Uma calculadora e lupa sobre uma folha com gráficos

Entrar no mundo dos investimentos pode ser intimidante. As dúvidas multiplicam-se, as opções parecem infinitas e os riscos assustam. Mas há instrumentos financeiros que permitem começar de forma simples, diversificada e com custos baixos. Exemplo disso são os ETF.

Neste artigo, saiba o que é um ETF, como funciona e quais os passos necessários para investir pela primeira vez. Da abertura de conta à colocação da primeira ordem, conheça todas as etapas que qualquer investidor iniciante deve seguir e, acima de tudo, o que deve evitar para não cometer erros de principiante.

ETF: O que são e porque atraem tantos investidores

Um ETF (Exchange Traded Fund) é um fundo de investimento negociado em bolsa que replica o desempenho de um cabaz de ativos. Pode ser um índice de ações, como o Standard & Poor’s 500 (S&P 500), um conjunto de obrigações, matérias-primas ou até criptomoedas. Ao comprar uma unidade de ETF, o investidor está, na prática, a comprar pequenas frações de todos os ativos incluídos nesse fundo.

A grande vantagem é a diversificação. Seria quase impossível comprar individualmente as 500 empresas que fazem parte do S&P 500. Mas, através de um único ETF, esse investimento torna-se acessível. Além disso, como a gestão é passiva, as comissões são mais baixas do que nos fundos de gestão ativa.

Outro fator de atração é a flexibilidade. Tal como uma ação, um ETF pode ser comprado ou vendido em tempo real, durante o horário de funcionamento das bolsas. Isto significa que o investidor não precisa de esperar pelo fecho do mercado para conhecer o preço de compra ou venda, como acontece com os fundos tradicionais.

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O que significa NAV e tracking error?

Embora este tipo de linguagem possa parecer confuso, perceber o seu significado é mais fácil com algum enquadramento. Quando falamos em ETF, deve saber que as gestoras destes fundos compram e vendem os ativos necessários para garantir que o ETF acompanha o índice ou cabaz que pretende replicar. Ao mesmo tempo, os investidores negociam unidades do fundo em bolsa, tal como fariam com ações. O resultado destas operações em paralelo define o valor líquido do fundo, conhecido como NAV (Net Asset Value).

Quanto ao tracking error, é no fundo uma métrica que mostra quão próximo está o desempenho do ETF em relação ao ativo ou índice que replica. Quanto mais baixo for, mais fiel é a réplica. Na prática, quanto mais eficiente for o fundo, menor é a diferença entre o comportamento do ETF e o do mercado que segue.

Diversificação sem complicações

O princípio da diversificação é essencial em qualquer investimento. A lógica é simples: não colocar todos os ovos no mesmo cesto. Um ETF cumpre este objetivo de forma imediata.

Por exemplo, ao comprar um ETF que replica o MSCI World, o investidor passa a ter exposição a mais de 1.500 empresas em mercados desenvolvidos de todo o mundo. Com uma única ordem, o investidor dispersa o risco por várias geografias e setores.

Mas a diversificação também pode ser temática. Existem ETF que replicam apenas o setor tecnológico, outros ligados à saúde, à energia renovável ou até ao mercado imobiliário. Há opções globais, regionais ou altamente especializadas. A escolha depende sempre da estratégia do investidor e do seu perfil de risco.

Custos e taxas: Pequenos números, mas um grande impacto

Ao analisar um ETF, é inevitável falar de custos. O mais importante é a TER (Total Expense Ratio), que representa a percentagem anual cobrada pela gestão do fundo. Pode parecer pouco, mas faz toda a diferença no longo prazo.

Se investir 10 mil euros num ETF com TER de 0,2%, pagará 20 euros por ano. Se a TER for de 0,8%, o custo sobe para 80 euros. A diferença parece mínima, mas multiplicada por 20 anos pode significar milhares de euros a menos no bolso do investidor.

Além da TER, há outros custos a considerar:

  • Comissões de corretagem: cobradas na compra e venda de ETF;
  • Custos de câmbio: se o ETF estiver cotado numa moeda diferente do euro;
  • Comissão de custódia: cobrada por algumas entidades para manter os títulos em carteira.

Saber antecipar estes custos é crucial para não ver a rentabilidade ser corroída ao longo do tempo.

Acumulação ou distribuição: A escolha dos dividendos

Muitos ETF incluem ações de empresas que distribuem dividendos. Mas a forma como esses dividendos são tratados varia.

  • ETF de acumulação: reinvestem automaticamente os dividendos nos ativos do fundo. Isto permite potenciar o efeito dos juros compostos, sendo ideal para quem pensa a longo prazo.
  • ETF de distribuição: pagam diretamente os dividendos ao investidor. São uma escolha comum para quem procura rendimentos periódicos e previsíveis.

Saber distinguir entre os dois é fundamental, porque influencia o fluxo de rendimentos e até o enquadramento fiscal.

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Abrir conta: O primeiro passo inevitável

Comprar um ETF requer uma conta de investimento numa corretora ou banco com acesso a mercados internacionais. O processo é simples, mas exige alguns cuidados.

É necessário fornecer dados pessoais, como nome, morada e NIF, bem como documentos de identificação e prova de residência. É ainda habitual responder a um questionário de adequação, para avaliar o perfil de risco.

Depois de aprovada a conta, basta transferir o montante que se pretende investir. Só então é possível avançar para a pesquisa e seleção do ETF.

Como escolher o ETF certo

A oferta é imensa e pode ser esmagadora. Por isso, antes de investir, é essencial definir objetivos claros. Está a poupar para a reforma? Pretende diversificar a sua carteira? Ou procura apenas um primeiro contacto com os mercados?

Alguns critérios a analisar:

  • Índice replicado: ações, obrigações, matérias-primas ou misto.
  • Liquidez: quanto mais transacionado for o ETF, mais fácil será vender quando necessário.
  • Moeda de cotação: pode implicar risco cambial.
  • Histórico: não garante rendibilidades futuras, mas ajuda a avaliar consistência.
  • Volume do fundo: fundos maiores tendem a ser mais estáveis e menos sujeitos a liquidação.

Um erro comum dos iniciantes é escolher os ETF apenas pela rentabilidade recente. Esse critério pode ser uma armadilha perigosa para o investidor iniciante. O mais importante é alinhar a escolha com o horizonte temporal e o seu perfil de investidor.

Leia ainda: O que considerar na hora de escolher um ETF?

Colocar a primeira ordem

Chegado o momento da compra, o investidor terá de procurar o ticker do ETF, o código que o identifica em bolsa. Depois, basta introduzir o número de unidades a comprar e escolher o tipo de ordem:

  • Ordem de mercado: executada de imediato ao preço disponível.
  • Ordem limitada: só é executada se o preço atingir o valor definido pelo investidor.

Ambas têm vantagens. A ordem de mercado garante execução rápida, mas pode sofrer pequenas variações no preço. A ordem limitada dá mais controlo, mas pode não ser concretizada se o preço não atingir o limite estipulado.

Tributação em Portugal de um ETF

Em Portugal, as mais-valias obtidas com ETF são, em regra, tributadas a uma taxa liberatória de 28%. O investidor pode optar pelo englobamento no IRS, mas essa escolha só compensa em alguns casos, dependendo dos restantes rendimentos.

Importa ainda considerar os dividendos. Nos ETF de distribuição, estes são tributados no momento em que são pagos. Já nos de acumulação, o impacto fiscal só surge no momento da venda, quando se apura a mais-valia.

Regra geral, todos os movimentos têm de ser declarados à Autoridade Tributária. Ignorar este detalhe pode trazer problemas futuros com a AT.

Leia ainda: Ações, ETF e Fundos de investimento: mais-valias em IRS

Os erros mais comuns dos iniciantes

Quem investe pela primeira vez em ETF costuma cometer alguns erros que podem sair caros:

  1. Falta de diversificação: escolher apenas um ETF, muitas vezes concentrado num setor ou país.
  2. Ignorar custos: não considerar a TER, as comissões ou as taxas cambiais.
  3. Investir sem objetivos: comprar porque “está na moda” e não porque se ajusta ao plano financeiro.
  4. Negligenciar a liquidez: apostar em ETF pouco transacionados, difíceis de vender em momentos críticos.
  5. Curto prazo: esperar ganhos imediatos e vender ao primeiro sinal de volatilidade.

Evitar estes erros é meio caminho para construir uma carteira sólida e rentável a longo prazo.

ETF vs. ações e fundos tradicionais

Comparar ETF com ações ou fundos tradicionais ajuda a perceber o seu lugar no mercado.

  • Versus ações: um ETF oferece diversificação imediata, enquanto investir numa única empresa concentra o risco.
  • Versus fundos ativos: os custos dos ETF são mais baixos, mas dificilmente batem consistentemente o mercado, ao contrário de alguns fundos tradicionais.

Na prática, muitos investidores combinam diferentes produtos para equilibrar risco, retorno e flexibilidade.

O futuro dos ETF

Os ETF têm ganho peso no mundo inteiro. Em 2024, captaram um valor recorde de 1,5 biliões de dólares, segundo a DBRS Morningstar. O crescimento não mostra sinais de abrandar.

Novos produtos surgem constantemente: ETF temáticos ligados à inteligência artificial, à energia limpa ou até a criptomoedas. Também existem ETF alavancados e inversos, que aumentam o risco, mas oferecem estratégias mais arrojadas.

O essencial é manter o foco no princípio básico: um ETF deve ser um instrumento para diversificar e proteger, e não um veículo para especular sem critério.

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Comece com segurança e conhecimento

Investir no primeiro ETF é uma decisão marcante para qualquer iniciante. O processo exige abrir uma conta, analisar opções, escolher o fundo adequado e colocar a primeira ordem. Mas, acima de tudo, requer conhecimento e disciplina.

Os ETF oferecem simplicidade, diversificação e custos reduzidos. Porém, não eliminam o risco. Tal como em qualquer investimento, é fundamental perceber no que se está a investir, definir objetivos claros e resistir à tentação de seguir apenas as modas do mercado.

Com a informação certa e uma estratégia bem definida, os ETF podem ser a porta de entrada ideal para o mundo dos investimentos — um primeiro passo sólido rumo a uma carteira equilibrada e a um crescimento financeiro sustentável.

Leia ainda: O que deve ter em conta antes de começar a investir

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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