várias notas de euros, organizadas por ordem crescente de valor, para ilustrar o aumento do rendimento das famílias

Em 2024, o rendimento disponível real das famílias portuguesas aumentou 7,8%. De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2025 do Banco de Portugal, o “crescimento refletiu, sobretudo, o aumento da massa salarial e dos outros contributos, como o excedente bruto de exploração, rendimentos de propriedade, impostos e outras transferências líquidas. Este valor corresponde a um aumento do rendimento disponível nominal de 10,5%, o crescimento mais acelerado das duas últimas décadas.

Ao mesmo tempo, a taxa de poupança aumentou pelo segundo ano consecutivo e atingiu os 12,2% do rendimento disponível. Apesar de se manter abaixo da média da zona euro (15,4%), “a diferença entre ambas diminuiu”.

As famílias destinaram essa poupança, sobretudo, a numerário e depósitos e ao investimento em ativos reais, como habitação. Já o investimento em certificados de aforro caiu ligeiramente (0,3%) em relação a 2023.

O Banco de Portugal mostra ainda dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Eurostat. De acordo com o gabinete de estatística da União Europeia, 57% das famílias em Portugal afirmaram ter dificuldade em fazer face às despesas regulares. Mais uma vez, os números portugueses divergem da média da área do euro, onde estas dificuldades foram apontadas por 44% das famílias.

Ainda assim, esta percentagem tem vindo a diminuir, em Portugal, desde 2013, quando atingiu 81%.

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Economia deve continuar a crescer (mas mais devagar)

Depois de ter crescido 1,9% em 2024, a economia portuguesa deverá continuar a crescer nos próximos anos “embora a um ritmo progressivamente mais moderado”, diz o Banco de Portugal.

De acordo com o regulador, esta previsão ganha relevância depois da contração de 0,5% no primeiro trimestre de 2025 e de as projeções de abril do Fundo Monetário Internacional (FMI) terem revisto em baixa o crescimento global.

Já a inflação “foi de 2,7% em 2024, devendo convergir para 2% até 2026, acompanhando a tendência de moderação dos preços dos serviços.

Conjuntura internacional fez aumentar riscos para a economia portuguesa

Os últimos anos têm sido particularmente sensíveis a nível internacional, com o crescimento de conflitos militares e comerciais. Apesar de destacar que “as projeções económicas estão sujeitas a riscos significativos que vêm de trás, nomeadamente os associados à invasão da Ucrânia, ao conflito no Médio Oriente”, o Banco de Portugal considera que o maior risco para a economia portuguesa está do outro lado do Atlântico.

“Em particular, a imposição de direitos aduaneiros pelos EUA sobre exportações da União Europeia poderá ter um efeito adverso relevante na economia portuguesa. A elevada incerteza poderá condicionar as decisões de investimento e consumo por parte das empresas e das famílias”, refere o relatório.

Assim, todos estes conflitos (Ucrânia, Médio Oriente e guerra comercial) aumentam o risco de haver subida dos preços das matérias-primas, disrupções nas cadeias de abastecimento e na inflação, menor crescimento do comércio mundial e maior volatilidade cambial.

Para o Banco de Portugal, tudo isto coloca “novos desafios à atuação dos bancos centrais nas maiores economias avançadas”.

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Mercados financeiros sentiram o impacto

Não é uma informação nova nem surpreendente, mas o Relatório de Estabilidade Financeira destaca que “a instabilidade de mercado agravou-se a partir de fevereiro de 2025, com os anúncios de direitos aduaneiros pelos EUA e as respostas de outros países”.

A volatilidade aumentou e a 4 de abril (dois dias depois do anúncio de Donald Trump), o índice americano S&P500 registou a maior queda desde março de 2020 (coincidente com o grande aumento de casos de covid-19). No entanto, “o anúncio da suspensão dos direitos aduaneiros, no dia 9 de abril, originou o maior ganho diário do S&P500 desde 2008 e do Nasdaq desde 2000”.

Ao mesmo tempo, o “principal índice acionista da área do euro registou até 12 de maio ganhos de 12%, superando o equivalente norte-americano, que acumulou perdas de 1% no mesmo período”, aponta o Banco de Portugal.

Por fim, o ouro atingiu máximos históricos, justificando a sua posição como ativo de refúgio em tempos de incerteza.

Todas estas oscilações ajudam a mostrar como as decisões políticas e comerciais podem mexer com o mercado e a explicar o porquê de o Banco de Portugal considerar que os principais riscos para a economia portuguesa aumentaram.

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Sistema bancário mostrou “solidez e resiliência”

No final de 2024, os bancos apresentavam elevada rendibilidade, carteiras de crédito de boa qualidade, liquidez sólida e níveis de capital robustos. A rendibilidade, em particular, foi superior à média da Zona Euro.

Noutra área, os novos contratos de crédito habitação (excluindo renegociações) totalizaram 17,6 mil milhões de euros, um aumento de 34,3% em relação a 2023.

Para o Banco de Portugal, uma parte da justificação está nas descidas das taxas de juro a partir de meados de 2024. Mas, além disso, diz que “a subida do rendimento disponível e as medidas legislativas de apoio à compra de habitação por jovens, em vigor desde agosto, também terão contribuído para este aumento”.

A melhoria das condições financeiros dos clientes também se refletiu nas transferências de crédito, “que vinham a aumentar desde outubro de 2022, iniciaram uma trajetória de redução a partir de março de 2024”, representando, no final do ano, 21,2% do fluxo anual.

Por fim, o crédito malparado das famílias desceu 0,1 pontos percentuais entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024, fixando-se em 2,3%. No setor da habitação foi de apenas 1,3% e no crédito ao consumo e outros fins foi de 6,1%.

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Preços das casas subiram… e transações também

Em 2024, os preços da habitação subiram 9,1% e o número de transações cresceu 14,5%. De acordo com o relatório, “escassez de oferta de habitação contribui para o aumento dos preços no mercado imobiliário residencial e coexiste com um número elevado de habitações secundárias e devolutas”. Ainda assim, construíram-se 25 mil novas habitações em 2024, um aumento de 4% face a 2023.

Do lado dos compradores, a compra por cidadãos estrangeiros aumentou 6,7% em 2024, tendo representado 29% das transações. O Brasil liderou as aquisições, com 25% das transações com estrangeiros, seguido por Angola e França, com 14% cada.

Regra geral, os cidadãos estrangeiros compram casas mais caras (média de 272 mil euros) do que os portugueses (média de 187 mil euros). Neste campo, destacam-se claramente os compradores do Reino Unido e dos EUA com valores médios de 430 mil euros.

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