O final de novembro é uma altura favorável para os orçamentos das famílias, com o subsídio de Natal a representar um aumento dos rendimentos, que permitem fazer face ao também agravamento das despesas que é associado a esta época do ano. Para os trabalhadores por conta de outrem que conseguem guardar este rendimento extra, a opção pela poupança é sempre uma decisão acertada.

Um salário extra, só por si, é insuficiente para efetuar uma aplicação significativa e com resultados visíveis. Mas representa sempre uma boa oportunidade para iniciar um investimento no mercado de capitais que potencie uma rendibilidade mais atrativa das poupanças. Uma estratégia que poderá ser reforçada através das economias obtidas nas poupanças mensais, ou rendimentos extra auferidos.

Numa estratégia de longo prazo, que vise acautelar o aumento dos rendimentos no futuro, os fundos de investimento mobiliários são uma opção atrativa. As rendibilidades têm sido favoráveis, as comissões não são elevadas, a fiscalidade é simples e a oferta é muito alargada, existindo uma série de produtos disponíveis nas gestoras de ativos presentes no mercado português, além dos que são distribuídos pelas instituições internacionais no mercado português.

Acresce que o investimento em fundos é bastante fácil, não exige um acompanhamento próximo, pelo que é ideal para quem não tem tempo disponível e conhecimentos profundos sobre o funcionamento do mercado de capitais. Os fundos de investimento mobiliários são geridos por profissionais, que selecionam os ativos (sobretudo ações e obrigações, mas também outros fundos e instrumentos financeiros) que se adequam às características definidas à partida.

Outra vantagem de escolher os fundos para aplicar as poupanças está na possibilidade de selecionar os produtos que se adequam ao perfil de risco do subscritor. Os fundos são classificados numa escala que oscila entre 1 e 7, sendo que o número mais baixo representa uma volatilidade inferior a 0,5% (muito baixa) e o mais alto superior a 25% (muito alta).

Além de analisar as comissões, histórico de desempenho, características e propósito do fundo, é essencial que o subscritor avalie qual o nível de risco associado ao fundo, uma informação que a gestora do fundo tem de divulgar para os diferentes prazos. Se tem uma elevada aversão ao risco e não suporta perdas de capital, é importante que não escolha um fundo com uma classificação superior a 3. Se está disponível para arriscar para beneficiar de rendibilidades potencialmente mais elevadas, então deve escolher um fundo numa classe de risco de 4 ou acima.

Restringindo o universo aos fundos comercializados pelas gestoras de ativos presentes no mercado português e com dados publicados pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), existem 285 produtos disponíveis, divididos por 25 categorias distintas. De seguida são analisadas cinco destas categorias, que contemplam soluções que se adequam aos diferentes perfis de risco.

Alternativa aos depósitos a prazo

Os Fundos de Curto Prazo Euro aplicam a maior parte do capital em títulos de dívida denominados em euros, que têm um risco baixo e prazos de vencimento curtos. São uma boa alternativa aos tradicionais depósitos a prazo e até aos produtos de poupança do Estado, como os Certificados de Aforro.

As rendibilidades destes fundos estão muito ligadas à taxa de juro do Banco Central Europeu, pelo que os retornos são nesta altura mais escassos face ao registado nos últimos três anos. O risco é praticamente nulo, pelo que servem sobretudo para manter o poder de compra do capital aplicado (retornos acima ou alinhados com a inflação).

Os sete fundos desta categoria apresentam um nível de risco entre 1 e 2 (volatilidade inferior a 2%), sendo que as rendibilidades médias são superiores a 2% no prazo a um e três anos, segundo os dados da APFIPP até final de outubro. Os fundos das categorias Mercado Monetário Euro, Obrigações Taxa Indexada Euro e Obrigações Euro apresentam níveis de risco e rendibilidades semelhantes, pelo que também são uma boa opção nos investimentos numa lógica de tesouraria.   

Diversificação máxima adequada ao perfil

Para os investidores que são conservadores, mas estão disponíveis para assumir maior risco em contrapartida de rendibilidades potenciais mais atrativas, existem diversas categorias de fundos adequadas. Os fundos multiativos, como o próprio nome indica, compõem as carteiras com ações e obrigações, apostando na diversificação para baixarem o nível de risco e proporcionarem retornos mais elevados.

Estes fundos têm sido uma opção muito popular entre os investidores portugueses, por representarem uma solução alinhada com uma estratégia cautelosa. Dentro desta gama de fundos, existem os que definem uma abordagem mais conservadora ou agressiva, que se reflete no peso que as ações têm nas carteiras. São cinco as categorias que encaixam neste perfil: Multi-Activos Defensivos, Multi-Activos Moderados, Mistos Multi-Activos Equilibrados, Mistos Multi-Activos Agressivos e Flexíveis.

