações condicionadas.

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Visitas com olhos de perito: O que altera o valor de uma casa

Entre dois T2 iguais no papel, o preço pode divergir milhares de euros. Por isso, durante as visitas, foque-se em:

  • Estrutura e patologias. Fendas, infiltrações, pontes térmicas. Problemas estruturais são caros e uma bandeira vermelha para o avaliador.
  • Conforto térmico e acústico. Janelas, caixilharia, isolamento. Uma boa exposição solar e insonorização valorizam por m2.
  • Andar e elevador. Pisos altos com elevador tendem a valer mais. Sem elevador, o desconto por andar é real.
  • Estacionamento e arrumos. Lugar de garagem, arrecadação e arrumos úteis pesam no valor final.
  • Estado da cozinha e das casas de banho. São os compartimentos mais caros de renovar e afetam a perceção de preço.

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Leve uma checklist. Fotografe, registe medições e recolha orçamentos para obras. Se forem necessárias obras, ajuste o valor da proposta. Desconte o custo estimado das intervenções, acrescentando uma margem de segurança.

Como transformar a avaliação numa proposta vencedora

Com a sua faixa de valores (mínimo, razoável, alvo) e a análise técnica, defina a estratégia:

  1. Cláusula sob condição de aprovação (da avaliação) No Contrato Promessa de Compra e Venda (CPCV), inclua a cláusula condicionante da avaliação bancária. Se a avaliação vier abaixo, tem base contratual para renegociar ou resolver sem penalização. Tenha apenas em atenção que esta cláusula tem de ser aceite por ambas as partes.
  2. Âncora nos comparáveis. Justifique a sua proposta com 3–5 comparáveis ajustados. Partilhe a tabela com o vendedor/agente. A objetividade acelera o acordo.
  3. Desconto por obras e risco. Apresente orçamentos. Descontos justificados por patologia, eficiência energética baixa ou condomínio com obras aprovadas são difíceis de recusar.
  4. Margem e prazos. Em mercado aquecido, prazos curtos e menos incerteza valem tanto como preço. Se puder, ofereça rapidez de decisão em troca de valor.

Erros que encarecem a compra

  • Confundir preço pedido com valor de mercado. Sem comparáveis e dados do INE, o risco de pagar a mais é elevado.
  • Ignorar o LTV e a avaliação bancária. Planeie a entrada para o cenário em que a avaliação é inferior ao preço. Evita “buracos” de financiamento na semana da escritura.
  • Descurar o certificado energético e as obrigações. A classe energética pesa no valor e é obrigatória em venda/anúncio; use-a como argumento de preço ou de melhoria.

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Checklist prática para avaliar o valor de uma casa que quer comprar

  • Mercado: 3–5 comparáveis recentes e ajustados; tendência apurada pelo INE na freguesia/município.
  • Técnico: inspeção visual detalhada; orçamentos de obras; classe energética.
  • Financeiro: simulação de prestação; plano de entrada com “colchão” para avaliação inferior; verificação dos limites de LTV.
  • Legal: certidão, caderneta, licença de utilização, plantas e atas do condomínio. Tenha tudo alinhado antes do CPCV.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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