Grande parte dos profissionais da atividade de mediação imobiliária começam a sua jornada com muita vontade de fazer, ou seja, de executar e de aplicar o que aprendem ou observam.

Também grande parte pensa que está numa atividade onde o foco é vender casas quando a venda é apenas o resultado, ou seja, a consequência do verdadeiro negócio desta atividade é a confiança e angariação.

A mediação imobiliária ajuda pessoas na decisão e transação de comprar, vender ou arrendar. A base desta ajuda reside no serviço, e para que este serviço seja relevante e agregado de valor, é necessário conhecimento, experiência e muita empatia para saber gerar confiança e relações consistentes.

Começa-se, como na maioria das áreas técnicas, com formação teórica, depois teórico-prática, e depois com a prática consistente dos conceitos adquiridos para gerar experiência e conhecimento próprio. É de facto na aplicabilidade diária que o profissional se torna inconscientemente competente. Depois, é manter a vontade e atitude de aprender treinando para que a experiência da competência evolua.

Até aqui, podemos aplicar estes princípios às diversas atividades que existem no mundo, sendo que esta tem uma particularidade que pode mudar (e muda mesmo) o rumo de qualquer profissional nesta área – a dedicação e paixão que aplica a uma atividade que não é remunerada por um valor fixo, mas sim por uma comissão que varia de acordo com a angariação, e que só é paga se a transação imobiliária for, de facto, realizada.

Mas só isto não basta.

Este profissional excelente na disponibilização e execução do serviço de mediação imobiliária e em todas as tarefas que esta implica – que se concentram em atividades de prospeção, angariação e venda como basilares – vai ainda precisar de mudar a sua mentalidade para a mentalidade de gerir um negócio e não apenas uma venda.

Abre-se aqui uma caixa de pandora que muitos não querem abrir.

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A importância de saber gerir o negócio

Para gerir um negócio, é necessário saber como criar previsibilidade – é necessário medir, interpretar, definir uma estratégia e planear. Não bastam apenas táticas. Há ainda que lidar com impostos, gestão de tesouraria, fornecedores, entre variadíssimas atividades com que qualquer gestor se depara desde a primeira hora que monta o seu negócio.

Por experiência própria, a maioria dos profissionais de mediação imobiliária, em especial os agentes imobiliários, não apostam neste know how, e é talvez aqui que reside uma das causas de muitos insucessos que acontecem. Porque não se aprende a replicar sucesso, o que leva a resultados de uma média baixíssima de rendimento mensal de agentes imobiliários em Portugal e no mundo, mesmo que o que se veja partilhado, muitas vezes, são mais os sucessos do que os insucessos. Esses não interessa mostrar.

Como em quase tudo, felizmente, há uma fatia de profissionais que passa este desafio e consegue não só ter uma atividade, como também gerir e expandir o seu negócio, fugindo da tendência da estagnação perpétua de quem olha para esta área como um auto-emprego, e não um negócio sem limites para quem quer realmente construir valor e ganhar dinheiro.

Evidentemente que a vida é de cada um e a ambição não é a mesma para todos. Muitos estão contentes com o seu negócio, mesmo não evoluindo, e conseguem gerir bem esta situação – por vezes durante anos – porque são excelentes executantes. Ou seja, são profissionais que prestam um excelente serviço aos seus clientes, mas hoje e no futuro terão sempre uma fragilidade: dependem apenas de uma pessoa – eles mesmos.

Para quem ambiciona crescer, isto não é positivo. A boa notícia é que existe um outro caminho para escolher – o do empreendedorismo.

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Empreender como forma de vida

O empreendedorismo vive da ideia e capacidade de inovação do seu empreendedor, que tem de ter uma visão muito clara do seu projeto, do cliente que quer trabalhar, da sua missão e dos seus valores.

Ser empreendedor é, entre muitas coisas, saber criar uma marca que trabalha para si, mesmo sem a sua presença. Para chegar aqui, não basta executar e gerir, é necessário ir mais além e antecipar, criar e adaptar, o que torna fundamentais competências como curiosidade, audácia e atitude para inovar e questionar. Também é crucial saber refletir, ler, explorar parcerias, rodear-se de pessoas que fazem acontecer e que, ao mesmo tempo, estejam alinhadas com o seu projeto, experimentar, ir à procura de tendências, analisar o mercado de forma constante, entre muitas outras coisas.

Todos podemos executar, todos podemos gerir, todos podemos empreender, mas nem todos vão conseguir passar da ideia e do desejo para a dura realidade de ter de fazer sem rede.

Quem empreende passa para um outro patamar em que um projeto se torna numa nova forma de vida.

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