Avião de brincar sobre notas e um mapa da cidade de Paris

Na hora de planear as férias, pode surgir a pergunta: vale a pena marcar tudo sozinho ou confiar numa agência de viagens? Por norma, viajar por conta própria pode fazer a diferença no bolso, mas esta não é uma regra universal e ambas as alternativas têm vantagens e desvantagens. 

Para tornar tudo mais claro e palpável, o Doutor Finanças fez uma experiência. Simulámos, numa das principais agências de viagens, uma viagem de 11 dias e oito noites à Tailândia, em novembro, com partida e regresso a Lisboa. Além das passagens aéreas pela Emirates, com escala no Dubai, as viagens incluíam o alojamento em hotéis de quatro estrelas: três noites na capital, Banguecoque; duas noites na localidade paradisíaca de Krabi e três noites na igualmente paradisíaca ilha de Phi Phi Don. 

O pacote abrangia ainda cinco refeições (sem bebidas), todas as deslocações e a visita guiada a alguns dos principais pontos turísticos de Banguecoque: Wat Traimit (Templo do Buda de Ouro), Wat Pho (Templo do Buda Reclinado) e Palácio Real. Estava também incluída uma excursão a Mae Klong, o mercado montado em cima de uma linha ferroviária que os comerciantes desmontam em segundos para que o comboio possa passar, e ao mercado flutuante de Damnoen Saduak. 

Ao todo, o pacote para um casal custava 5.278 euros, ou seja, 2.639 euros por pessoa. De fora ficavam as restantes refeições, bebidas, gratificações a guias e motoristas, bem como custos com passaportes ou vistos. Para simplificar as contas, também não vamos considerar estas despesas na comparação com a viagem marcada por conta própria. Vamos assumir ainda que a viagem é feita por um casal, mas fazer todos os cálculos para apenas uma pessoa, dividindo por dois custos como o alojamento ou viagens de TVDE. 

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Férias na Tailândia: Viagem por conta própria 

Definidos os preços e todas as inclusões e exclusões deste pacote turístico, tentemos reproduzir a viagem por conta própria, da forma mais fiel possível.  

Comecemos pelos voos. Com recurso a plataformas como Google Flights e Skyscanner, que permitem comparar preços de várias companhias, identificámos os voos Lisboa – Banguecoque e Phuket – Lisboa propostos pela agência: custavam 1.572 euros por pessoa. 

Em Banguecoque, há mais despesas a considerar: uma viagem de TVDE do aeroporto para o hotel, que, de acordo com a informação online, não deverá exceder 15 euros (7,5 euros por pessoa). 

De acordo com a informação da agência, o hotel na capital será o Ramada Plaza By Wyndham Bangkok Menam Riverside DC ou similar. Uma simulação no Booking para este hotel indica que o valor de três noites em quarto duplo para as datas em causa é de 399 euros (199,50 por pessoa). 

Na capital, o pacote inclui a visita aos três pontos turísticos já referidos. Neste caso, verificamos que a entrada no Wat Traimit custa 3,70 euros, no Wat Pho 3,90 euros e no Palácio Real 13,20 euros. 

No entanto, para replicar o pacote da agência, que disponibiliza um guia para visitar estes locais, encontrámos uma visita guiada num dos sites que vendem este tipo de atividades, com boa nota atribuída pelos utilizadores, pelo valor de 39,55 euros, já incluindo pickup no hotel. 

Do mesmo modo, podemos optar por uma excursão aos mercados de Mae Klong e Damnoen Saduak por 21 euros. Também neste caso a empresa responsável apanha os clientes no hotel. 

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Casal passeia pelas praias tailandesas

Refeições e estadias na praia 

O pacote da agência inclui 5 refeições em Banguecoque, das quais apenas uma é identificada: no restaurante do hotel da capital, que, de acordo com a informação disponível online, deverá rondar os 50 euros por pessoa. De resto, apenas é referido que haverá dois almoços em restaurante local e dois jantares em “restaurante local cuidadosamente selecionado”. Por norma, 7 euros chegam para uma ótima refeição em Banguecoque, mas vamos supor que a agência opta por locais um pouco mais dispendiosos e assumir 15 euros por almoço e 30 por jantar. No total, as cinco refeições incluídas ficariam a 140 euros

Findas as visitas em Banguecoque, é tempo de rumar ao aeroporto para voar com destino a Krabi. Mais uma vez, o preço da viagem de TVDE deverá rondar os 7,5 euros por pessoa. 

O próprio voo não custa muito mais: 24 euros na Air Asia. Uma vez em terra, é possível apanhar um transfer de autocarro do aeroporto até ao hotel, por 4 euros

De acordo com a agência, o hotel disponibilizado será o Peace Laguna Resort & SPA ou similar. O preço para duas noites no Booking é de 265 euros (132,50 euros por pessoa). 

A partir daqui, o pacote da agência não inclui mais atividades – apenas alojamento e deslocações. Vamos somar, portanto, 12 euros para o ferry que vai de Krabi para Phi Phi Don. 

Nesta ilha, três noites num quarto duplo do PP Princess Resort – que é a referência da agência – custam 426 euros (213 euros por pessoa). 

No final da estadia, a viagem conjunta de ferry mais autocarro desde o resort até ao aeroporto de Phuket – onde se vai apanhar o avião de regresso a Lisboa – não tem preço fixo, mas é possível estimar que custe, no máximo, 33 euros por pessoa. 

Finalmente, há uma despesa adicional a contemplar: a proposta da agência inclui seguro de viagem e PVFM (perturbação da viagem por força maior). Numa pesquisa rápida, conseguimos um seguro com características deste género por 104,58 euros

Somando tudo isto, conseguimos replicar nesta viagem por conta própria o pacote proposto pela agência por 2.510,13 euros, ou seja, menos 128,87 euros

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Como poupar ao viajar por conta própria 

Poderá estar a perguntar-se se não valerá pagar pouco mais de 100 euros para evitar todo este trabalho de preparação e contar com o apoio extra da agência ao longo de todo o processo. 

Mas também pode olhar para a questão por outro prisma. O exercício que fizemos foi replicar a viagem nos exatos moldes em que ela é proposta pela agência. