Pessoa paga num terminal multibanco com um cartão de crédito contactless

Ter um cartão de crédito pode ser uma grande vantagem no dia a dia. Permite pagar compras, fazer reservas, aproveitar benefícios e lidar com imprevistos. No entanto, para muitos portugueses, este instrumento financeiro transforma-se rapidamente num peso no orçamento. O motivo é simples: a facilidade de acesso ao crédito e a possibilidade de adiar pagamentos levam à acumulação de dívidas difíceis de pagar. Assim, usar um cartão de crédito com responsabilidade não é apenas uma boa prática, é uma necessidade.

Quando mal gerido, o cartão de crédito acumula juros elevados, comissões e penalizações que comprometem a estabilidade financeira. Já quando usado de forma consciente, oferece flexibilidade, benefícios e segurança. A diferença está no comportamento do utilizador e na capacidade de resistir ao crédito fácil.

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Pague sempre a totalidade da fatura

O maior erro é optar pelo pagamento mínimo, que normalmente varia entre 3% e 10% do saldo em dívida. Esta opção pode parecer cómoda, mas prolonga o prazo da dívida e aumenta o valor pago em juros.

Por exemplo, se tiver uma dívida de 1.000 euros, e pagar apenas 30 euros por mês, significa que, com juros médios anuais de 16%, vai ter de suportar cerca de 330 euros em juros, e só ao fim de 46 meses é que o seu financiamento é liquidado. Ou seja, por um crédito de 1.000 euros, paga quase um terço do valor que pediu em juros e fica preso a um financiamento de 3 anos e 10 meses.

Dito isto, sempre que possível, liquide a fatura por inteiro dentro do prazo. Assim, evita juros e mantém o controlo das suas finanças. Se não conseguir, pague o máximo que for possível.

É esta disciplina que separa quem usa um cartão de crédito com responsabilidade de quem cai na espiral de endividamento.

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Conheça bem as condições do seu cartão

Antes de usar o cartão, saiba exatamente quanto custa. Informe-se sobre a TAN (Taxa Anual Nominal), a TAEG (Taxa Anual de Encargos Efetiva Global) e todas as comissões associadas.

Em Portugal, o Banco de Portugal define uma TAEG máxima para cartões de crédito e outros créditos ao consumo. No 3.º trimestre de 2025, a TAEG máxima para os cartões de crédito é de 19,1%. Porém, as taxas reais variam consoante o banco.

Muitos cartões anunciam “anuidade grátis” ou “sem custos no primeiro ano”. Mas podem ter encargos elevados noutras operações, como levantamento de dinheiro (cash advance), conversão de moeda estrangeira ou emissão de segunda via. Ler o contrato e perceber todas as cláusulas é essencial para evitar surpresas.

Evite levantamentos em dinheiro

O chamado cash advance é um dos movimentos mais caros que pode fazer. Imagine que levanta 200 euros com o cartão: pode pagar uma comissão de 4% (8 euros) mais uma taxa fixa, e ainda começar a pagar juros no próprio dia, mesmo que liquide o saldo no final do mês. É uma operação a reservar para emergências.

Para necessidades de liquidez, avalie alternativas como um crédito pessoal (onde as taxas costumam ser mais baixas e os encargos menores) ou até o recurso a poupanças.

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Controle os gastos com alertas e limites

Estabelecer um limite mensal para o cartão é uma forma simples de evitar surpresas na fatura. Mesmo que o banco lhe conceda um limite de 3.000 euros, isso não significa que deva gastar esse valor. Defina o seu próprio teto, adequado ao que pode pagar.

Ativar alertas por SMS ou na app permite acompanhar as compras em tempo real. Por exemplo, se receber uma notificação de uma compra que não reconhece, pode contactar de imediato o banco e evitar uma fraude.

Resista às compras por impulso

O cartão de crédito pode criar a ilusão de que existe “dinheiro extra”. Como o dinheiro não sai logo da conta, é mais fácil ceder a promoções ou compras emocionais. O problema surge no final do mês, quando várias compras pequenas se acumulam e tornam-se difíceis de pagar.

Antes de passar o cartão, pergunte-se se realmente precisa daquele produto ou se é apenas uma compra motivada pelo momento. Esperar 24 horas antes de decidir pode evitar muitas despesas desnecessárias.

Leia ainda: Saiba como evitar as compras por impulso

Proteja os dados do seu cartão

O número, a data de validade e o código CVV do cartão são a chave para transações online. Nunca os partilhe por email, redes sociais ou em sites sem ligação segura (https://). Evite ainda guardar fotos destes dados no telemóvel.

Se perder o cartão ou suspeitar de fraude, contacte o banco imediatamente para o bloquear. Quanto mais rápido agir, menor será o prejuízo.

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Mulher segura em vários cartões de crédito

Não acumule cartões sem necessidade

Ter vários cartões aumenta o risco de perder o controlo sobre os pagamentos e amplia o montante de crédito disponível. Por exemplo, se tiver três cartões com limites de 2.000 euros cada, terá acesso a 6.000 euros de crédito e a tentação de usar mais do que pode pagar.

Se não utiliza um cartão com frequência, considere cancelá-lo. Menos cartões significa menos custos e mais facilidade na gestão das contas.

Negocie sempre que possível

Negociar não é só para novos contratos. Mesmo com um cartão já ativo, pode pedir ao banco uma redução da taxa de juro, isenção de anuidade ou acesso a programas de benefícios. Compare ofertas de diferentes instituições e use essa informação para melhorar as suas condições.

Por exemplo, se o seu cartão tem uma TAEG de 18% e encontrar outro com 15%, essa diferença pode representar uma poupança significativa ao longo do tempo.

Avalie se precisa realmente do crédito

Usar um cartão de crédito de forma responsável começa antes de o utilizar. Pergunte-se se precisa mesmo de recorrer ao crédito. Para compras de valor mais elevado, como um eletrodoméstico ou uma viagem, talvez seja melhor poupar primeiro. Além de evitar juros, mantém a sua taxa de esforço mais baixa.

Conheça a sua taxa de esforço

A taxa de esforço é a percentagem do rendimento mensal que destina a créditos. Se o total das suas prestações ultrapassar 30% do rendimento líquido, o risco financeiro aumenta. No caso dos cartões de crédito, mesmo que não esteja a usar todo o limite, ele é tido em conta no seu Mapa de Responsabilidades no Banco de Portugal e influencia futuras aprovações de crédito.

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Invista em literacia financeira

Quanto melhor perceber o funcionamento das taxas de juro, comissões e as condições de um crédito, mais facilmente evitará erros. A literacia financeira permite negociar melhores condições e reconhecer armadilhas. É também a melhor proteção contra o sobreendividamento.

Usar um cartão de crédito com responsabilidade é mais do que pagar as contas a tempo. É saber planear, evitar compras desnecessárias, proteger os dados e conhecer o verdadeiro custo do crédito. Com disciplina e informação, o cartão deixa de ser um risco e passa a ser uma ferramenta útil para gerir as finanças.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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