O mercado residencial em Portugal está em abrandamento. Importa recordar que, aqui, no Doutor Finanças, já tínhamos apresentado alguns dados que indicavam esse mesmo abrandamento. No artigo “Habitação: Abrandamento no mercado”, escrevia que “O número de casas vendidas, trimestralmente, atingiu o seu pico no final de 2021. Apesar de o ano de 2022 ter registado novo recorde nas vendas, os números mostram um abrandamento na atividade”.
Venda de casas no 1º trimestre com quebra homóloga de 20,8%
Os dados agora publicados pelo INE vêm confirmar essa mesma tendência. Durante o primeiro trimestre de 2023, o número casas vendidas em Portugal sofreu uma quebra de 10,5% face ao trimestre anterior. Na comparação homóloga, a variação é de -20,8%.
É na Região Autónoma dos Açores e na Região do Alentejo que as variações em cadeia são mais expressivas (-23,1% e -17,7%, respetivamente) mas as variações homólogas mostram que foi na Área Metropolitana de Lisboa (AML) que se sentiu mais esta desaceleração da atividade.
Este facto não é de menosprezar, porquanto a AML é a região de Portugal que tem maior peso na venda de casas. Em março deste ano, o peso das casas vendidas na AML era de 28%, face a uma média histórica de 32%. Na realidade, só a Zona Centro e Alentejo apresentam atualmente um peso maior das suas vendas (em relação ao total nacional) face à média histórica.
Permitam-me, ainda, recordar aquilo que escrevi, também aqui, no Doutor Finanças, em dezembro de 2022, no artigo “Imobiliário: O que esperar de 2023”:
“Em setembro passado, tive oportunidade de adiantar um possível caminho para uma correção, num artigo escrito em Out of the Box. Referia que seria expectável observarmos 1) uma desaceleração, 2) ligeiro aumento da oferta e 3) correção de preços.
Mais em concreto, espero que 2023 se confirme como o ano do início de um novo ciclo no mercado. Um ciclo de correção e ajustamento que, caso as atuais condições não se alterem substancialmente, poderá ser um pouco mais longo e lento que aquilo que alguns esperam.
O mercado está já a observar uma certa desaceleração, em grande parte devido a uma queda na oferta. Sim, na oferta. Muitos vendedores, perante a evidência de que o mercado já não paga aquilo que pagava antes, ou na impossibilidade de contraírem um crédito para compra de uma nova casa, começam a adiar a sua pretensão de venda. Este é o primeiro ajustamento que leva à tal desaceleração.”
Bons negócios (imobiliários)!
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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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