O assunto tem tanto de sério quanto tem de sensível. Diz respeito ao mais elementar dos nossos equilíbrios e, por isso, é preocupação residente. Não tem dia nem hora marcada. E nunca sai da nossa agenda.
Ainda assim, hoje, o mundo dedica-lhe especial atenção atribuindo-lhe um dia, o “Dia Internacional da Saúde Mental”. Junto-me, por isso, ao imperativo de relembrar porque é fundamental cuidar da nossa saúde mental. E porque deve constar no topo das prioridades das organizações que zelam pelo bem-estar do seu ativo mais precioso: as Pessoas.
O conceito de saúde mental começou por ser definido em 1948 e, desde então, tem vindo a sofrer os naturais ajustes impostos pela evolução das sociedades. A mais recente definição data de 2009, e nesta, a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz-nos que consiste no “estado de bem-estar, no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere”.
Sublinho que, com esta perspetiva, a OMS traça um contexto que vai muito além da doença mental. Esta importa, claro, mas o quadro evoluiu e abarca um outro, e vasto, conjunto de situações que não podem ser descuradas. Sobretudo, em ambiente laboral.
Saúde mental: Importância e impacto nas empresas
Em contexto organizacional, a importância da saúde mental ainda é subestimada. Segundo dados do World Mental Health Report (Relatório Mundial de Saúde Mental) da OMS, em 2019, mil milhões de trabalhadores viviam com uma perturbação mental e 15% dos trabalhadores sofriam de problemas psicológicos.
Os caminhos a fazer parecem-nos sempre longos, razão pela qual o nosso foco tem de ser a redução de todo e qualquer estigma, bem como dos mitos que teimam em manter-se entre nós. O fio condutor dos esforços nas organizações que se querem sustentáveis, produtivas e competitivas, tem apenas um nome: empatia. E esta, só se consegue com proximidade, escuta ativa, e apoio concreto.
Ao olharmos para dentro das nossas organizações, o leque de respostas às necessidades das nossas pessoas, tem forçosamente de ir muito para além da remuneração. É tempo de entender que o dinheiro é e continuará a ser um fator determinante, mas há todo um conjunto de outras variáveis que há muito ganharam terreno e relevância no equilíbrio de cada um de nós.
Entre as principais situações de risco, já identificadas pela OMS e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), constam a sobrecarga de trabalho, ambientes desgastantes e de elevado stresse ou os comportamentos negativos que levam a sofrimento no local de trabalho.
Um sofrimento que pode nascer de cenários marcados por uma competitividade excessiva, falta de flexibilidade ou por assédio moral. Alguns exemplos de causas em relação às quais urge que atuemos pela gravidade que encerram, sob pena de ter custos muito mais avultados do que se espera.
Segundo o mais recente relatório sobre o "Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho", da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a perda de produtividade devida ao absentismo e ao presentismo causados por stresse e problemas de saúde psicológica pode custar às empresas portuguesas até 5,3 mil milhões de euros por ano.
Um cálculo que se refere apenas a custos indiretos, sendo que, no total, a perda de produtividade pode custar às empresas até 1,4% do seu volume de negócios.
E porque as empresas são tão mais que os números da produtividade, é preciso recordar que a saúde mental tem igual peso em variáveis fundamentais como a rotatividade das equipas ou na fidelização de talento, bem como na inovação ou no compromisso/satisfação no trabalho.
Vamos sempre a tempo de fazer mais e melhor
No Dia Internacional da Saúde Mental foco a importância de alcançar e proporcionar um equilíbrio entre as várias facetas da nossa vida. E sublinho a importância de continuarmos a debater e a partilhar experiências, com o firme propósito de contribuir para locais de trabalho saudáveis. Mas, afinal, o que define um local de trabalho saudável?
Uma vez mais, com base na definição da OMS, entende-se por local de trabalho saudável aquele em que todos os membros da organização (empregadores, gestores e trabalhadores) cooperam com vista à melhoria contínua dos processos de proteção e promoção da saúde, da segurança e do bem-estar.
Naturalmente, sem fórmulas únicas ou mágicas, e convicta da dureza deste caminho, defendo reflexões mais profundas e um teimoso “arregaçar de mangas” que seja verdadeiramente capaz de inverter tendências.
Neste sentido, no presente, mas de olhos postos num futuro equilibrado, o caminho passa necessariamente por consolidar aqueles que identificamos como os principais pilares da saúde mental em contexto de trabalho. Ou seja, trabalhar tão ativamente na promoção de atividades físicas como na escuta próxima e franca, e a partir daí atuar (fazer acontecer!); evitar e combater o overworking e os estigmas; promover uma cultura de feedback e de total transparência num ambiente organizacional regularmente avaliado.
E juntos (sempre juntos) encontraremos e aprovaremos as necessárias medidas de apoio no âmbito da saúde mental. Porque a ela estamos atentos, porque a ela prometemos cuidado e zelo para que não seja posta em causa.
Irene Vieira Rua é licenciada em Psicologia pela Universidade Lusófona, tendo feito uma pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Estratégico de Recursos Humanos, no ISLA – Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia e um Executive Master em Project Management, na Universidade Europeia. Tem mais de 15 anos de experiência profissional, com dez deles passados na empresa Indra, uma consultora tecnológica, desempenhando funções como Quality and Environmental Senior Consultant e Project Manager do setor Público. Em 2017, juntou-se ao Doutor Finanças para a função de Diretora de Pessoas e Cultura Organizacional e em 2022 assumiu o cargo de Chief People Officer.
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