Habitação: Património ou dívida?

A habitação voltou a tornar-se o principal património dos portugueses. Terá crescido à custa de crédito?

No artigo anterior, falamos sobre a importância que a habitação tem no património dos portugueses. Os dados publicados pelo Banco de Portugal mostram que o ativo residencial suplantou em valor o montante detido por particulares em outros ativos financeiros.

Será que o recurso a crédito contribuiu para esta realidade?

A habitação é um ativo de investimento

Antes de mais, importa realçar que a habitação é, de facto, um ativo de investimento. Apesar de, na maior parte dos casos, ser um ativo de utilização própria – falamos da aquisição de habitação própria e permanente – não deixa de ser um ativo financeiro e de investimento.

Tal pode comprovar-se nem que seja pela capacidade histórica dos ativos imobiliários valorizarem com o tempo. Existem vários estudos e papers técnicos que apontam para a capacidade, no muito longo prazo, de os imóveis, no limite, replicarem a inflação. Ora, sendo a inflação um custo, na realidade, um imposto, deter um ativo que, pelo menos, cobre esse custo, já é bastante bom. Conseguindo-se ter uma valorização real, tanto melhor.

Ora, se a esta capacidade de valorização somarmos a “rentabilidade” da utilização – seja em habitação permanente ou sazonal – facilmente concluímos do interesse em investir em habitação.

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Património ou dívida?

É um facto que os portugueses, desde a entrada na União Monetária, têm recorrido bastante a crédito para aquisição de habitação. Os dados do Banco de Portugal mostram isso mesmo: entre 2000 e 2011, o crédito habitação concedido a particulares mais que duplicou. No final de 2022, o mercado tinha um stock total de crédito de 96.929 milhões de euros.

Comparando o stock de crédito habitação concedido a particulares em Portugal com o montante do património habitacional, concluímos que o peso da dívida é reduzido. O pico foi atingido em 2013, quando o crédito representava quase 35% do património detido por particulares. Desde então, a descida do stock de crédito, aliada à forte valorização do mercado, fez com que a alavancagem dos particulares se reduzisse de forma acentuada.

Naturalmente que a dívida contribuiu para esta recente realidade. Se os portugueses hoje detêm mais património habitacional, isso também se deve ao facto de ter havido muita dívida disponível, com taxas de juro muito atrativas.

No entanto, os números mostram bem mais do que isso. A habitação em Portugal valorizou, o stock de crédito habitação reduziu-se. Houve mais investimento, mas a dívida total para contrair este ativo reduziu-se.

De qualquer forma, as características dos ativos imobiliários são totalmente condizentes com o conceito de alavancagem. Trata-se de ativos reais, não-fungíveis, de elevado valor unitário e investimentos de longo prazo. São, por isso, passíveis de financiamento e uma excelente garantia para o financiador.

Bons negócios (imobiliários)!

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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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