No início de 2022 identificámos alguns temas que poderiam ter impacto no ano que agora termina: o covid, a inflação, taxas de juro, nacionalização/globalização, conflitos geopolíticos e transição energética. De entre todos estes assuntos abordados, três destacaram-se claramente como os mais relevantes do ano.
Conflito geopolíticos
Em janeiro, quando escrevemos o artigo, ainda desconhecíamos a intenção da Rússia em invadir a Ucrânia. Sem dúvida que esta tomada de posição por parte de Putin acabou por marcar o ano de uma forma negativa, por vários motivos. O primeiro, porque a guerra nunca será uma solução, numa guerra todos perdem. No mais importante, perdem-se vidas, destroem-se lares, cidades, geram-se sentimentos de raiva, de ódio e de frustração. Na vertente económica, este conflito origina enormes dificuldades a quem nele está envolvido, mas não só. Vivemos num mundo global, onde todos interagem uns com os outros. Sendo a Rússia e a Ucrânia dois países com grande relevância energética, este conflito acaba por ter uma dimensão económica muito superior, com maior impacto na Europa.
Inflação
Durante o século XXI e até 2022, a inflação sempre foi um tema relevante, mas controlado. O surgimento do covid, toda a incerteza que se gerou e os confinamentos generalizados obrigaram as autoridades monetárias e os governos a intervirem fortemente na economia. Assim, os apoios gerados e a facilidade de crédito promovida pelos bancos centrais originaram uma enorme liquidez na economia e nos mercados financeiros. Esta mensagem passou para os consumidores, que apresentaram um comportamento consumista, por dois motivos diferentes: O primeiro justifica-se pela elevada corrida ao consumo no pós-confinamento; o segundo teve a ver com a facilidade de crédito para famílias e empresas que tornou todo este movimento ainda mais efusivo. Para complementar, o consumo aumentou, mas a produção não, o que significa que o efeito de subida de preços verificou-se, sobretudo, pelo aumento do lado da procura.
Taxas de juro
Ao longo dos últimos dois anos, fomos alertando para o facto de as autoridades monetárias não estarem a analisar os dados com o devido pormenor, uma vez que a inflação seria um processo natural em função da informação/indicadores que estariam disponíveis. Com a escalada dos preços e com o custo do nível de vida a aumentar, as autoridades monetárias foram obrigadas a acelerar as subidas das taxas de juro. Nos EUA, ao longo deste ano, a Reserva Federal Americana subiu 4% a taxa de referência, enquanto o BCE subiu 2,5%. Neste momento, as autoridades monetárias estão a correr atrás do prejuízo, tentando acalmar a economia e voltar a ter controlo da inflação, de forma que o custo de vida se mantenha mais estável.
Leia ainda: BCE volta a subir juros e avisa que aumentos vão continuar
Volatilidade
Esta foi outra palavra-chave ao longo do ano de 2022. Os mercados financeiros tiveram um ano negativo, muito suportado nos três temas identificados anteriormente, com os ativos a apresentarem grandes oscilações. Como exemplo, as cripto que vinham gerando o interesse de muitos investidores, sofreram quedas consideráveis e, nesta fase, são um tema com muito menor relevância que há um ano. Os mercados acionistas também apresentaram correções de dois dígitos, o mesmo sucedendo com o segmento das obrigações, que foi muito impactado pela subida agressiva e generalizada das taxas de juro por parte dos diferentes bancos centrais.
Covid e Nacionalização/globalização
Estes dois temas continuam a ter um impacto importante na nossa sociedade. Na China, por exemplo, o covid continua a condicionar a abertura total da economia, uma vez que as autoridades continuam a ter uma abordagem de covid zero, o que tem condicionado e muito a atividade económica da China.
A globalização também tem sofrido alguma desaceleração, porque existem disputas entre diferentes blocos que se tentam condicionar mutuamente. Como exemplo, a disputa da liderança económica entre EUA/ China está a originar algumas medidas por parte das autoridades americanas que implicam, por exemplo, barreiras ou tarifas a muitos bens provenientes da China. Este retrocesso na globalização poderá ter reflexo no custo de produção de muito bens, o que, no limite, poderá ser mais um foco de pressão na inflação. Se juntarmos a este exemplo o surgimento, por todo o mundo, de movimentos/partidos que centram o seu discurso na nacionalização, percebemos que poderemos esta na presença de uma desaceleração do processo de globalização.
Em resumo, o ano de 2022 foi difícil e muito desafiante, com muitos focos de instabilidade. Em termos económicos, 2023 voltará a ser marcado por uma volatilidade elevada e, esperemos nós, por uma tendência de normalização da inflação e consequentemente, do nível de custo de vida. A incerteza irá continuar a marcar presença. É importante que tenhamos sempre um pensamento positivo, até porque as oportunidades não escolhem timings ou contextos, elas existem e “só” temos de estar atentos para as poder concretizar.
Leia ainda: A importância de (saber) poupar
Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário