Contra o que era esperado pelo mercado e pelos analistas, o dólar afundou quase 9% face ao euro desde o início do ano, um movimento de quebra que se repete em comparação com outras moedas do mundo desenvolvido, como o franco suíço ou o iene.
No centro do furação está a política tarifária da nova administração dos EUA, liderada pelo presidente Donald Trump. Perante a imposição de tarifas – que pode vir a abrandar o crescimento económico e fazer subir a inflação nos EUA – os investidores decidiram prevenir-se e começar a vender dólares.
Este movimento negativo da divisa norte-americana contrasta com o que era esperado pelos especialistas no arranque do ano. O Goldman Sachs, um dos nomes sonantes da banca de investimento nos EUA, é um exemplo das casas de investimento que apontavam para a derrapagem da moeda única este ano.
“Esperamos que o dólar suba cerca de 5% este ano com a implementação de novas tarifas alfandegárias e um desempenho superior contínuo dos EUA”, escreve a equipa de analistas da instituição, liderados por Kamakshya Trivedi, numa nota de research citada pelo Negócios. Afinal, a nota verde – como também é conhecida a divisa dos EUA – acabou por ceder.
O impacto da desvalorização de uma moeda tem sempre de ser avaliado em comparação com outra, neste caso o euro. Isto significa, que para quem detém esta moeda, quando o dólar cai face ao euro, os portadores da moeda única podem acabar por ganhar mais poder de compra.
Este impacto pode ser direto – na medida em que pode afetar, de imediato, a sua carteira – ou mais indireto – através da evolução da economia do país onde vive e das consequências deste crescimento (ou abrandamento) nas suas condições de vida.
O exemplo mais prático são as férias. Viajar para os EUA ou outro país onde o dólar seja a moeda dominante ficará mais barato para quem viva na Europa, já que vai custar menos trocar euros por dólares.
Por outro lado, este não é um efeito líquido, já que – como referimos acima – caso a imposição de tarifas acabe por fazer subir os preços nos EUA, o impacto da desvalorização da moeda pode diluir-se no fenómeno da inflação.
Esta lógica aplica-se ainda a produtos que compre em Portugal, mas que venham dos EUA. Em teoria, estes bens acabarão por ficar mais baratos, mas se os preços das matérias-primas subirem, pode acabar por haver um efeito de compensação e não se sentir uma verdadeira queda nos preços destes produtos.
Segundo os dados mais recentes, o que Portugal mais importa dos EUA são combustíveis minerais (56,4% em 2023), máquinas e aparelhos (8,4%), e produtos agrícolas (7,7%).
Gasolina e gasóleo podem ficar mais baratos
A fatura a pagar por abastecer gasóleo e gasolina é influenciada pela cotação destes produtos refinados no mercado internacional, cujo preço está amplamente ligado ao desempenho do petróleo, denominado em dólares.
Também a própria taxa de câmbio entre euro e dólar acaba por pesar no preço final pago pelo consumidor nas bombas de gasolina, que, com um dólar mais fraco, será muito provavelmente mais baixo.
No entanto, mais uma vez, este não é um efeito direto, pelo que o enfraquecimento do dólar pode vir a ser compensado por outros fatores que levem a uma subida dos preços dos combustíveis. Isto pode explicar o aumento dos preços praticados sobre gasolina e gasóleo nas últimas semanas nos postos de abastecimento em Portugal.
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Ouro beneficiado pela queda do dólar
Assim como acontece com o preço do crude, um dólar mais barato torna o ouro – cujo preço é denominado na divisa norte-americana – mais atrativo para quem negoceia com outras moedas, como o euro.
Este fator tem-se refletido no desempenho do metal amarelo, que não só superou a fasquia dos três mil dólares por onça, como tem batido novos recordes. Além disso, o ouro tem beneficiado do seu estatuto de ativo-refúgio, numa época de incerteza a nível global, depois da guerra comercial desencadeada pela Casa Branca.
“A força do euro e, por conseguinte, a fraqueza do dólar norte-americano foi, mais uma vez, um fator determinante para o desempenho do ouro, a par de um aumento do risco geopolítico que capta os receios relativos à imposição de tarifas”, considera o Conselho Mundial do Ouro, no relatório mensal dedicado à performance do metal amarelo em março.
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