Cultura e Lazer

Namoros, casórios e um padroeiro cheio de lendas

Enquanto não se fixam novos provérbios sobre o namoro na era das redes sociais, vejamos as dicas dos mais antigos sobre isso do amor romântico e dos casamentos.

Nisto de Dia dos Namorados, antes de mais, talvez conviesse apresentar o anfitrião da festa. Acontece que essa talvez seja uma tarefa mais difícil do que encontrar um par romântico com quem se queira casar. É que se existem algumas teorias sobre a vida de São Valentim, faltam as certezas. E de “certezas” sobre namoros e casamentos, bem, disso está o nosso adagiário popular cheio.

São Valentim, faça o favor de se apresentar

Um mártir do século III, eis o resumo mais consensual. Nalgumas referências, Valentim foi um padre de um templo em Roma; noutras, um bispo de Terni. Em comum às duas versões, a morte por decapitação. Seriam ambos a mesma pessoa? Sem provas absolutas, em 1969, a Igreja Católica retirou São Valentim do calendário de celebrações litúrgicas, embora continue a considerá-lo como santo.

Valentim é o protetor dos epiléticos, dos apicultores e, razão da sua grande fama, dos namorados; também há quem o invoque contra a peste. Novamente, existem algumas lendas a justificar a associação do santo ao amor romântico. Uma delas refere que o padre, preso e condenado pelo imperador, teria assinado uma carta endereçada à filha do seu carcereiro – com quem travara amizade e a quem curara da cegueira – utilizando a fórmula “do teu Valentim”; outra história alega que Valentim teria desafiado as ordens do imperador romano, ao celebrar secretamente casamentos cristãos, de forma a evitar que os homens fossem compulsivamente integrados no exército.

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Namoros de Carnaval e de verão? Mau presságio

Independentemente da verdade, a festa de São Valentim tornou-se um evento à escala mundial, se bem que também existam discrepâncias no dia da celebração (14 de fevereiro é a data mais comum).

E quando surgiu essa convenção de um dia dedicado ao amor romântico? Eis mais uma descida à espiral das hipóteses e teorias. Cita-se bastante o século XIV e a influência do poeta inglês Geoffrey Chaucer. E a crença, durante a Idade Média, de que os pássaros encontravam o seu par em meados de fevereiro.

Indaguemos então, no adagiário português, se fevereiro é mês propício para encontrar um mais-que-tudo. “Namoro de Carnaval, não chega ao Natal”, defende-se num provérbio. O cenário não melhora nos meses de verão: “Namoro de praia, enterra-se na areia”. Talvez seja melhor presumir que, no Dia dos Namorados, os pares já estejam formados…

Trate-se então do presente e do jantar romântico, mas atenção, que os nossos antigos não apreciavam os excessos passionais públicos: “Cuidam os namorados que os outros têm os olhos fechados”, avisa-se, numa ideia que também conhece outra versão: “Pensam os namorados que os outros olhos são cegados”. Nada que impeça demonstrações de afeto, claro. Um beijo apaixonado, felizmente, não é crime.

Ao escolher namoro, nem pressas, nem…amor

Se as literaturas francesa e inglesa dos séculos XIV e XV são apontadas como difusoras da ideia de oferecer cartas de amor – ou outros objetos simbólicos de devoção amorosa – durante o Dia dos Namorados, os provérbios portugueses dão mais dicas para a fase da escolha de noivo. “Quem acerta no casar nada lhe falta acertar” será uma das máximas mais reconfortantes. Mas, para conseguir esse acerto, é melhor ter paciência, pois “Quem casa a correr, toda a vida tem para se arrepender”.

E se pensam que o amor era razão popular para o casamento, desenganem-se. Eis três (!), ditados que dissuadiam um casamento por esse motivo:

“Quem casa por amores sempre vive com dores”;

“Por afeição te casaste, a trabalhos te entregaste”;

“A quem casa por amores, maus dias e piores noites”.

Se bem que possa haver alguma ironia, e até malícia, nestas piores noites, este também é o retrato de um passado onde as uniões, muitas vezes, eram ditadas por motivos puramente económicos.

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Da zanga passageira ao “Quem casa quer casa”

Encontrada a pessoa certa, não será uma discussão a deitar tudo a perder. “Pelejas de namorados são amores renovados”, sentencia um adágio, logo secundado por outro semelhante: “Arrufos de namorados, são amores dobrados”. Se tudo correr bem, até se marca data da boda. Eis-nos chegados, finalmente, a um dos provérbios mais conhecidos e ainda bastante usado: “Quem casa quer casa”. (Existe outra versão, mais moderna: “Casamento, apartamento”). Ou seja, o novo casal deve viver sem mais ninguém, pois “Em sua casa cada um é rei”.

Não queremos terminar, no entanto, sem um piscar de olhos aos menos interessados nisto dos casamentos. O nosso adagiário, já se sabe, tem palavras de conforto para todas as situações: “Mais vale toda a vida solteira que uma hora mal casada”. O respetivo contraditório? “Antes casada arrependida que freira aborrecida”. Nisto de namoros, enfim, é um bocado como a lenda de São Valentim: cada um que escolha aquilo que mais lhe agrada.

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

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