Mulher agarra uma moeda com o logótipo da Bitcoin, porque está a investir em criptomoedas

Investir em criptomoedas atrai cada vez mais pessoas, mas também esconde riscos sérios. Se quer saber como investir em criptomoedas sem comprometer as suas finanças, comece por conhecer os cuidados essenciais.

Não há rendimento elevado sem volatilidade expressiva. Por outras palavras, quem quer ganhar muito, deve estar disposto a perder a qualquer momento.

Esta é uma realidade em ativos de elevado risco, e extremamente clara no caso das criptomoedas. Além desta componente de risco, deve ainda ter em conta – antes de investir neste segmento – que há projetos de crescimento e outros que são oásis para scam. Assim, siga estes passos antes de entrar neste universo.

Vale a pena investir em criptomoedas?

Desde 2024, a escalada da bitcoin – que ultrapassou a fasquia dos 123 mil dólares – e a valorização de outras criptomoedas, também conhecidas como altcoins, serviram de chamariz para o investimento neste segmento.

Decidir se deve ou não investir em criptomoedas depende do seu perfil de risco e objetivos financeiros. As criptomoedas podem gerar ganhos elevados, mas também perdas rápidas. Para investidores conservadores, não são recomendadas. Para perfis arrojados, podem ser uma opção – desde que invista apenas o que está disposto a perder e siga boas práticas.

Riscos, volatilidade e segurança no mundo cripto

No entanto, se pensa investir, tenha em conta que este tipo de instrumentos financeiros sofrem oscilações muito expressivas.

Assim, é normal assistir a variações de preços que excedem frequentemente 5% a 10% num único dia. Não é preciso ir longe. Basta lembrar os movimentos recentes em que, depois de ultrapassar os 60 mil dólares em 2021, a bitcoin desvalorizou, tendo demorado quase três anos a voltar a este patamar.

Isto significa que terá de ter um perfil voltado para o risco elevado, o que não é comum, sobretudo entre os investidores portugueses. Por outras palavras, terá de ser um investidor arrojado, alguém que quer obter rendibilidades elevadas e está disponível para assumir perdas avultadas de capital. Este investidor consegue dormir à noite, mesmo sabendo que o seu património pode estar a sofrer perdas.

São muitas as plataformas que, antes de criar uma conta, o obrigam a preencher um questionário, para que saiba qual é o seu perfil de investidor. Para ter uma ideia, pode recorrer ao Simulador de Perfil de Investidor.

Como começar a investir em criptomoedas em Portugal

Como escolher a plataforma

Aqui, há um mar de opções, desde as mais às menos seguras. A primeira questão é perceber se prefere plataformas centralizadas (como a Binance ou Coinbase), com maior controlo e mais segurança, ou descentralizadas, onde existe mais liberdade, mas também mais riscos.

Os números da consultora Immunefi são claros: no ano passado, mais de 51% das perdas no ecossistema cripto, fruto de pirataria informática e fraude, aconteceram em plataformas descentralizadas (conhecidas como DeFI), contra 48,6% em entidades centralizadas.

Esta é uma tendência que se repete todos os anos, até porque nestas plataformas não existe um sistema central de gestão, já que o poder é distribuído por várias personalidades.

Como criar conta numa plataforma de criptomoedas

Criar uma conta numa plataforma de criptomoedas centralizada é bastante semelhante a criar um perfil de utilizador numa corretora online de investimento.

Como acontece com qualquer serviço, vai precisar de preencher as suas informações pessoais. Além de ter de fornecer um email e definir uma palavra-passe de acesso à conta, terá de indicar o seu nome, data de nascimento, nacionalidade, número de telefone e número de identificação fiscal (NIF).

Mais à frente (o momento exato depende da corretora), terá de validar a sua identidade. Na Degiro, por exemplo, isto acontece logo a seguir a preencher os seus dados pessoais, mas na XTB tem lugar apenas no final do processo, já depois de preencher o questionário do investidor e assinar todos os documentos.

Para verificar a sua identidade, a corretora vai pedir para tirar uma foto de um documento de identificação (como cartão de cidadão, passaporte ou autorização de residência) e gravar um pequeno vídeo para garantir que é uma pessoa real que está a tentar abrir a conta.

Dependendo da plataforma e da oferta disponível, o momento em que fornece as suas informações pessoais é também aquele em que deve indicar que tipo de conta quer abrir. Outro passo essencial para abrir conta numa corretora é indicar a residência fiscal

Checklist para investir em criptomoedas

  1. Defina o seu objetivo e perfil de risco – Pergunte-se por que quer investir. Está preparado para perdas? Nunca invista mais do que pode perder.
  2. Verifique se a corretora é regulada e confiável – Prefira corretoras conhecidas e com histórico sólido. Evite plataformas sem transparência.
  3. Ative a autenticação de dois fatores (2FA) – Aumenta a segurança da sua conta e reduz risco de ataques.
  4. Use carteiras seguras (hot e cold wallets) – Não deixe grandes quantias na plataforma. Considere uma carteira física para maior proteção.
  5. Invista apenas o que pode perder – Nunca comprometa poupanças essenciais. 5% do seu portfólio é o limite máximo habitualmente referido pelos especialistas.
  6. Diversifique com outras classes de ativosNão concentre todo o capital em cripto. Mantenha ações, obrigações ou fundos para equilibrar o risco.
  7. Faça pequenas transações de teste – Antes de transferir grandes valores, teste com montantes reduzidos.
  8. Conheça as implicações fiscaisGanhos com a venda de criptomoedas detidas durante menos de um ano são tributados em Portugal. Informe-se sobre as regras de tributação dos criptoativos, incluindo as referentes ao staking e ao yield farming.

Estratégia de diversificação

Ainda que tenha um perfil arrojado e seja um fã de criptomoedas, lembre-se de que o bom investidor conta com uma carteira equilibrada, em que parte permite cobrir o risco de perdas da outra parte. Ou seja, por cada cripto, tente investir em ativos com menor risco, como obrigações ou ações com menos volatilidade.

Para facilitar esta tarefa, o ideal será mesmo escolher uma plataforma de investimento que, além de cripto, ofereça outros ativos financeiros, como a Revolut ou a Xtb, por exemplo.

Nestas plataformas, terá ainda uma garantia maior de que estão a ser cumpridas as regras de retenção fiscal que se aplicam às cripto.

Criptomoedas num computador portátil de um investidor que quer saber como investir em criptomoedas

Cibersegurança e perda de ativos

Na primeira metade deste ano, o mercado foi surpreendido por mais um scam. Haliey Welch, o rosto por trás do viral meme “Hawk Tuah” no Youtube, foi a cara do lançamento da criptomoeda HAWK. Este token atraiu rapidamente a atenção de investidores e entusiastas de memes, e horas depois conseguiu uma capitalização de cerca de 490 milhões de dólares.

Porém, com a mesma velocidade com que o dinheiro chegou, também se foi embora, e a criptomoeda acabou por perder quase todo o seu valor (90%) em menos de dois dias. Este episódio ensina que existem criptomoedas com projetos próprios que sustentam o seu valor, e outras que são apenas meme coins, geradas para atrair fama e dinheiro e que acabam por desaparecer.

Além disso, deve ter em conta que existem criptomoedas que são verdadeiros scam, servindo como isco para atrair investidores, e que acabam por desaparecer. Assim, confirme sempre se estas cripto estão disponíveis em plataformas centralizadas e confirme dados como a volatilidade ou data de criação em bases de informação como a Coin Market Cap.

O que faz de uma criptomoeda mais cara e mais séria?

Existem dois tipos de criptomoedas: as que são símbolo de um projeto blockchain, como a bitcoin, fruto da rede com o mesmo nome, e outras que estão assentes em redes que já possuem uma criptomoeda símbolo. Por exemplo, a rede ethereum sustenta, além da criptomoeda ether, uma série de tokens.

Para perceber de que token estamos a falar, deve ler sempre o documento constitutivo de cada token, conhecido em português como “livrete branco”, uma tradução literal da expressão whitepaper presente no regulamento europeu dos criptoativos (MiCA).

E o que é uma rede blockchain? Para explicar este conceito, vejamos o exemplo da bitcoin: Para poder cumprir com o seu propósito, foi necessário desenvolver uma tecnologia que permitisse transacionar esta criptomoeda e que, simultaneamente, assegurasse todos os pressupostos subjacentes. Assim, nasceu a blockchain. O princípio fundamental da blockchain é a confiança, visto que assume que todas as pessoas podem mentir e errar.

De uma forma simplificada, são blocos de informação, digitalmente interligados entre si. Interligados no sentido de serem dependentes entre si e impossíveis de alterar. Estarem dependentes entre si significa que qualquer transação tem de respeitar a anterior, que não pode ser alterada.

Adicionalmente, todos os blocos de informação relativos àquelas transações estarão sempre ligados (como que acorrentados, daí blockchain) e visíveis por todas as pessoas que tenham acesso a eles. Imagine uma folha de excel onde estão registados a origem, o montante e o destino daquela transferência, visível por todos e impossível de alterar.

blockchain, com as suas características, é uma tecnologia que já encontrou utilização para além da bitcoin, sendo usada por diversos setores de atividade. Neste momento, há quem considere que a sua criação terá mais impacto que a própria bitcoin.

Diferença entre criptomoedas e derivados de criptomoedas

ETF de criptomoedas

Por fim, ao pesquisar um produto numa qualquer plataforma de investimento (mesmo que seja só de cripto) não olhe só para os nomes a negrito como “bitcoin” ou “cardano”, mas para as letras mais claras que descrevem o produto.

