O turismo sustentável está a ganhar cada vez mais destaque em Portugal e no mundo. Já não se trata apenas de uma tendência, mas de uma resposta urgente aos desafios ambientais, sociais e económicos que afetam o setor do turismo. Para muitos viajantes, a escolha do destino e da forma de viajar já é feita com base em critérios de responsabilidade ambiental e apoio às comunidades locais.
Em Portugal, a mudança de paradigma já é evidente. Vários municípios foram reconhecidos internacionalmente pelas suas boas práticas, entrando no ranking dos 100 destinos mais sustentáveis do mundo.
Neste artigo, explicamos o que está por trás do conceito de turismo sustentável, como pode ser colocado em prática, que zonas do país já se destacam e quais são os benefícios para quem viaja e para quem recebe.
O que é, afinal, o turismo sustentável?
Viajar de forma sustentável é, no fundo, optar por um turismo que respeita os ecossistemas, valoriza as comunidades locais e gera impacto positivo, duradouro e equilibrado. A definição foi formalizada pela Organização Mundial do Turismo (OMT), mas as bases foram lançadas décadas antes, com o Relatório Brundtland, em 1987.
Desde então, o conceito foi reforçado por documentos como a Carta de Turismo Sustentável (1995), a Declaração da Cidade do Cabo (2002) e, mais recentemente, pela integração do turismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.
Mais do que uma teoria, viajar de forma sustentável significa tomar decisões conscientes em todas as etapas da viagem. Ou seja, desde a escolha do destino até ao transporte, alojamento, alimentação e interação com as comunidades locais.
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Porque é tão importante escolher viajar de forma sustentável?
Os benefícios são visíveis a várias escalas. Para o ambiente, ajuda a preservar paisagens naturais e habitats frágeis. Quando a pressão turística é bem gerida, florestas, praias ou parques naturais sofrem menos impactos negativos.
Para as economias locais, o turismo sustentável é uma fonte direta de rendimentos. Ao privilegiar produtos regionais, artesanato tradicional e alojamentos familiares, o dinheiro circula dentro da comunidade, gerando valor real e reduzindo a dependência de grandes cadeias internacionais. Além disso, o visitante está a reduzir a sua pegada ecológica.
E, para quem viaja, a recompensa está na autenticidade. Viver tradições locais, saborear a gastronomia típica e conhecer o destino longe das multidões torna a experiência mais rica, mais memorável e, muitas vezes, mais transformadora.
Como ser um turista sustentável?
Ser um turista sustentável é mais simples do que parece. O primeiro passo é escolher destinos que adotem práticas sustentáveis, preferindo regiões com certificações reconhecidas, como as concedidas pelo Global Sustainable Tourism Council (GSTC).
Depois, há decisões práticas com impacto real: evitar voos sempre que possível, dar preferência a comboios ou autocarros, viajar fora da época alta, reduzir o uso de plásticos descartáveis, respeitar as tradições locais e não participar em atividades prejudiciais à fauna ou flora.
Além disso, simples gestos como recolher o próprio lixo ou optar por restaurantes que servem produtos locais fazem a diferença. Ser um turista sustentável não exige perfeição, mas sim compromisso.
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Normas e certificações: Selos que fazem a diferença
O crescimento do turismo sustentável levou à criação de várias normas e certificações que ajudam os destinos e operadores turísticos a adotarem boas práticas. Uma das mais relevantes é a Carta Europeia de Turismo Sustentável em Áreas Protegidas, promovida pela Federação EUROPARC.
Esta carta define uma estratégia comum para compatibilizar o desenvolvimento turístico com a preservação do património natural e cultural. Em Portugal, destacam-se áreas como o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque Natural de Montesinho, o Parque Natural do Alvão e o Parque Natural da Serra de São Mamede, que já obtiveram esta certificação.
Outra referência internacional é o Global Sustainable Tourism Council (GSTC). O GSTC define critérios globais para destinos e operadores turísticos, e conta com o envolvimento direto de Portugal desde 2020.
Estes mecanismos não servem apenas para premiar, mas também para orientar estratégias e consolidar políticas sustentáveis.
Destinos portugueses entre os mais sustentáveis do mundo
Portugal tem sido reconhecido internacionalmente como destino sustentável. Em 2024, várias localidades nacionais foram incluídas na lista dos Top 100 Sustainable Destinations, promovida pela Green Destinations, uma organização que distingue boas práticas de turismo em todo o mundo.
Entre os destinos portugueses premiados destacam-se:
- Alto do Minho;
- Ponte de Lima;
- Montalegre;
- Celorico de Basto;
- Amarante;
- Matosinhos;
- Arouca;
- Águeda;
- Sintra;
- Loulé;
- E os Açores.
Mas há mais. O Alto Minho, Braga, Cascais e as Serras do Socorro e Archeira receberam o Green Destinations Award – Platinum, a mais alta distinção. Arouca conquistou ouro, Amarante e Águeda receberam prata e Resende arrecadou o bronze.
Quanto ao prémio “QualityCoast”, distinguem-se as seguintes zonas: Matosinhos, Nazaré, Torres Vedras, Sintra e Lagos (com ouro).
Estes prémios representam mais do que reconhecimento. São prova de que o caminho para um turismo mais equilibrado está a ser trilhado com seriedade.
As vantagens do turismo sustentável para os destinos e para os negócios
O turismo sustentável não beneficia apenas os visitantes. Adotar práticas sustentáveis traz ganhos claros para os territórios. Permite preservar o património natural e cultural, atrair visitantes com maior consciência ambiental e garantir rendimentos de forma duradoura. Desta forma, é possível reduzir os efeitos negativos do turismo de massas.
As empresas do setor que apostam neste modelo ganham diferenciação e fidelização. Além disso, estão mais bem posicionadas para captar um tipo de turista que valoriza a ética e a responsabilidade nas suas escolhas.
Destinos que integram redes sustentáveis internacionais, como a Carta Europeia, beneficiam ainda de maior visibilidade e apoio técnico. A sustentabilidade é, cada vez mais, uma vantagem competitiva, e não apenas uma exigência moral.
A estratégia nacional para um turismo sustentável
Portugal tem reforçado o seu compromisso com o turismo sustentável. A Estratégia Turismo 2027 foi o primeiro passo. Mais recentemente, a Estratégia Turismo 2035 e o Plano Turismo +Sustentável 25-30 definem metas claras nas áreas da economia circular, da neutralidade carbónica e da digitalização do setor.
Ao nível europeu, o Pacto Ecológico Europeu coloca o turismo no centro das estratégias de transição verde. A articulação entre políticas nacionais e comunitárias é vista como essencial para um futuro onde o crescimento turístico não implique o esgotamento dos recursos.
Mas para que estas metas saiam do papel, é preciso o envolvimento de todos: do Estado às autarquias, das empresas aos viajantes.
O turismo do futuro: Mais justo, mais verde, mais consciente
O turismo sustentável é, hoje, mais do que uma opção responsável. É uma necessidade. Numa altura em que as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e as desigualdades sociais marcam a atualidade, viajar de forma sustentável deixou de ser um luxo.
Portugal tem mostrado que é possível crescer, inovar e atrair visitantes sem comprometer aquilo que o torna único. A mudança está em marcha. E cada um de nós tem nas mãos a escolha de que tipo de viajante quer ser.
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