A mediação imobiliária está a ganhar ou a perder quota em Portugal?

No imobiliário, a falta de sistematização de dados gera dificuldades de interpretação para desenvolvimentos futuros.

Princípio de um novo ano significa um claro momento de balanço e reflexão para diversas pessoas e atividades e, no mercado imobiliário, muitos são os que se preocupam com a recolha e análise de dados, ações e tendências para avaliar perspetivas de evolução do mercado.

Infelizmente, dentro do vasto setor do imobiliário, que não abrange apenas a mediação, persiste uma atividade que carece de sistematização de dados, o que resulta muitas vezes na dificuldade de interpretação para desenvolvimento de futuros planeamentos. Isto gera um sentimento de incerteza e frustração não só para os próprios players, como para os consumidores finais, pessoas que são potenciais compradores ou vendedores de imóveis e que todos os dias se debatem com a necessidade de escolha de um agente ou agência imobiliária em quem terão de confiar. Uma escolha muito difícil quando tem de ser feita com base em informação disponível pouco transparente e tendenciosa quando se pretende avaliar resultados do profissional. É por isso que a recomendação e algum feeling pelo meio são, na maior parte das vezes, o fator chave para esta decisão ou para a decisão de recorrer, ou não, à mediação.

A transparência pode beneficiar, e muito, a opinião sobre o setor da mediação. É uma área que, em termos gerais, continua a ser mal vista pelo mercado. Mas, muitas vezes, é uma opinião generalizada e, por isso, injusta, já que, como acontece em todos os outros setores, existem bons e maus profissionais. Não existindo dados concretos, pergunto: esta generalização é feita com base em quê se, de facto, não há dados?

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A importância da obtenção de dados

Seria fácil desculparmo-nos com a atividade e más experiências que acontecem, e que acabam por tendencialmente ser as que mais se evidenciam em si. Pode-se até basear esta opinião com o facto de se pensar que, em Portugal, há falta de regulamentação, legislação e informação, mas que nos outros países é tão mau ou pior. Mas a verdade é que não é necessário irmos aos Estados Unidos para encontrarmos um mercado onde existe transparência de informação e dados. Não precisei de ir muito longe para encontrar um bom exemplo: bastou-me passar a fronteira para perceber que aqui ao lado, em Espanha, onde nem sequer existe legislação para a atividade de mediação imobiliária, há quem se preocupe com algo talvez tão importante quanto a lei: a obtenção de dados.

O INE espanhol fornece dados das transações efetivadas com um delay de uma semana. Dados acessíveis via internet e disponíveis a todos os utilizadores, interessante, certo?

Outro exemplo? A UCI, instituição financeira dedicada ao crédito à habitação, elabora todos os anos um relatório sobre o desempenho da mediação imobiliária em Espanha, disponibilizando-o pontualmente ao mercado para ajudar não só os players da atividade, mas também os consumidores finais que recorrem ao serviço de mediação. O objetivo é o de ajudar ambas as partes na tomada de decisão.

Entre os dados relevantes deste relatório sobre o ano de 2023, verifiquei o seguinte:

  • 63% das vendas imobiliárias de imóveis em segunda mão, em Espanha, são feitas através da mediação. Um valor estável dado que, em 2021, registava-se uma quota de 64%;
  • Os imóveis habitacionais recebem 11 visitas antes de se encontrar um comprador, passando a apenas 4 visitas quando se trata de um arrendamento;
  • A maioria dos espanhóis (6 em cada 10) recorre a financiamento bancário;
  • 8 em cada 10 profissionais tem intervenção no financiamento, e cerca de metade limita-se a colocar o comprador em contacto com as entidades financeiras;
  • 84% dos profissionais imobiliários estão envolvidos no financiamento, embora 48% limitem o seu papel a colocar o comprador em contacto com as entidades financeiras;
  • Quase 60% dos profissionais acreditam que o número de clientes vendedores permanecerá estável ou melhorará nos próximos meses, mas apenas 33% espera o mesmo em relação aos clientes compradores;
  • 81% dos profissionais afirmam que o número de agentes nas suas agências permaneceu estável ou aumentou durante o terceiro trimestre de 2023;
  • O nível de otimismo dos profissionais imobiliários em Espanha sobre o futuro do setor a curto e médio prazo é avaliado em 6,5 numa escala de 10.

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Mediação imobiliária: O que está a acontecer em Portugal?

Já não é a primeira vez que recorro a exemplos de países onde trabalho, como Itália, por exemplo, onde os profissionais têm também acesso a inúmeras estatísticas atualizadas e que são normalmente produzidas pelas suas associações ligadas ao setor da mediação.

Assim sendo, e sem dados em Portugal, será difícil afirmar com toda a certeza se a mediação imobiliária está ou não a ganhar quota de mercado. Só fazendo cálculos se pode chegar a algumas conclusões que podem ser falíveis. Um dos indicadores pode ser a faturação das maiores empresas de mediação imobiliária em Portugal, face às transações realizadas no ano transato, sendo que, mesmo assim, terá de se fazer extrapolação.

Mas porque é que este dado é tão importante? Porque é que é importante saber se as pessoas recorrem mais ou menos à mediação?

Existe um fenómeno neurológico muito aplicado em estratégias de marketing, a prova social, que refere que, quando a maioria das pessoas compra ou contrata um serviço, quer dizer que esse serviço é bom e a tendência é para que todos os restantes que ainda não o fizeram, sigam esse caminho de decisão com maior grau de confiança. Não haverá melhor testemunho para estimular o mercado do que referir que 63% das vendas em Espanha foram feitas com a ajuda do serviço de mediação imobiliária. Ainda por cima quando esta informação é dada por uma instituição neutra, e não por uma empresa de mediação, ranking ou agente.

A avaliação e produção destes dados, além de contribuírem para uma maior transparência e ética, ajudam os players da mediação a melhor definir e planear estratégias e ações. Ajudam também à criação de maiores níveis de confiança no consumidor que tenha de decidir se vai comprar, vender ou arrendar através da mediação.

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“O imobiliário é a minha vida e a minha vida é lidar com pessoas.” A viver em Lisboa e a trabalhar em Portugal, Espanha e Itália, Massimo Forte é acima de tudo um apaixonado pela área do imobiliário, um negócio que considera ser de pessoas para pessoas. Com mais de 25 anos de experiência nas maiores empresas de mediação imobiliária, hoje dedica-se a consultoria, formação e partilha de conhecimento como um dos maiores Real Estate Influencers em Portugal.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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