Os Fundos Mistos Multi-Activos Equilibrados apresentam um retorno bem interessante para o risco associado (nível 4), sendo por isso uma opção adequada para os investidores que se encaixam neste perfil. Registam uma rendibilidade média de 7,3% a um ano e 6,7% a três anos, sendo que o fundo com melhor desempenho entre os oito desta categoria (BPI Universal) consegue uma rendibilidade de 17% nos últimos 12 meses.

Opções variadas e com vantagens fiscais

A categoria dos Fundos de Poupança Reforma também tem a vantagem de apresentar um leque muito alargado de soluções com um variado nível de risco. Existem 90 fundos PPR disponíveis, com uma classe de risco entre 2 e 6, pelo que o investidor pode escolher a opção que melhor se adequa ao seu perfil, beneficiando com as vantagens fiscais que são uma das principais características destes produtos (pode consultar aqui). Poupar para a reforma não tem necessariamente de ser efetuada através destes produtos, mas é uma opção interessante se for esse o propósito. 

O histórico dos fundos PPR não foi nada favorável no passado, com retornos magros para o nível de risco que apresentam. Mas é visível uma melhoria nos últimos anos, com estes produtos a entregarem aos subscritores uma rendibilidade mais atrativa e alinhada com os retornos dos fundos de outras categorias com nível de risco similar.

As rendibilidades médias destes fundos PPR são superiores a 6% nos prazos a um e três anos, embora no espaço temporal a cinco anos o desempenho ainda seja muito modesto (3%). Os fundos mais rentáveis nas classes de risco 4 e 5 registam rendibilidades de dois dígitos nos prazos a um e três anos.

Ações Nacionais com desempenho fantástico

As ações nacionais têm registado um fantástico desempenho nos últimos tempos, gerando retornos muito atrativos aos poucos fundos que ainda se dedicam em exclusivo ao investimento em empresas cotadas na bolsa portuguesa.

Estão ativos apenas quatro Fundos de Ações Nacionais, que apresentam uma rendibilidade média anual de 33,5% no último ano e 17,3% em três anos, em linha com o desempenho do índice português PSI. O desempenho é claramente superior ao das outras categorias de fundos, mesmo as que têm as ações como ativo preponderante, pelo que osFundos de Ações Nacionais foram uma aposta certeira.

Ao contrário da maioria dos índices acionistas europeus, que estão a negociar em máximos históricos, o PSI está no nível mais elevado em 15 anos, tendo ainda um longo caminho a percorrer para superar o pico de 2007 e o recorde de 2000. O retorno dos Fundos de Ações Nacionais estará sempre alinhado com o desempenho do índice português, sendo que os analistas continuam a ver potencial de alta no PSI.

Investir em ações com diversificação

Para os investidores mais arrojados que aplicam as poupanças numa lógica de longo prazo, a opção pelas ações é a mais recomendável, pois estes são os ativos que potenciam os retornos mais elevados. Os fundos de investimento em ações têm a vantagem de oferecer diversificação entre setores, sendo que a categoria Fundos de Ações Globais também permite diversificar em termos geográficos.

Existem sete categorias de fundos de investimento em ações, que se diferenciam sobretudo pela região onde as companhias estão cotadas: Ações Nacionais, Ações Ibéricas, Ações Europeias, Ações da América do Norte e Ações Internacionais. Existe ainda a categoria de Ações Setoriais e depois as Ações Globais, que incluem ações de empresas de todas as regiões.

Os Fundos de Ações Globais têm a flexibilidade de se ajustarem de forma mais fácil aos fluxos de investimento entre mercados, pelo que representam uma opção apetecível para quem pretende exposição às ações. Os quatro que são disponibilizados pelas gestoras portuguesas apresentam um nível de risco entre 5 e 6, sendo que o retorno no último ano (8,7%) está aquém do desempenho de outras categorias similares (rendibilidades de dois dígitos). No horizonte temporal a três anos o retorno médio anual é de 10,7% e no prazo a cinco anos ainda mais favorável (11,1%).

Seja para aplicar o subsídio de Natal, ou qualquer outra fonte de poupança, os fundos de investimento mobiliários são sempre uma opção de investimento a considerar. Depois de selecionar a categoria adequada ao seu perfil de risco e objetivos, terá de escolher o fundo respetivo, ou equilibrar entre vários produtos. O histórico de rendibilidades não deve ser a única característica a analisar e é preciso ter sempre em conta que o desempenho passado não é garantia de retornos semelhantes no futuro. 

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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