A sustentabilidade está a influenciar muitos setores. Os investimentos financeiros não fogem a esta regra e as obrigações verdes estão aí para o provar. Este é um exemplo de que é possível investir com o objetivo de obter um retorno financeiro e, ao mesmo tempo, ser um verdadeiro agente de mudança e ajudar a melhorar a vida no planeta. Ou seja, estes investimentos financeiros não se preocupam apenas com indicadores de retorno exclusivamente financeiros. Também se preocupam com o fim e com as consequências sociais e ambientais que os projetos podem provocar.
Verdes. Obrigações verdes
Chamam-lhe obrigações verdes. Ou, em inglês, green bonds. Não se trata de qualquer preferência clubística ou de um particular gosto pela cor verde. Mas de uma simbologia. Apesar de a sustentabilidade não ter propriamente uma cor, o verde é vista como "a cor da sustentabilidade" por excelência. O motivo para isso está no facto de a dimensão ambiental ter um peso muito grande neste conceito. Por isso, faz sentido que um produto de investimento sustentável e que está muito conotado com a promoção de um ambiente saudável tenha "verde" no seu nome.
De uma forma simples e direta podemos dizer que obrigações verdes são empréstimos cujo capital se destina a financiar projetos climáticos e ambientais. E cada obrigação representa uma fatia desses empréstimos e rendem juros durante o tempo que dure o empréstimo. No momento em que o empréstimo terminar, o dinheiro é restituído aos investidores.
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Quais são os projetos que as obrigações verdes financiam?
As obrigações verdes financiam projetos que se preocupem e estejam focados na sustentabilidade ambiental de diferentes tipos:
- eficiência energética;
- florestas e agricultura sustentável;
- pesca e silvicultura;
- proteção dos ecossistemas;
- energias renováveis;
- transportes;
- água e a sua gestão sustentável;
- cidades inteligentes.
- tecnologias limpas
- estratégias de combate às alterações climáticas.
Como surgiram?
As obrigações verdes apareceram nos anos 80 e destinavam-se, sobretudo, aos investidores institucionais como bancos comerciais, sociedades financeiras e entidades gestoras de fundos de investimento. Isto significa que para os pequenos investidores eram, praticamente, desconhecidas. Mas a realidade mudou completamente nas últimas duas décadas e cada vez mais estão disponíveis e acessíveis para quem as queira comprar.
Antes, os seus emissores eram sobretudo grandes bancos internacionais. Esses instrumentos tinham qualidade máxima e destinavam-se a financiar projetos climáticos especialmente em países em desenvolvimento no âmbito das suas atividades. Hoje em dia, várias empresas e bancos de investimento financiam-se através de obrigações verdes, aumentando assim a sua oferta.
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O crescimento das obrigações verdes
Nas últimas duas décadas o investimento sustentável deu um grande salto. O que justifica este crescimento?
- A procura cresceu. Há cada vez mais pessoas que querem pôr o seu dinheiro em produtos de investimento sustentável ligados ao ambiente. As obrigações verdes podem ser uma solução. O mote por detrás destes produtos é que é possível ganhar dinheiro e proteger o ambiente ao mesmo tempo.
- Houve uma grande expansão da oferta e promoção destes produtos. Também aumentou o tipo de entidades que os emite.
- Além disso, a falta de financiamento para cumprir as metas ambientais faz com que o dinheiro público não seja suficiente, o que tem levado à criação de soluções para captar investimento privado. De facto, as obrigações verdes são uma dessas formas de captar investimento privado.
Por isso estão a aparecer oportunidades de investimento para os pequenos investidores. Uma parte significativa da dívida europeia para financiar a atual crise pandémica vai ser através da emissão de dívida verde, ou seja, de obrigações verdes, o que faz com que se espere um aumento muito significativo destes produtos no mercado esta década.
Regulação: o grande desafio
A necessidade de regulação e de validação do que são obrigações verdes exige uma clarificação e harmonização dos critérios. Só assim vai ser possível aumentar a credibilidade destes instrumentos. Nesse sentido, estão a criar-se regulamentos, requisitos e diretrizes mais detalhados e concretos sobre os tipos de ativos e de projetos que cabem no conceito de green bond.
Com o mesmo propósito de melhorar a credibilidade e aumentar a transparência estão a emergir diretrizes sobre o tipo de informação que um emissor de obrigações verdes deve divulgar. Para este efeito estão a ser considerados os Princípios para as Obrigações Verdes (Green Bonds Principles), uma iniciativa da International Capital Market Association.
Além disso, até há poucos anos as obrigações verdes eram auto-rotuladas pelo respetivo emissor. Mas hoje já existem organizações independentes que podem validar esses títulos de dívida. Atualmente, na Europa, segundo Climate Bonds Iniciative, 98% das obrigações verdes emitidas são alvo de uma revisão por uma entidade independente que analisa e emite pareceres sobre a natureza dos projetos e o seu alinhamento com critérios reconhecidos como, por exemplo.
Uma linguagem comum: uma grande conquista
A necessidade de ter uma uniformização dos termos utilizados em produtos de investimento sustentável é fundamental para aumentar a respetiva credibilidade. Nesse sentido, em 2020 a União Europeia aprovou o Regulamento que estabelece um sistema de classificação para facilitar a compreensão desses termos e que se encontra no relatório Growing green bond markets: The development of taxonomies to identify green assets. Este regulamento cria uma linguagem comum para identificar e classificar as atividades e finalidades que são realmente “verdes”.
Além disso, melhora a estabilidade na divulgação de informação que é importante para os investidores poderem avaliar as suas opções de investimento. Essa informação relaciona-se, sobretudo, com os riscos do investimento.
Green Bonds: um mercado em crescimento e cada vez mais dinâmico
É de esperar que os produtos financeiros ligados ao investimento sustentável sejam mais procurados e cresça a sua oferta privada. Mas não só. A própria União Europeia emitiu 225 mil milhões de euros nestes instrumentos para financiar a recuperação da economia, que foi abalada pelas consequência do COVID-19.
2020 foi o melhor ano de sempre para o mercado das obrigações verdes, o que vem consolidar o crescimento que este mercado teve nos últimos anos. Segundo a consultora S&P Global, este mercado cresceu 63% no ano passado e estima-se que venha a valer mais de 700 mil milhões de dólares já este ano.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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