A chegada do Dia dos Namorado é um bom convite a refletirmos sobre a sexualidade… é comum que os pais tenham dúvidas em relação a como navegar este tema com filhos adolescentes, que cada vez mais cedo têm acesso a conteúdo que o seu cérebro não tem capacidade para processar. A boa notícia é que, com mais informação, temos maior oportunidade de lidar de forma tranquila e informada com o tema.
Primeiramente, é importante que saibamos que a sexualidade não está meramente ligada ao sexo. É um conceito muito mais abrangente que envolve prazer, carinho, gestos, comunicação, intimidade, valores, aprendizagem, tomadas de decisão, relacionamentos… e não apenas de cariz romântico e/ou sexual.
Assim, a sexualidade está naturalmente presente em todos nós desde o momento em que estamos na barriga da nossa mãe. Não no sentido sexual, mas no sentido afetivo. Na adolescência, com a libertação das hormonas sexuais, a sexualidade começa inevitavelmente a envolver a procura de ato sexual. E é aqui que muitas vezes, o nosso medo enquanto pais, cresce.
É importante que desde cedo eduquemos as nossas crianças para a sexualidade: quais são os órgãos do nosso corpo e qual a sua função (adequando a linguagem à idade da criança), ensinar quem pode ver e tocar no seu corpo e porquê (ex. pais para ajudar a tomar banho e vestir; médico para tratar), deixando bem claro quais os limites que têm de ser respeitados de si para os outros e vice-versa.
Abertura a falar deste tema promove maior confiança da criança em si mesma, nos seus cuidadores e aumenta a probabilidade da criança conseguir identificar comportamentos inapropriados e pedir ajuda, se alguma vez se revelar necessário.
Algo a deixar claro neste Dia dos Namorados é: crianças não namoram. Não devemos promover esse tipo de discurso, embora saibamos que é natural e saudável que as crianças brinquem com o tema, mimetizando os adultos. É importante estabelecer limites no que diz respeito a este tema, não questionando a criança sobre namorados, por exemplo. Quando uma criança nos diz que tem um/a namorado/a, é importante que salientemos que só os crescidos é que namoram e que as crianças têm sim, amizades muito fortes! Assim, no Dia dos Namorados, podemos convidar a criança a que faça um presente para um familiar, amigo ou até animal de estimação, pois o amor existe em muitas formas.
Mas isto começa a mudar na adolescência: a procura de toque a si mesmo/a e em relação aos outros, aumenta naturalmente. A curiosidade é agora ainda mais aguçada. Esta é a fase em que é importante explicar com maior detalhe o que é a sexualidade e agora sim, o sexo. O conhecimento será a maior arma de proteção dos nossos jovens.
Por vezes caímos no erro de considerar que se o adolescente não estiver informado, não irá envolver-se em comportamentos de cariz sexual. Não é verdade e se for, não é desejável. O desenvolvimento da sexualidade é algo natural e saudável e suprimir estes impulsos pode levar a sérios problemas no desenvolvimento de relações afetivas no futuro.
Isto não quer dizer que o adolescente pode fazer o que quiser e quando quiser: tem de aprender quais os limites da sua sexualidade. O primeiro passo é ir auscultando a curiosidade do jovem: aquilo que sabe, o que não sabe, que dúvidas tem… antes de respondermos a qualquer pergunta, é fundamental que saibamos o que o adolescente pensa sobre a sua própria pergunta. Assim, não caímos no erro de responder a informação não solicitada e que o jovem pode não estar ainda pronto a receber.
Há temas dentro da sexualidade que têm vindo a ser amplamente abordados: os riscos da gravidez na adolescência, os métodos contracetivos existentes e as doenças sexualmente transmissíveis. São sim, temas fundamentais a ser abordados. No entanto, é atualmente muito claro que não podem ser os únicos temas a ter em mente ao falar de sexualidade.
Sendo a sexualidade um conceito que não se foca apenas no sexo, mas também na qualidade das relações e dos afetos, há conceitos fulcrais a abordar: o conhecimento sobre o seu próprio corpo; a capacidade de impor limites aos outros; o consentimento; a diferença entre uma relação de amizade e amorosa; a pornografia e outros tantos que vão surgir naturalmente. Só é possível viver uma sexualidade saudável se estivermos informados e confortáveis.
É possível conversar sobre estes temas de forma natural com situações do quotidiano e através de filmes e séries. No que diz respeito à pornografia, é nossa função enquanto pais bloquear o acesso a tais sites, embora saibamos que inevitavelmente irão algum dia ter acesso. Explicar que muito do que irão ver não é real, é fundamental.
É absolutamente essencial ouvir o que o jovem tem a dizer, não gozar com as suas dúvidas e opiniões e manter uma postura aberta. Se não soubermos a resposta a alguma pergunta ou se ficarmos atrapalhados, é importante sermos honestos, dizendo que naquele momento não sabemos responder e que quando soubermos, iremos partilhar.
É saudável que um adolescente não queira conversar sobre tudo com os pais, mas é também fulcral que sinta sempre que são as pessoas com quem pode ir ter para obter informações fidedignas. Pode chegar uma altura em que o mais apropriado é marcar uma consulta de aconselhamento familiar onde o adolescente pode expor todas as suas questões sem ter os pais perto de si. Existem atualmente muitas opções de livros no mercado, publicados por profissionais de saúde que podem guiar os adultos, crianças e adolescentes nesta jornada – é importante que a leitura destes livros seja, com respeito, monitorizada pelo adulto para que possa acolher o jovem nas suas dúvidas.
A sexualidade é um tema que suscita muitas dúvidas e inquietações em nós enquanto pais e nem sempre vamos saber como agir. Devemos procurar informação (sempre fidedigna!) e procurar ajuda se nos sentimos perdidos. Se algo nos inquieta verdadeiramente, o mais prudente é procurar ajuda de um profissional de ajuda que consiga compreender se o que está a acontecer é saudável ou não e se é preciso intervenção.
A informação, empatia e escuta ativa são as chaves para ajudarmos os nossos jovens a navegar a sexualidade de forma saudável. Não tenhamos medo de conversar sobre o tema!
Psicóloga Clínica (C.P. 26342) de crianças e adolescentes no Instituto Belong. Experiência na dinamização de cursos de preparação para a natalidade e parentalidade. Membro fundador e dinamizador do Socializa.T, programa de promoção de competências sócio emocionais em crianças e adolescentes. A frequentar a Especialização Avançada em Psicoterapia no ISPA.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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