Investir num ativo quando a cotação fixa um mínimo e vender quando atinge o nível mais elevado é o sonho de todos os investidores. Comprar barato e vender caro gera retornos atrativos, mas os mercados financeiros estão muito longe de ser uma ciência exata e fácil de prever.
Quando se olha para os gráficos com o histórico das cotações é fácil identificar quais tinham sido os investimentos certeiros. Mas tentar adivinhar os movimentos futuros é um exercício arriscado e com elevado potencial para trazer dissabores aos investidores. Mesmo para os profissionais, que passam o dia a analisar o impacto das notícias, resultados e dados económicos nos preços dos ativos.
Basta ver o que está a acontecer em 2025, em que a maioria dos analistas pode deitar para o caixote do lixo as estimativas que divulgaram no início do ano. As bolsas europeias estão a registar valorizações surpreendentes, com vários índices a marcarem ganhos anuais de dois dígitos, enquanto as ações norte-americanas acumulam perdas em 2025. Isto apesar de o regresso de Donald Trump à Casa Branca, em teoria, ser claramente favorável às empresas dos Estados Unidos.
O Stoxx600, que é o índice de referência das bolsas europeias, está a acumular máximos históricos consecutivos nas últimas semanas, o que convida os investidores a vender para realizar mais-valias. Quem optou por esta estratégia ao primeiro máximo histórico fixado pelo índice no início de fevereiro, está a “perder” um ganho adicional de 5%. O S&P500, que é o índice de referência da bolsa norte-americana, acumula uma queda de 5% desde que renovou máximos históricos a 19 de fevereiro.
Temos aqui dois resultados contraditórios, mas a análise aos dados do passado mostra que vender assim que os índices atingem máximos pode não ser a estratégia mais acertada, mesmo que os mercados estejam num momento de forte turbulência, como se verifica nesta altura.
- Em janeiro de 2020, o Stoxx600 negociava em máximos históricos, tendo afundado 30% em poucas semanas devido ao impacto da pandemia. Regressou a máximos em abril de 2021 e ganhou terreno até ao final desse ano. Quem vendeu o índice europeu nos primeiros dias da pandemia “perdeu” um ganho de 13%.
- Depois de quedas acentuadas em 2022, o Stoxx600 regressou a máximos históricos no início de 2024. Desde então, valorizou mais 14%.
- Quem vendeu no pico da crise financeira global de 2008 perdeu um dos períodos de alta mais poderosos da história recente dos mercados, com o S&P500 a valorizar 400% nos dez anos seguintes.
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O risco do “market timing”
A estratégia de investir ao tentar prever a direção das cotações é conhecida nos mercados por “marketing timing”. Com esta metodologia, o investidor procura descobrir a melhor altura para comprar e vender um determinado ativo, com o objetivo de antecipar o movimento que o seu preço terá num futuro próximo.
Nesta estratégia, o investidor entra e sai do mercado em função das suas perspetivas, o que traduz um risco acrescido, aumenta os custos de corretagem e os impostos, o que reduz a rendibilidade potencial. Tentar prever o comportamento dos mercados expõe o investidor a perder os melhores dias do mercado e, se for mal gerido, pode traduzir-se em perdas consideráveis.
A esta estratégia está geralmente associada a prática de vender em máximos e comprar em mínimos. Mas como mostram os dados históricos, é recorrente os preços dos ativos aprofundarem as quedas depois de atingirem o ponto mais baixo, ou acentuarem os movimentos de alta após atingirem máximos.
O efeito tempo e outras estratégias
Todas as estratégias de investimento são válidas, mas em vez de tentar adivinhar o rumo dos mercados, é bem mais interessante que os investidores mantenham uma carteira exposta aos mercados de forma contínua. Está comprovado que é o tempo, e não o timing, que é o melhor amigo do investidor, sobretudo no mercado de ações, o ativo de eleição numa lógica de longo prazo.
Tomar decisões em função dos preços dos ativos estarem em máximos ou mínimos pode não ser uma boa opção. Vejamos:
- Os investidores que tiveram nervos de aço no início da pandemia e não saíram do mercado, estão a registar ganhos acentuados O Stoxx600 valoriza 30% desde janeiro de 2020 e o S&P500 dispara mais de 70%.
- Os investidores que não ficaram impressionados com a valorização superior a 20% do S&P500 em 2023, viram o índice norte-americano fixar 50 máximos históricos diários em 2024, acumulando uma valorização anual ainda mais alta do que no ano anterior.
- Em todos os mais de mil máximos históricos fixados pelo S&P500 desde 1950, nunca o índice estava num nível 10% inferior cinco anos depois do pico. Em apenas 2% das ocasiões o S&P500 estava 10% abaixo três anos depois do máximo.
- Um investimento de 10 mil dólares no S&P500 em 1995 gerou um retorno de 224 mil dólares no final de 2024. Mas se o investidor esteve fora do mercado nos dez melhores dias do índice neste período, o retorno baixa para menos de metade.
Em vez de tentar acertar na direção do mercado, é bem mais racional adotar estratégias de cobertura de risco e mitigação dos efeitos dos períodos de turbulência nos preços dos ativos. Estas são duas das mais assertivas:
Diversificação. Construir uma carteira de ativos diversificados (ações, obrigações, matérias-primas, etc.) é a melhor forma de reduzir a exposição à volatilidade dos mercados e assim conseguir baixar o risco do investimento. Mesmo para quem só investe numa classe de ativos, como ações, é aconselhável a diversificação do investimento em empresas de diferentes setores e geografias.
Dollar cost averaging. Esta estratégia consiste no investimento de uma quantia fixa de capital de forma regular, independentemente das condições do mercado. Esta abordagem reduz o risco de efetuar investimentos avultados nos momentos errados, reduz o impacto da volatilidade e incentiva a poupança. Além de que, ao contrário do market timing, reduz o nível de stress do investidor com o desempenho da carteira. É ideal para quem pretende acumular poupança no longo prazo.
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Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.
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