O verão chegou. Nesta fase, estamos especialmente cansados… professores, pais e terapeutas. Podia deixar a frase só assim: na verdade, é o que tantas vezes fazemos… esquecemo-nos de que as crianças também estão muito cansadas. A escola não é fácil (ou pelo menos sempre e para todas as crianças) e em especial nesta época final de ano, podemos todos estar a sentir um grande acumular de tensão e crescente necessidade de desligar e descansar.

Muitos pais questionam-se sobre como proporcionar as melhores férias aos filhos. Devem estudar ou não? “A professora disse que sim!”. Devem ir para campos de férias ou ficar por casa? “São boa ideia, mas são tão caros…”. Devem aborrecer-se ou estar constantemente em atividades? “Já fazem tanto durante o ano…”. As dúvidas são imensas e a verdade é que muitas vezes o orçamento e o tempo não esticam. Mas vamos por partes.

Devem as crianças estudar durante o verão?

Se a questão for sobre estudar no sentido mais puro da palavra, então a resposta é provavelmente não. As férias de verão servem precisamente para isso: para aproveitar o verão. Salvo raras exceções, a ser discutidas com os professores e equipa que acompanha a criança ou jovem, o estudo “formal” deve ser deixado de lado. É tempo de brincar, aprender o aborrecimento, mas também a diversão, de dar mergulhos e estar com as pessoas de quem mais gostamos, quando existe essa oportunidade.

E isso quer dizer que a parte académica deve ser deixada completamente de lado, o verão inteiro?

Depende da forma como encaramos a “parte académica”. Por exemplo, o hábito de leitura deve ser mantido todo o verão. No entanto, é importante que isto seja feito através de leituras do gosto da criança e que possa ser ela a escolher. Levar um livro para a praia e para outros momentos onde haverá tempo livre é uma boa ideia, e podem até pensar em fazer um desafio de leitura para o verão em família (ex. uma página por dia; 3 livros durante o verão), dependendo obviamente da faixa etária da criança, assim como das suas competências de leitura. Outra forma de estimular o cérebro (mas que não tem apenas a ver com a vertente académica, mas sim com funções importantes em todas as áreas da vida e durante toda a vida), são atividades de estimulação cognitiva como labirintos, sudoku, sopa de palavras, jogo da memória, dominó, charadas, xadrez… no fundo, brincar e jogar! É importante, no entanto, que este tipo de atividades não seja apresentada como uma obrigação, e antes como um divertimento como outro qualquer. Se puder ser em família, melhor!

Leia ainda: Conversar com as crianças sobre o dinheiro, sim ou não?

Reduza os seus seguros e entre nas férias com menos peso na carteira

É sempre melhor se forem para campos de férias?

Parece-me injusto responder a esta pergunta sem fazer a ressalva de que sabemos que, infelizmente, os campos de férias não são acessíveis a toda a gente. Se houver essa oportunidade, participar neste tipo de campos pode ser verdadeiramente enriquecedor para todas as crianças. Há campos de férias sobre os mais variados temas, dos animais à informática, para todos os gostos! Neles, os jovens têm oportunidade de conhecer pessoas novas e, além disso, desenvolver competências socioemocionais como o autoconhecimento, o autocontrolo, a consciência social, a comunicação, a resolução de problemas, entre muitas outras. Tudo isto de forma lúdica e sempre a aprender! É verdade que há crianças introvertidas que rejeitam este tipo de atividades. No entanto, se possível, devem ser incluídas nas mesmas, negociando o tipo de campo, assim como a duração e a modalidade (ex. com ou sem dormida).

Caso não seja possível, pelos mais variados fatores, que a criança participe em campos de férias, os adultos à sua volta devem tentar promover atividades lúdicas diferentes daquelas a que estão habituadas a fazer durante o período escolar, consoante a sua disponibilidade e possibilidade. A criatividade ajuda muito! Podem fazer teatros em casa, criar em conjunto receitas novas, fazer o vosso próprio filme, fazer piqueniques… as possibilidades são infinitas.

Leia ainda: Os ecrãs na família

Então, e só devem voltar ao ritmo da escola quando regressarem?

É suposto e importante que as crianças e jovens tenham rotinas bem definidas. No entanto, também é normal que no verão essas rotinas sejam ligeiramente alteradas. Que bom que os dias parecem mais compridos e que não precisamos de estar tão preocupados em dormir tão cedo quando temos um jantar de amigos ou quando aquele mergulho na praia às 20h estava mesmo a chamar por nós!

Para que a entrada no ritmo da escola seja feita da forma mais tranquila possível, é recomendável que, cerca de duas semanas antes, as rotinas comecem a retomar a forma do calendário letivo. Começar a jantar mais vezes à hora habitual, e gradualmente aproximar a hora de dormir daquela que está estipulada para o tempo de aulas. Ao mesmo tempo, os hábitos de estudo devem retomar lentamente, com a família a definir períodos de estudo mais formal algumas vezes por semana ou até diariamente (dependendo das necessidades da criança). Nestes momentos, os conteúdos estudados devem ser uma revisão de matéria que já foi lecionada, e não propriamente antecipação de conteúdos. Estes momentos não devem ser encarados com a seriedade de quem estuda para um teste, mas devem ser fortemente promovidos, para que a estrutura necessária a um desempenho escolar o mais ajustado possível, retorne. Podem, em conjunto, estipular pequenos objetivos (ex. uma ficha por dia; três fichas por semana) que promovam a aproximação da rotina escolar. É normal que os mais novos resistam a estes momentos, pelo que devem ser implementados de forma gradual. É mais benéfico que o estudo nesta fase seja de disciplinas que terão continuidade, como por exemplo o português e a matemática.

Resumindo, o verão é época de descansar. Não raras vezes o período letivo é demasiado longo para a capacidade cognitiva e emocional das nossas crianças, pelo que devemos promover ao máximo a brincadeira e o descanso. Isto não quer dizer que não vamos promover a estimulação do seu cérebro e corpo, mas não nos podemos esquecer de que isso nunca será feito apenas na escola!

Leia ainda: Desempenho académico e exigência em relação às notas

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

Autores ConvidadosBem-estarCultura e LazerParentalidadeVida e família