banner publicitário

As famílias portuguesas estão a aumentar a capacidade de poupar, mas continuam bastante cautelosas na altura de investir a parte do rendimento disponível que conseguem colocar de lado, privilegiando aplicações com um potencial de rendibilidades limitado. Uma opção que está alinhada com o cariz conservador dos aforradores portugueses.

Embora a aversão ao risco tenha abatido nos últimos anos, está ainda num nível que impede as famílias de tirarem partido do desempenho historicamente favorável de diversos ativos cotados nos mercados, face ao que oferecem os produtos tradicionais sem risco.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao segundo trimestre de 2025, mostram que a taxa de poupança das famílias portuguesas atingiu 12,6% no segundo trimestre, mantendo a tendência de recuperação desde que superou os dois dígitos no início do ano passado. Trata-se de uma taxa mais alinhada com os padrões europeus e que evidencia uma evolução mais favorável dos rendimentos das famílias.

Depósitos sempre em alta

É na altura de decidir o destino do dinheiro que sobra depois das despesas que os portugueses continuam muito pouco eficientes. Por inércia, baixos níveis de literacia financeira ou aversão extrema ao risco, os depósitos bancários continuam a ser a escolha de eleição das famílias, apesar de o retorno desta solução ser cada vez mais diminuto e representar uma perda real do poder de compra (remuneração abaixo da inflação).

Os juros pagos pelos bancos nos depósitos estão a recuar há 20 meses consecutivos, com a taxa média a descer para 1,34% em agosto, menos de metade da taxa de inflação nesse mês (2,8%). Desde que a remuneração dos depósitos atingiu um pico acima de 3% no final de 2023, a taxa de juro já baixou 1,74 pontos percentuais e as perspetivas não são nada favoráveis, uma vez que não se perspetiva uma subida de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) nos próximos tempos.

Apesar do retorno fraco, o volume de depósitos continua a registar uma trajetória ascendente, com recordes mês após mês. Situavam-se, em agosto, próximos dos 200 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 13% em dois anos e 25% em cinco anos.

Assumindo como universo apenas depósitos bancários, certificados de aforro e fundos de investimento, as famílias têm 69% das poupanças paradas no banco. Em linha com o registado há dois anos e abaixo do registado em agosto de 2020, mas a quebra foi feita sobretudo à custa dos certificados de aforro, que duplicaram o peso no espaço de cinco anos para os atuais 13%.

Pouco risco

A evolução dos montantes aplicados em fundos de investimento (mobiliários e imobiliários) tem sido ascendente, com os montantes sob gestão destes produtos financeiros a disparar 35% em dois anos e 88% desde 2020. Superaram em julho a fasquia dos 50 mil milhões de euros, o que representa 18% do universo que agrupa fundos, depósitos e certificados. Há cinco anos estava em 14%.

Apesar desta aparente maior predisposição dos portugueses para escolherem opções de maior risco, quando se analisa a tipologia dos fundos preferidos, continua a ser visível um elevado conservadorismo. Do total aplicado em fundos, apenas 11% diz respeito a fundos de investimento em ações, o que compara com 8% em 2020. Os fundos de obrigações representam quase um quarto do total e os fundos de investimento imobiliário têm um peso superior a um terço.

Investir em ações faz a diferença

Esta estratégia de assumir riscos contidos impede que uma fatia considerável das poupanças dos portugueses esteja exposta à classe de ativos que apresenta melhores resultados. Os dados históricos mostram de forma evidente que as ações são a classe de ativos com os retornos mais elevados no longo prazo, permitindo ao investidor passar ao lado dos normais períodos de forte volatilidade por que passam estes ativos.

As ações mundiais registam uma valorização média anual muito próxima de 10% nos últimos 40 anos. As ações norte-americanas conseguem um retorno médio anual de 12,3% em 50 anos, enquanto as ações alemãs marcam um desempenho um pouco mais baixo, mas ainda muito favorável (8,5%). Há ainda outro dado que evidencia a atratividade das ações. Tendo em conta os dados históricos da bolsa norte-americana, um investimento durante um ano tem uma probabilidade em torno de 25% de gerar prejuízos, a 10 anos baixa para 5% e, num horizonte a 20 anos, é nula.  

Rendibilidades passadas não constituem garantia de rendibilidades futuras, mas o histórico do desempenho das ações mostra que é um desperdício deixar as ações fora do leque de alternativas de investimento. Mesmo que em pequenas proporções, as ações podem fazer toda a diferença no desempenho de uma carteira, sobretudo as que têm um horizonte temporal de longo prazo e beneficiam com o efeito de capitalização.

Um pequeno exemplo mostra que a diferença pode ser enorme. Uma carteira com um investimento inicial de 50 mil euros que seja aplicada em ativos de baixo risco e consiga uma taxa de rendibilidade de 3%, chegará ao fim de 20 anos com um valor total de 90 mil euros. Se a adição de ações a esta carteira conseguir elevar a rendibilidade para 6%, o resultado final sobe para 160 mil euros. Se atingir os 9%, o valor dispara para 280 mil euros.

Estas taxas de rendibilidade são meramente indicativas, mas servem para ilustrar dois dos grandes aliados dos investidores: o tempo e a capitalização. Aplicar as poupanças com um horizonte de longo prazo e reinvestir os rendimentos potencia retornos muito atrativos.

Leia ainda: Investir em ações no longo prazo compensa

Conhecer o perfil de risco

Sendo evidente que ignorar as ações pode trazer dissabores na altura de aplicar as poupanças, o segredo passa por saber qual o peso que este ativo deve ter na sua carteira. Para isso é essencial que o investidor conheça o seu perfil, para avaliar qual o nível de risco que está disposto a tolerar.

Existem várias opções para perceber em que perfil de risco encaixa, desde logo as ferramentas que o seu intermediário financeiro terá de disponibilizar. Pode também recorrer a diversos conteúdos sobre este tema, como este do Todos Contam (Plano Nacional de Formação Financeira), ou este do Doutor Finanças.

Não basta conhecer o seu perfil de risco para conseguir definir da melhor forma qual a composição da carteira de investimento ideal. Tem também de definir qual o objetivo do seu investimento e, sobretudo, qual o horizonte temporal da aplicação. É totalmente diferente investir as poupanças que tem de ter disponíveis dentro de dois anos, ou poupar para a reforma quando está ainda na fase inicial da vida ativa.

Encontrado o seu perfil de investidor, é altura de agir em conformidade. Existem diversas metodologias e classificações para o definir, que por uma questão de simplificação podem ser agrupados em três categorias, detalhadas de seguida.

Conservador, mas com exposição ao risco

Um conservador (ou prudente) não suporta a perspetiva de registar rendibilidades negativas nos seus investimentos, pelo que deve procurar sobretudo produtos de capital garantido e que oferecem retornos alinhados com as taxas de juro de curto prazo. A tolerância ao risco é muito reduzida, pelo que a carteira deste investidor deve ser composta sobretudo por liquidez e obrigações. 

Contudo, não deverá excluir ativos de risco, sobretudo quando o horizonte temporal é alargado. As recomendações dos especialistas, regra geral, apontam para um peso das ações numa carteira conservadora em redor de 20%. Mesmo que estes ativos registem uma forte volatilidade, um investidor conservador continuará tranquilo perante a importância relativamente baixa que as ações têm na carteira. E o retorno potencial das ações pode fazer toda a diferença no resultado final.

No que diz respeito aos ativos de baixo risco que predominam nesta carteira, é um erro crasso concentrar em depósitos a prazo. Os certificados de aforro são uma opção mais atrativa, com a taxa de juro bruta deste produto de poupança de regresso acima de 2%.

Os fundos de investimento são sempre uma escolha acertada, pois existe uma panóplia diversificada de produtos de todas as categorias de risco que estão disponíveis para comercialização em Portugal. Os Fundos do Mercado Monetário Euro e os Fundos de Curto Prazo Euro, que apresentam riscos reduzidos, registam uma rendibilidade anual superior a 2% nos últimos três anos.      

Moderado, mas de olho nas ações

Um investidor moderado ainda tem uma tolerância ao risco contida, mas está disponível para alocar parte da carteira em produtos que não garantem o capital e, por isso, também oferecem perspetivas de retornos mais elevados. O equilíbrio entre segurança e risco reflete-se numa carteira que é dividida entre ações e opções de risco mais reduzido, ou mesmo nulo (capital garantido).

É uma estratégia de diminuição de risco muito utilizada pelos investidores institucionais e que, no mercado, é conhecida pelas carteiras 60/40. O objetivo passa por as ações terem um peso de 60%, enquanto o restante é preenchido com obrigações, aproveitando a habitual trajetória divergente entre estas duas classes de ativos.

As projeções de longo prazo atualizadas recentemente pelo JPMorgan apontam para que as carteiras 60/40 providenciem um retorno médio anual de 6,4% ao longo dos próximos 10-15 anos, refletindo a perspetiva de valorização de 7% para as ações globais e acima de 4% para as diferentes tipologias de obrigações.   

Os investidores particulares que optem por esta estratégia podem optar por um fundo que obedeça a estes critérios. Os Fundos Multi-Activos Moderados registam uma rendibilidade média de 5,5% nos últimos três anos, enquanto os Fundos Mistos Multi-Ativos Equilibrados conseguem um retorno ainda mais atrativo (6,7%).

Uma outra opção passa por equilibrar a carteira através de diversos fundos de níveis de risco diferentes, o que pode ser uma estratégia mais interessante, pois também aumenta a diversificação. A categoria de Fundos de Ações Globais apresenta um retorno médio anual de 10,7% a três anos (9,2% a cinco anos), enquanto os Fundos de Obrigações Internacional rendem 3,8% a três anos e 0,1% a cinco anos.

Agressivo, ideal para prazos longos

O investidor agressivo, ou arrojado, está no topo da tolerância ao risco e efetua investimentos de curto prazo com o objetivo de atingir retornos elevados, apesar de também estar exposto a perdas acentuadas. Num horizonte de longo prazo, a carteira deste investidor é composta sobretudo por ações e ativos com nível de risco semelhante ou superior.

Mesmo este investidor que está confortável com períodos de rendibilidades negativas não deve colocar todo o capital em ações, sendo aconselhável que uma parcela fique em produtos de risco reduzido, ou mesmo nulo. Os especialistas recomendam um peso para as ações em redor de 80%, com o restante a ser aplicado em obrigações e/ou liquidez (depósitos).

Esta estratégia é sobretudo adequada para carteiras de muito longo prazo, acima de 10 anos, em que a probabilidade de as ações gerarem perdas é muito mais baixa. O investidor pode aplicar diretamente em ações, subscrever fundos de investimento de ações, ou um misto das duas opções.

Refletindo a fase favorável que vivem as bolsas globais nos últimos anos, os fundos de ações em Portugal apresentam retornos atrativos. Os Fundos de Ações Nacionais apresentam uma rendibilidade média anual a três e cinco anos acima de 18%, enquanto os Fundos de Ações Europeias (14,4%) e os Fundos de Ações da América do Norte (13,7%) também estão nos dois dígitos.

Diversificar os investimentos é um fator chave para todas as estratégias, quer sejam conservadoras ou agressivas. O risco de uma carteira composta por ações (ou fundos de ações) de diferentes setores e geografias, conjugada com ativos de outras classes (obrigações, matérias-primas, liquidez, etc.) é substancialmente inferior. E mantém o potencial de oferecer retornos atrativos.

Leia ainda: Os rácios que deve conhecer para investir em Bolsa

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Autores ConvidadosFinanças pessoaisInvestimentosPoupança