Vida e família

Desempenho académico e exigência em relação às notas

Pode a excessiva exigência académica contribuir para o desenvolvimento menos saudável de um jovem?

Pode a excessiva exigência académica contribuir para o desenvolvimento menos saudável de um jovem?

Não podemos negar que a vida académica é uma parte fulcral do desenvolvimento das crianças e jovens. Não podemos negar igualmente que não pode ser vista como a parte mais importante da sua vida.

Quando questionados acerca da escola, muitos pais falam imediatamente sobre as notas. São, de facto, uma informação importante, mas há muito mais de que falar: a relação com os professores, colegas e amigos; as brincadeiras preferidas; a hora das refeições; as atividades extracurriculares...

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Ficariam espantados com a quantidade de crianças e adolescentes que surgem na consulta com a crença de que grande parte do seu valor pessoal é definido pelas notas. E, por norma, esta não é uma crença fácil de alterar... Esta pode ser originada e reforçada por vários fatores: características da personalidade, nível de exigência dos pais, professores e outras figuras importantes e por vezes até acontece por modelagem, quando os pais exercem cargos de grande importância e/ou valorizam muito (por vezes até excessivamente) o trabalho.

O perigo de uma autoestima assente na componente académica pode levar a fortes traços de perfeccionismo (que, claro, também podem contribuir para o surgimento do problema), pouca tolerância ao erro, ansiedade de desempenho e expectativas irrealistas em relação ao próprio. Estes fatores, por sua vez, funcionam recorrentemente como fator predisponente para a emergência de perturbações do foro mental, nomeadamente de ansiedade e depressivas. E quando estas estão presentes, as dificuldades na escola tendem a ganhar uma outra dimensão...

É extremamente comum que um desempenho irrepreensível na escola não dure para sempre, tanto porque o nível de exigência académica aumenta, como pelo facto de a vida acontecer e não estarmos sempre no nosso melhor – variáveis emocionais têm um amplo impacto nos estudos.

Não me interpretem mal, ser minimamente exigente com as notas é importante, no sentido em que acaba por ser uma das atividades principais dos jovens e pode, de facto, impactar o seu futuro. Os pais são fundamentais no percurso académico e o seu apoio pode verdadeiramente fazer a diferença. Mas há algo que não me canso de dizer: os pais são pais, não são professores.

Quando as coisas na escola estão a ser demasiado difíceis ou de facto as notas não parecem corresponder ao verdadeiro potencial da criança, deve ser pedida ajuda para que não ponhamos em perigo a relação entre pais e filhos, que deve ser mesmo isto. Há competências que profissionais especializados nesta área têm que não é expectável que os pais tenham. Por isso façamos uma monitorização dos trabalhos e do estudo, ajudemos naquilo que nos é possível, mas saibamos perceber quando é altura de dividir o peso.

Recorrentemente também vemos crianças a ser premiadas pelas notas, mas nunca pelo esforço. Será que uma criança que se esforçou muito a estudar para um teste e teve nota mais baixa não deve ser tão reforçada como uma que se esforçou muito e teve boa nota? Ou até como uma que até nem precisa de se esforçar muito e tem boa nota na mesma? Sabemos que para muitas crianças, fazer um esforço é difícil e mesmo quando este está presente, muitas vezes não leva a notas satisfatórias. Estas fazem parte das tais situações em que pedir ajuda é fulcral.

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Existem algumas formas de descentrar a atenção apenas das notas: é importante valorizar outras competências presentes na criança, como uma atividade extracurricular ou um hobbie; características da sua personalidade; competências socioemocionais... Falar destes temas, dando-lhes igual importância à que damos ao desempenho académico, é um caminho importante para que as crianças aprendam que o seu valor vai muito além das suas capacidades enquanto alunas.

Outra questão importante é a nossa atitude e comportamento quando surge uma negativa ou uma nota mais baixa. Não digo que vamos parabenizar essa nota, mas se o esforço esteve presente, é importante que este seja valorizado. Estando presente ou não, é importante perceber como o jovem se sente perante a nota e o que acha que pode ter falhado. Neste momento podemos em conjunto refletir sobre o que ficou por consolidar ou que aconteceu para que o desempenho tenha sido mais baixo, de forma que na próxima vez corra melhor! Quem sabe não foi um bom dia ou o método de estudo não foi o mais eficaz.

Perceber que tipo de alunos são os nossos filhos é fulcral para que o seu estudo seja mais produtivo. Nem todos nós estudamos bem através de leituras e resumos: algumas pessoas precisam de pistas mais visuais ou até auditivas. Todos conhecemos alguém que estuda em pé, de folhas na mão, a falar consigo mesmas!

Por último, é importante não nos esquecermos que, tal como tem de existir tempo dedicado a trabalho e estudo, também tem de existir tempo para diversão e para não fazer nada. O balanço entre estes dois aspetos é parte fulcral do desenvolvimento saudável de uma criança e adolescente!

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Psicóloga Clínica (C.P. 26342) de crianças e adolescentes no Instituto Belong. Experiência na dinamização de cursos de preparação para a natalidade e parentalidade. Membro fundador e dinamizador do Socializa.T, programa de promoção de competências sócio emocionais em crianças e adolescentes. A frequentar a Especialização Avançada em Psicoterapia no ISPA.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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