Investimentos

Certificados de Aforro vão render menos, mas continuam a superar depósitos

A remuneração dos Certificados de Aforro vai em breve ficar abaixo do patamar máximo dos 2,5%, mas as subscrições estão em forte alta depois de vários meses de marasmo.

Os portugueses regressaram em força os Certificados de Aforro na reta final de 2024, refletindo a maior atratividade destes produtos de poupança do Estado em comparação com os tradicionais depósitos a prazo. Uma tendência que deverá persistir apesar de se prever uma descida no retorno destas que são as duas opções de baixo risco preferidas em Portugal.

As subscrições de Certificados de Aforro superaram 850 milhões de euros no quarto trimestre, com um mês de dezembro muito forte (352 milhões de euros). Este aumento atirou o volume total aplicado nestes produtos para perto de 35 mil milhões de euros, o que representa um novo máximo histórico. Este regresso aos Certificados de Aforro, no último trimestre de 2024, surge depois de 11 meses seguidos de valores negativos (mais resgates do que subscrições).

Entre julho de 2022 e julho de 2023 os portugueses aplicaram mais de 20 mil milhões de euros nestes produtos de poupança do Estado, sendo que a corrida estancou no verão de 2023 ano, quando o Governo decidiu alterar as regras dos Certificados de Aforro, limitando substancialmente a sua rendibilidade.

A decisão do governo também estancou a fuga de depósitos que foi muito pronunciada no verão de 2023. A trajetória de alta foi constante desde então, com o volume de depósitos a fechar 2024 com um novo recorde acima de 190 mil milhões de euros. Um crescimento de 10% face ao registado em julho de 2023. Desta vez, o regresso dos portugueses aos Certificados de Aforro não afetou os depósitos, que captaram mais de 4,5 mil milhões de euros no último trimestre de 2024.  

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Retorno comparativo mexe na procura

Se a procura por depósitos bancários tem uma ligação muito ténue à remuneração que é oferecida pelos bancos, no caso dos Certificados de Aforro essa relação é muito evidente. O forte volume de subscrições que iniciou em 2022 acompanhou a subida das taxas de juro por parte do BCE, o que elevou a remuneração destes produtos de poupança do Estado para o limite máximo de 3,5% nos primeiros meses de 2023.

Quando o governo decidiu baixar a remuneração máxima dos Certificados de Aforro para 2,5%, em junho de 2023, a procura destes produtos estagnou, até porque a taxa dos depósitos bancários estava em trajetória ascendente, tendo mesmo superado a fasquia dos 3% no final desse ano.

A remuneração dos Certificados de Aforro tem estado estagnada neste patamar de 2,5%, ao contrário do que se verifica nas taxas de juro dos depósitos, que baixaram de forma constante ao longo de 2024, num movimento que deverá persistir este ano. É esta tendência que explica o regresso em força dos portugueses aos Certificados de Aforro na reta final de 2024, pois estes produtos estão agora mais atrativos na comparação com os depósitos.

Leia ainda: Certificados de aforro: Subscrição máxima sobe para 100 mil euros

Certificados de Aforro vão pagar menos de 2,5%

Esta maior atratividade relativa dos Certificados de Aforro acontece numa altura em que até se prevê uma descida na remuneração destes produtos que financiam o Estado português e foram desenhados para captar a poupança dos portugueses. Com a criação da série F, em junho de 2023, o governo subtraiu um ponto percentual à taxa base, que não poderá ser superior a 2,50%, nem inferior a 0%.

A taxa base dos Certificados de Aforro é calculada no antepenúltimo dia útil de cada mês, tendo por base a média dos valores da Euribor a três meses observados nos 10 dias úteis anteriores. Na prática, a remuneração é muito idêntica ao valor da Euribor a três meses, que está atualmente apenas ligeiramente acima de 2,5%.

O indexante está já no nível mais baixo desde fevereiro de 2023 e é muito provável que continue a baixar nos próximos meses. O BCE desceu a taxa dos depósitos para 2,75% em janeiro e é expetável que efetue mais cortes até chegar (pelos menos) aos 2%. A Euribor a três meses seguirá o mesmo caminho, pelo que a remuneração dos Certificados de Aforro estará em breve abaixo do limite máximo de 2,5%. A taxa base de março ainda deverá ficar neste patamar, mas nos meses seguintes deverá ser inferior.

Apesar desta perspetiva desfavorável para os Certificados de Aforro, no caso dos depósitos bancários os retornos devem ser ainda mais reduzidos. Em dezembro de 2024, a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo dos particulares situou-se em 2,16%, um mínimo de agosto de 2023. A fasquia dos 2% deverá ser quebrada em 2025, mantendo-se uma diferença substancial para a Euribor a três meses.

No caso dos Certificados de Aforro, pagará sempre uma taxa muito idêntica do indexante. E tem ainda uma outra vantagem comparativa muito relevante face aos depósitos. Os produtos de poupança do Estado pagam prémios de permanência que começam nos 0,25 pontos percentuais (do segundo ao quinto ano) e chegam aos 1,75 pontos percentuais (no 14.º e 15.º ano). À taxa base soma-se este prémio de permanência com uma periodicidade trimestral, o que pode elevar a remuneração para um patamar interessante nas aplicações de longo prazo.

Para os investidores totalmente avessos ao risco, ou que procuram uma opção segura para compensar o risco de outros ativos com retornos potenciais mais elevados, os Certificados de Aforro são claramente a melhor opção, sobretudo comparando com os depósitos bancários.

Mesmo sem ter em conta prémios de permanência, é bastante provável que a rendibilidade dos Certificados de Aforro seja suficiente para compensar a inflação, garantindo que a poupança não perde poder de compra. O que muitas vezes não acontece no caso dos depósitos bancários.

Prémio de permanência dos Certificados de Aforro em pontos percentuais, que soma à taxa base em todos os trimestres:

  • 0,25 do 2º ao 5.º ano;
  • 0,50 do 6º ao 9.º ano;
  • 1,00 no 10º e 11.º ano;
  • 1,50 no 12º e 13.º ano;
  • 1,75 no 14º e 15.º ano.

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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