A premência que vivemos atualmente para alinhar a nossa gestão aos fatores ESG (Enviroment, Social and Governance) pode traduzir-se numa pressão acrescida, sobretudo para quem lidera micro, pequenas ou médias empresas e que chama a si grande parte das definições estratégicas. Uma realidade que tem tanto de desnecessário, quanto de compreensível, já que tudo o que nos chega sob a forma de diretrizes europeias tende a vir embrulhada em demasiada burocracia e complexidade.
A tríade de um futuro sustentável – Ambiente, Social e Governação - não pode, de forma alguma, ganhar formas de um novo Adamastor, sob pena das micro e PME serem, fortemente, penalizadas aos olhos dos mais diferentes, e exigentes, stakeholders.
Para contrariar esta perspetiva acinzentada, proponho que demos um passo atrás e procuremos perceber o sentido das mais recentes decisões de gestão do nosso negócio. Talvez nos surpreendamos com a quantidade de vezes que tomámos decisões, aparentemente pequenas, que, claramente, foram grandes passos rumo à sustentabilidade.
Os reportes exigidos podem levar a crer que tudo está feito à medida das gigantes, mas na verdade, é de um desígnio que falamos. E como tal, o caminho vai fazer-se da forma que melhor servir cada organização. O fim é comum, é certo. Mas, tratemos de o alcançar na justa medida das nossas capacidades.
Das finanças à responsabilidade social: até onde conseguimos chegar?
Este tom de reto à maior, e resiliente, fatia do tecido empresarial no nosso país, provém da certeza de que há já muito trabalho feito. Atualmente, estão em curso muitas estratégias feitas de contributos para os objetivos globais. Estarão todas elas em reportes organizados, a responder a todos os pilares pré-definidos, usando a correta terminologia? Não. Por isso, é tratar, o quanto antes, de simplificar processos.
E se esta simplificação lhe exigisse apenas cinco passos? A UN Global Compact Portugal definiu um conjunto de etapas para as PME e aponta como primeiro passo uma reflexão sobre as principais políticas e as áreas de negócio com maior potencial de impacto nos distintos pilares da sustentabilidade. Neste momento, muitos vão perceber que já desenvolvem atividades sem as relacionar conscientemente com o novo quadro legal.
A análise prossegue de forma a identificar as áreas ou temas que mais diretamente impactam na sociedade, pessoas e ambiente. Devemos então associar-lhes métricas e indicadores para monitorização.
Aqui, cabem exemplos tão diferentes como o quanto precisamos de água ou energia para o nosso processo produtivo, ou se for uma atividade sazonal que exige muita mão de obra temporária o quanto vai impactar, por exemplo, na comunidade.
Ao terceiro passo, importa cruzar a nossa atividade e os temas ESG selecionados, com uma análise dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). De entre os 17 objetivos, devemos escolher apenas aqueles com os quais as nossas atividades mais trabalham (em princípio, e no máximo, é sugerido que nos fiquemos por três ODS).
Com a devida monitorização, segue-se a medição. Os primeiros resultados, mais, ou menos, animadores, vão seguramente mostrar onde podemos melhorar. Aliás, o passo seguinte, e último, é precisamente elaborar o reporte com o desempenho alcançado. E este será sempre feito de aspetos positivos e negativos.
Mas, aqui chegados, teremos o grande trunfo da informação. Todas as decisões que se vão seguir estarão, devidamente, apoiadas e cada um de nós poderá escolher a forma como vai fazer a diferença e contribuir para a sua comunidade ou para um mundo, efetivamente, melhor.
Environmental, Social and Governance: Em que consiste cada pilar da estratégia ESG? |
Paulo Velho Cabral estudou Gestão no ISEG, com uma especialização em finanças na University of Chicago Booth School of Business. Realizou ainda o programa de Strategic Management da Universidade Católica, com passagem pela Northwestern University – Kellogg School of Management. Iniciou a sua experiência profissional há mais de 25 anos, na corretora de mercados financeiros Fincor e juntou-se ao Grupo Jerónimo Martins em 1999, onde consolidou a sua carreira nas áreas de Recursos Humanos e Financeira. É co-fundador do Doutor Finanças e desempenha funções enquanto Partner e Chief Financial Officer, tendo a seu cargo as áreas Financeira e de Compliance.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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