Em 1994, tinha eu 6 anos, criei o meu primeiro mealheiro, uma latinha que foi onde comecei a guardar o meu tesouro. Inspirado pelos meus pais, que sempre tiveram negócios, fui incentivado a poupar. E este incentivo não foi apenas partilhado por teoria, incentivaram-me a mim e aos meus irmãos a colocarmos em prática a gestão do nosso dinheiro.
Assim, quando tinha 6 anos, comecei a receber moedas e a poupar. Recordo que, em 1994, a moeda corrente em Portugal era o escudo. Recebia moedas de 5, 10 e 20 escudos. Para os mais novos, é o equivalente a receber hoje 2,5, 5 e 10 cêntimos.
Guardava as moedas criteriosamente no meu pequeno cofre. Recebia as moedas ao fim de semana, mediante algumas condições, como não trazer recados da escola ou ajudar os meus pais nas tarefas domésticas e no seu negócio.
Adorava receber estas moedas. Quando, passado alguns meses, o meu mealheiro ficou bem composto, os meus pais propuseram-me um negócio: e se trocasse as moedas de 5, 10 e 20 escudos por moedas de 50, 100 e 200 escudos? (Traduzindo para os mais novos, moedas que equivalem hoje a valores entre 25 cêntimos e 1 euro).
O poder da literacia financeira
Adorei o desafio. E estava longe de perceber o efeito que aquele negócio ia ter para mim. Ainda assim, estava certo de que ter moedas de 200 escudos era muito melhor do que ter moedas de 5 escudos.
Passei um fim de semana a contar moedas para fazer esta troca. Um fim de semana que terminou num desgosto. Eu tinha centenas de moedas de 5 escudos. São precisas 40 moedas de 5 escudos para ter uma moeda de 200 escudos. Deixei de ter um mealheiro cheio de moedas, para ficar apenas com meia dúzia.
Daqui nasceu um novo objetivo: encher o meu cofre com moedas de 200 escudos. Deixei de estar focado apenas na quantidade. Passei a focar-me também na qualidade.
Mais tarde, o desafio voltou a aumentar. No Natal e na Páscoa passei a receber notas de 500 escudos (2,5 euros) e, nessa altura, comecei a pedir aos meus pais para trocar moedas por notas. E depois notas por notas mais altas.
Até aos 9/10 anos foi sempre a juntar. Ao final destes anos tinha uma pequena fortuna na minha lata. Foi então que tive o meu primeiro choque. Até então eu não gastava dinheiro. Quando cheguei ao 5.º ano passei a lanchar e almoçar na escola. E passei a receber uma semanada.
Foi quando recebi uma dura lição sobre dinheiro. O valor do dinheiro está nas escolhas que fazemos. Até aqui, desde que cumprisse com a minha parte, estava sempre a receber. Ali, passei a ter onde gastar.
Quando comecei a receber a semanada (que era o valor certo para lanchar e almoçar), o meu primeiro pensamento foi que ia conseguir aumentar o valor do meu tesouro. Contudo, não podia estar mais errado.
Até ali, as minhas escolhas eram limitadas à forma como conseguia aumentar as minhas poupanças. Agora, além de poder poupar, tinha de gastar e de tomar decisões sobre onde gastar.
Durante algum tempo gastei mais do que recebia de semanada e vi, pela primeira vez, as minhas poupanças diminuírem. Isto foi um choque para mim. Desde os 6 anos que estava habituado a poupar.
Foi então que coloquei em marcha um plano audacioso. Não bastava poupar. Era preciso recuperar o dinheiro que tinha “perdido”. Foi assim que comecei a cortar custos. Uma das estratégias foi passar a ir almoçar a casa sempre que possível. Além disso, passei a levar lanche de casa e reduzi (isto, confesso, não consegui eliminar completamente) os chocolates e os bolos.
Estas mudanças de comportamento permitiram que eu voltasse a aumentar as minhas poupanças. E assim foi. A partir desse momento, as minhas decisões de gastar dinheiro passaram a ser muito ponderadas.
Aos 14 anos, a minha lata tinha várias notas (dos 10.000 aos 500 escudos) e algumas moedas. Foi nesta altura que surgiu o euro.
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Missão: Ter uma nota de 500 euros
O euro trouxe-me uma nova ambição: conseguir ter uma nota de 500 euros! Era o equivalente a ter mais de 100 mil escudos! Além de ser mais difícil juntar esta quantia, os meus pais receavam que eu andasse com uma nota tão alta. Aos 18 anos abri a minha primeira conta no banco, e deixei de ter o meu “cofre”.
Desde os 6 anos que aprendo a lidar com dinheiro. Na verdade, a lidar com os meus comportamentos para atingir os meus objetivos. A base de tudo está nos nossos comportamentos e na forma como olhamos para o dinheiro.
O dinheiro tem o valor que nós lhe damos. Gastar 1 euro num café pode ser considerado excessivamente caro por uns e barato por outros. Assim como gastar 2 euros por dia num bom seguro de vida, para proteger o rendimento da minha família, se me acontecer alguma coisa, pode ser considerado caro por uns e barato por outros.
Poupar por não saber o dia de amanhã faz parte do meu comportamento. Na verdade, o meu foco nem é em poupar, mas sim em investir no amanhã. Cada euro que não gasto hoje tem um objetivo: comprar uma casa, mudar de carro ou investir numa ideia ou num sonho, como aconteceu em 2014 quando lançámos o Doutor Finanças. Se não tivesse poupanças, nunca poderia ter avançado com o projeto, em conjunto com o Rui Bairrada, porque não teria como financiar aquele período.
Se aos 6 anos de idade não tivesse começado a poupar moedas de 5 escudos…
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Co-fundador do Doutor Finanças e administrador de Seguros, Rui Costa é formado em Economia, com especialização em liderança, gestão operacional e Customer Experience. Nasceu em 1988, começou a trabalhar na área de intermediação de crédito aos 23 anos. Natural de Fafe, adora ler e aprender coisas novas. Procura desafiar-se constantemente e de sair da sua zona de conforto. Adora liderar pessoas, dar-lhes as ferramentas certas para as ajudar a crescer do ponto de vista profissional, mas também pessoal, porque as pessoas não são só trabalho, são muito mais.
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