As épocas de resultados são esperadas com grande ansiedade por parte dos investidores. Em função de indicadores que as empresas vão dando ao longo dos meses, os investidores criam expectativas em torno dos resultados que cada uma das empresas pode apresentar. A maior parte das vezes estes resultados têm por base as indicações dos analistas dos bancos de investimento. Pelo peso que têm nos respetivos índices, empresas como a Apple, Meta, Microsoft, Nvidia, Amazon ou Alphabet acabam por ter um impacto superior e têm muita influência no sentimento dos investidores face ao futuro próximo.

Quais os dados principais

O foco dos investidores está na apresentação da evolução das vendas, alavancagem e estrutura de custos de cada uma das empresas. Esta evolução é comparada e analisada de diferentes formas. Assim, os investidores e analistas tendem a comparar os resultados apresentados com o período homologo, de forma a perceberem a evolução da empresa no mesmo cenário temporal.

Adicionalmente, também é importante verificar a evolução no trimestre através da comparação dos resultados apresentados com o trimestre anterior. Todos estes dados devem ser enquadrados de uma forma micro e macro. O que pretendo referir com isto é que devemos enquadrar os dados apresentados pelas empresas no contexto onde estão inseridas e num contexto mais amplo, ou seja, num contexto global. Neste caso, é importante percebermos qual o rumo que a economia mundial pode estar a seguir, de forma a podermos identificar uma tendência que pode, ou não, ter impacto na performance da empresa que estamos a analisar.

Por fim, quem quer investir em ações diretas deve ter um conhecimento aprofundado da empresa em que pretende investir. As earnings calls são muito importantes porque nos podem fornecer informações fundamentais, e que complementam os números que são apresentados. É importante perceber qual o caminho e visão que a administração de cada uma das empresas pretende seguir e quais são as ameaças ou oportunidades que existem pela frente.

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Resultados vs. performance acionista

Se, no passado, a época de resultados tinha uma enorme influência no rumo dos mercados financeiros, nos dias de hoje o cenário alterou-se. Hoje, os investidores estão muito mais centrados nas políticas dos bancos centrais ou mesmo nas palavras e atos dos principais líderes globais. Isto acaba por ter uma justificação, que é o facto de a performance dos mercados financeiros na última década ter sido sustentada por apoios sistemáticos à economia por parte dos bancos centrais de todo o mundo. O grande objetivo destas políticas não foi fazer com que os mercados financeiros beneficiassem e valorizassem. As políticas monetárias implementadas na última década tiveram como grande objetivo a estabilidade do sistema financeiro e a criação e condições para que as economias reagissem a períodos mais negativos.

Este caminho que temos vindo a seguir, por exemplo, desvalorizou o facto de os países das economias mais desenvolvidas estarem cada vez mais endividados. Isto acontece porque, no passado recente, sempre que houve um stress financeiro, os bancos centrais socorreram a economia e tudo acabou por normalizar. Esta “viciação” económica faz com que muitos investidores não sintam receio de correções de mercado que possam acontecer. De certa forma, os investidores estão anestesiados em função das experiências que viveram no passado. Por este motivo, apesar de esta época ser importante para podermos analisar a evolução das empresas e as suas perspetivas para o futuro, a realidade é que os investidores estão muito mais atentos à forma como os bancos centrais podem ou não descer as taxas de juro. Por outro lado, em função do contexto político global que estamos a viver, os investidores estão também muito atentos aos atos e palavras dos grandes líderes, sendo que Donald Trump acaba por ser aquele que tem maior capacidade para influenciar o rumo dos mercados financeiros, pelo facto de ser o presidente da maior potência global.

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