As mexidas nos tetos dos montantes que podem ser subscritos, a par do facto de os bancos estarem a reduzir as remunerações pagas pelos depósitos, continuam a surtir efeito na procura pelos Certificados de Aforro, que em janeiro bateram um novo recorde.
Depois de um ano marcado por um menor apetite dos aforradores, os últimos quatro meses foram de inversão de tendência que se consolidou em janeiro. Ao todo, as famílias aplicaram mais 381 milhões de euros em janeiro neste produto de poupanças do Estado para mais de 35 mil milhões de euros, um recorde. Em termos homólogos, e, portanto, face ao mesmo mês de 2024, a diferença supera os mil milhões de euros.
Este reforço das famílias acontece, apesar da descida e da expectativa de continuação da trajetória descendente da Euribor, o indexante da remuneração paga por estes Certificados.
Este regresso aos Certificados de Aforro, no último trimestre de 2024, surge depois de 11 meses seguidos de valores negativos (mais resgates do que subscrições).
Entre julho de 2022 e julho de 2023 os portugueses aplicaram mais de 20 mil milhões de euros nestes produtos de poupança do Estado, sendo que a corrida estancou no verão de 2023, quando o Governo decidiu alterar as regras dos Certificados de Aforro, limitando substancialmente a sua rendibilidade.
Mexidas nas regras e depósitos são a explicação
Quando o governo decidiu baixar a remuneração máxima dos Certificados de Aforro para 2,5%, em junho de 2023, a procura destes produtos estagnou, até porque a taxa dos depósitos bancários estava em trajetória ascendente, tendo mesmo superado a fasquia dos 3% no final desse ano.
A remuneração dos Certificados de Aforro tem estado estagnada neste patamar de 2,5%, ao contrário do que se verifica nas taxas de juro dos depósitos, que baixaram de forma constante ao longo de 2024, num movimento que deverá persistir este ano. É esta tendência que explica o regresso em força dos portugueses aos Certificados de Aforro na reta final de 2024, pois estes produtos estão agora mais atrativos na comparação com os depósitos.
Além disso, é preciso ter em conta que esta inversão da tendência negativa da procura dos aforradores coincidiu com as mudanças das regras anunciadas pelo Governo em setembro. O Executivo subiu o limite máximo de subscrição para os certificados de aforro da atual série F de 50 mil euros para 100 mil.
Ao mesmo tempo, sobe também o investimento acumulado em certificados da série E e da série F. Se até aqui era de 250 mil euros, passou para 350 mil euros. No entanto, o regresso dos portugueses aos Certificados de Aforro não afetou os depósitos, que captaram mais de 4,5 mil milhões de euros no último trimestre de 2024.
Certificados do Tesouro continuam em queda
Já os certificados do Tesouro não gozaram da mesma sorte e mantêm a trajetória negativa, que se observa desde o final de 2021. O “stock” mensal deste produto, ou seja, o saldo entre novas subscrições e resgates, foi de 9.587,35 milhões de euros, menos 154,97 milhões de euros do que em dezembro. Em termos homólogos, esta diferença é de mais de 1.200 milhões de euros.
Os Certificados do Tesouro são outro instrumento de financiamento do Estado. O lançamento dos primeiros foram no ano de 2010 com um prazo máximo de 10 anos e estes foram a edição mais rentável até ao momento, tendo sido lançados num período em que o Estado estava com dificuldades em se financiar no mercado internacional devido à crise financeira.
Enquanto, nos Certificados de Aforro a taxa depende da Euribor a três meses e os juros são calculados trimestralmente, nos Certificados do Tesouro, há uma taxa crescente predefinida, sendo que a partir do segundo ano existe um prémio extra correspondente a 40% do PIB.
Além disso, a subscrição de Certificados do Tesouro obriga a uma subscrição mínima de 1.000 euros, dez vezes mais do que é necessário aplicar nos Certificados de Aforro. Estes dois produtos distinguem-se ainda pelo prazo máximo que se situa nos 10 anos para os Certificados de Aforro e nos sete anos para os Certificados do Tesouro.
A quebra do valor alocado pelos portugueses a este último produto foi, no entanto, compensada pelo aumento expressivo do montante colocado em Certificados de Aforro, pelo que o saldo total de janeiro é de mais de 4.700 milhões de euros, uma subida de cerca de 226 milhões face a dezembro e de quase 165 milhões em comparação com janeiro de 2024.
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