Precisa de um empurrão para dar o mergulho na série televisiva Billions? Eis alguns dos slogans utilizados ao longo das sete temporadas:
«Os poderosos hão de cair.»
«Apostar na falência.»
«Riqueza é guerra.»
«A melhor moeda é o poder.»
«Nada é mais pessoal do que os negócios.»
O sr. Moralista e o sr. Açambarcador
À frente de uma batalha entre o poder judicial e o poder financeiro teremos, ao longo das primeiras temporadas, o “justiceiro” Chuck Rhoades, procurador-geral no estado de Nova Iorque, e o gestor de fundos de cobertura Bobby Axelrod. Os dois procuram representar dois lados da mesma moeda, com um a querer significar o bem – a justiça –, e o outro a não se importar lá muito que o vejam como símbolo da ganância nos negócios. Chuck não gosta de milionários, Bobby não gosta de falsos moralistas; um quer concorrência sadia, o outro acha que todos os meios são lícitos para obter lucro. Só que ambos, como iremos descobrindo ao longo dos episódios, talvez sejam mais semelhantes do que gostariam de ser.
Para dar um maior cunho de realismo, os diálogos estão repletos de terminologias ligadas aos fundos de cobertura, ao mercado de ações ou até à própria legislação dos mercados financeiros. Tudo isso pode causar estranheza aos menos conhecedores desses meios, mas isso não será impeditivo para se desfrutar da série. Afinal, Chuck Rhoades também não conhece grande parte das especificidades do negócio de Axelrod, mas isso não lhe diminuiu a vontade de o meter atrás das grades… O importante, em termos dramáticos, é o duelo entre os dois homens, secundados pelos seus braços-direitos, dispostos a quase tudo pela causa dos seus chefes. E a trama fica ainda mais complicada devido à impactante figura de Wendy Rhoades, a mulher de Chuck, que também é psiquiatra / coach de desempenho na empresa de Bobby. Ou seja, um cenário denso e complexo. Tal como um fundo de investimento?

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Um glossário da terminologia que gera fortunas
Rodada entre 2016–2023 (há temporadas que ilustram até os tempos dos confinamentos por causa da covid), Billions, mesmo com as suas desigualdades, mesmo com umas temporadas finais menos conseguidas, acaba por ser uma experiência positiva. E pode bem ser uma porta de entrada para se querer conhecer mais coisas sobre os fundos de investimento. Até porque, como a série teve impacto nalguns profissionais do sector financeiro, não faltam artigos online que exploram diversas matérias abordadas pela série.
O site Investopedia, por exemplo, investiu num guia para ver (e compreender) Billions: um glossário que descodifica mais de 70 termos ligados às áreas financeira e do investimento, pensado para que o espectador não perca as nuances mais técnicas do enredo. Blue chip, block trade, dead cat bounce, lock-up period, margin call, mosaic theory, quant fund, quote stuffing, robber baron, sharpe ratio, two and twenty, overage, window dressing… Não percebe nada disto? Não há problema, pois a lista tem definições bastante claras para tudo.
Até os líderes de empresas podem aprender com Billions
Para Michael Hofer, a série oferece uma lição sobre o papel crucial da informação nas estratégias e tomadas de decisão financeiras. Num artigo do seu site, este antigo CEO de várias empresas cita episódios que ilustram pontos como a vantagem estratégica da informação, as fronteiras éticas no uso de informações privilegiadas, a importância da pesquisa meticulosa e diligente, a gestão do risco e da informação ou o impacto da tecnologia na disseminação da informação.
Já para Michael Koopman, um coach de executivos, existem “10 lições que os líderes podem aprender com Billions”. No artigo publicado na Forbes, este estratega de crescimento encontra nas sessões de Wendy Rhoades com os funcionários da Axe «princípios psicológicos» que podem ser usados pelos líderes e os coaches de performance no mundo real. Autoconsciência e regulação emocional, gestão de stresse, técnicas de relaxamento, criação de uma visão de futuro e definição de metas, formação assertiva, resolução de conflitos, forma de navegar pelos dilemas morais e éticos… E sim, há um ponto dedicado às estratégias para a melhoria do desempenho, ou não fosse a série também uma competição entre empresas – e entre os próprios funcionários – para ver quem ganha mais dinheiro.

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Quatro lições para potenciais investidores
Terminemos a nossa viagem por Billions com as quatro lições financeiras que, em termos de investimentos, o site Medium conseguiu extrair da série televisiva.
1) Assumir um risco calculado. Bobby Axelrod é visto como alguém que pensa antes de agir. Alguém que, antes de investir, consegue ter um panorama geral das coisas e sabe como alinhar todas as peças do puzzle.
2) Fazer uma pesquisa exaustiva. Num fundo de cobertura, a informação é vital para se poder ganhar à concorrência. «Enquanto investidor, deve aplicar o mesmo princípio: procurar informação e usá-la.» Isso passa por pesquisar muito sobre as plataformas de investimento e sobre os produtos a adquirir; e por agir apenas quando se está convicto de uma coisa, com base na própria pesquisa.
3) Perceber que tempo é dinheiro. «O tempo é como uma mercadoria. A cada segundo, ou se perde ou se ganha dinheiro». No caso de Billions, o tempo tem impacto no desempenho dos fundos, ou seja, é importante que se saiba determinar o valor do negócio proposto, não só no presente, mas também no futuro.
4) Apostar em coisas seguras. Comprar algo só porque alguém disse que vai duplicar de valor «é a compra mais estúpida que se pode fazer». E, claro, convém relembrar que não se devem pôr todos os ovos no mesmo cesto.
Como nota final, ressalve-se que todos os artigos citados estão em inglês. Mas, com os tradutores online, isso já não é problema para ninguém. Mesmo com erros pelo meio, fica-se com a ideia geral. Além disso, também não vai pôr-se a investir à tola só porque viu uns episódios de Billions, certo? É que isso não conta como pesquisa meticulosa e diligente, mas sim como umas largas horas de puro entretenimento.
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