Isto porque pode estar a selecionar não uma criptomoeda, mas um produto correlacionado. O mais procurado neste momento são os ETF de criptomoedas. Exchange Traded Funds (ETF) permitem exposição à bitcoin, ether e outras cripto, assim como a empresas ligadas à blockchain. 

No fundo, estes instrumentos acompanham o desempenho de uma determinada indústria, setor e da própria criptomoeda e podem ser adquiridos numa bolsa de valores. A vantagem é que cada unidade de participação, que ronda as dezenas de dólares ou euros, será mais barata que uma criptomoeda ou ação e permite que se invista em tokens sem lhes tocar.

Opções sobre criptomoedas

Além disso, é comum encontrar nestas plataformas opções sobre criptomoedas. As opções são contratos, que podem ser comparados às antigas trocas de bens, em que, por exemplo, uma parte entregava no momento zero 10 ovelhas para receber uma tonelada de milho, que devia ser entregue após a colheita, daí a um tempo determinado. No fim deste contrato, quem entregou as ovelhas, recebia a tal tonelada de milho. Se a colheita fosse boa, podia ficar a ganhar, já que se não tivesse celebrado o acordo teria de pagar mais ovelhas. Se fosse má, ficaria a perder, porque o “valor” da tonelada seria inferior.

Aqui, o cenário é semelhante, sendo a expectativa de subida ou descida do preço do token o que leva a celebrar estes contratos.

Estes acordos contam, por norma, com maturidades entre três e seis meses, em que uma parte fica com o direito (mas não a obrigação) de vender ou comprar o ativo subjacente no final do prazo do acordo. Ao adquirir este tipo de instrumento financeiro, terá de pagar um preço, chamado de prémio. Resumindo, ao comprar uma opção, compra o direito de comprar ou vender uma certa quantidade de criptomoedas no futuro a um preço pré-determinado.  

As opções são, assim, naturalmente arriscadas já que é preciso antecipar a subida ou descida de um bem. A este risco acresce a volatilidade expressiva das criptomoedas, e o facto de haver uma fatia considerável deste tipo de opções oferecidas em plataformas de investimento que são alavancadas.

Ou seja, através de empréstimos fornecidos pelo próprio intermediário financeiro, pode investir apenas 10 euros em opções sobre cripto, mas a “aposta” sobre a descida ou subida será de 100 euros (dado que a plataforma empresta 90). Resumindo, pode multiplicar o dinheiro investido se ganhar, mas se perder, além do valor perdido, terá de devolver 90 euros à plataforma.

Assim, deve evitar aplicar o seu dinheiro em produtos sem conhecimento técnico, sobretudo quando o ativo subjacente for altamente volátil, como é o caso das criptmoedas.

Perguntas frequentes

Siga estes passos:

  1. Escolha uma corretora segura.
  2. Crie uma conta e faça a verificação da identidade.
  3. Adicione um método de pagamento (transferência SEPA ou cartão).
  4. Compre criptomoedas e guarde-as em segurança, preferencialmente numa carteira própria.
  5. Invista apenas o que pode perder e diversifique.

  • Volatilidade extrema: preços podem cair 20% ou mais num dia.
  • Perda total do investimento: não há garantias nem proteção como nos depósitos bancários.
  • Fraudes e esquemas: projetos falsos e golpes são comuns.
  • Risco tecnológico: falhas em plataformas ou ataques cibernéticos.
  • Regulação limitada: mesmo com MiCA, a proteção é menor que em produtos financeiros tradicionais.

É uma ferramenta (app, software ou dispositivo físico) que guarda as chaves privadas que dão acesso às suas criptomoedas.

  • Hot wallets: conectadas à internet (mais práticas, menos seguras).
  • Cold wallets: offline (mais seguras, ideais para grandes valores).

As criptomoedas não ficam na carteira, mas na blockchain; a carteira apenas permite aceder e movimentar os fundos.

Sim. Comprar e vender criptomoedas é legal em Portugal. Desde 2025, aplica-se o regulamento europeu MiCA, que trouxe regras para corretoras e maior proteção ao investidor. No entanto, as criptomoedas não são moeda de curso legal e continuam a ser ativos de risco.

Depende do seu perfil:

  • Perfil conservador: não é recomendado.
  • Perfil arrojado: pode ser interessante, mas com estratégia, diversificação e limite de 5% da carteira.

As criptomoedas têm blockchain própria (ex.: bitcoin, ethereum). Já os tokens são criados dentro de uma blockchain existente (ex.: USDT, MANA na rede Ethereum). Os tokens podem representar utilidades, direitos ou ativos, enquanto as criptomoedas funcionam como meio de troca e reserva de valor.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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