Percebemos muitas vezes em consulta que a relação conjugal de muitos pais é nula, quase inexistente, ou pelo menos, muito pouco cuidada. E se há pais em que isso é presságio de uma separação, há outros que claramente desejam mais tempo a sós e simplesmente não sabem como o fazer.

Estamos numa era exigente no que diz respeito à parentalidade: os miúdos já não brincam sozinhos na rua, raramente vão para a escola a pé e precisam de acompanhamento constante. Os pais e mães são também administradores, cozinheiros, gestores de conflitos, assistentes pessoais, motoristas e tantas outras profissões num só papel. Na correria do quotidiano, deixamo-nos levar pelo piloto automático, e muitas vezes a prioridade passa, de facto, a ser os filhos. O problema é que, no caso de existir uma relação conjugal, o bem-estar desta é fundamental para um bom exercício da parentalidade. Quando tal não está a acontecer, a primeira análise a fazer poderá ser se, de facto, a relação, se bem regada, vos preenche. Há muitos pais que têm medo de uma separação, e apesar de estar estudada como um dos grandes desafios da vida, tanto para adultos como para crianças, a verdade é que a maioria das pessoas consegue ultrapassar um divórcio e voltar a viver uma vida feliz e preenchida. É mais danoso em termos emocionais (para todos!), manter uma relação que já não o é. Para quem quer fortalecer a sua relação, abaixo ficam algumas estratégias.

Estabelecer horários para o casal

Quando pensa no seu horário semanal, quanto tempo tem alocado à relação conjugal? A verdade é que esta não costuma ser uma prioridade da família, com as logísticas a passarem à frente. É mesmo importante que possam estabelecer horários específicos para “namorar”, mesmo que não o façam todas as semanas. Vale tudo: jantar, ir ao cinema ou simplesmente fazer uma sesta. Além destes “pequenos grandes” momentos, é positivo tentarem marcar alguns dias de férias, ou apenas uma noite, para estarem sozinhos e sem preocupações, focando-se apenas um no outro. Outra forma de promover o tempo de casal junto é pensar em atividades que, para vocês, são “obrigatórias”. Por exemplo, se fazem desporto, pode ser uma boa ideia irem ao ginásio ou mesmo tempo ou marcarem aulas conjuntas. Sabemos que para a maioria das famílias isto não será possível, mas esta reflexão convida a adaptarmos estratégias à realidade de cada família.

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Usar rede de apoio

Infelizmente, nem toda a gente consegue ter acesso a rede de apoio. Quem não tem este suporte, pode discutir com o/a parceiro/a se seria viável recorrer a rede externa (ex. babysitter). Se têm rede de apoio, usem-na! Grande parte das famílias tem muito gosto em ajudar e apreciam umas horas com os mais pequenos. A verdade é que apenas duas horas já podem fazer uma grande diferença no nosso humor e, consequentemente, ter um impacto positivo na relação com os nossos filhos.

Manter a chama acesa nas pequenas coisas

Especialmente para pais que não conseguem tempo para fazer planos sozinhos tantas vezes quanto gostavam, é importante que mostrem um ao outro que a relação é importante, recorrentemente. Isto pode surgir nas pequenas coisas do quotidiano, como dar um abraço inesperado, trazer a guloseima preferida do supermercado ou simplesmente dizer algo atencioso. Esta é capaz de ser das estratégias mais importantes para todos, pois é raro o casal com filhos que não sinta falta do parceiro na correria do dia-a-dia. Termos pequenos gestos para com o outro, adequados ao que conseguimos disponibilizar e ao que sabemos que é importante para si, pode muitas vezes ser uma boia de salvação e manter a relação saudável, mesmo nos tempos mais difíceis.

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Comunicar

Muitos dos conflitos conjugais (e não só), surgem de dificuldades em ter uma comunicação assertiva e efetiva. Vivemos muitas vezes na esperança e ilusão de que o outro vai adivinhar a forma como nos sentimos e aquilo de que precisamos. No entanto, na maioria das vezes, isso não acontece e não tem de acontecer. Todos gostamos e merecemos ser cuidados, mas é nosso trabalho mostrar aos outros aquilo de que precisamos para que nos consigamos sentir melhor connosco mesmos e em relação. Assim sendo, não tenha medo de dizer aquilo que precisa ao seu parceiro. Seja uma pausa, que adiante o jantar e até mesmo (se calhar até diria, principalmente), necessidades afetivas, como um abraço ou um beijinho. Pedir ajuda ao outro é cuidar de nós e da relação.

Não comparar com outros casais

Atualmente, é muito fácil compararmo-nos aos outros, principalmente desde que podemos ver diariamente aquilo que (aparentemente) acontece na vida dos outros. É muito fácil sentir que estamos a falhar constantemente quando vemos outros pais a fazer muitas atividades com os filhos, a seguir as tendências parentais mais recentes e, supostamente, ideais. Como é que conseguiram ir de férias só os dois? Como é que vão a todas as festas da escola? Primeiramente, é importante perceber que nem tudo o que está nas redes sociais é real, não sabemos de facto o que está por trás daquelas férias e daquelas festas. Não sabemos do que alguém teve de abdicar nem que apoio essas pessoas têm na sua vida. É por isso que não me canso de dizer que as estratégias aqui apresentadas devem ser adaptadas à realidade de cada um, sob pena de termos as nossas expectativas frustradas.

Definir prioridades como casal

Na azáfama do quotidiano, há muitas tarefas a fazer. Damos por nós recorrentemente assoberbados, sem saber por onde começar nem quando vai terminar. Há coisas que não podem ficar por fazer, mas fica uma pergunta: será que é mesmo preciso fazer naquele momento, ou pode esperar até ao dia seguinte? Se a atrasarmos um pouco, tem muito impacto na dinâmica familiar? Será que conseguimos usar esse momento para estarmos connosco mesmos ou com o nosso parceiro? Conversemos sobre isso e conseguiremos adaptar algumas rotinas à nossa necessidade de proximidade.

Não nos esqueçamos: cuidar da família não é só cuidar dos filhos, é cuidar de nós mesmos e do casal.

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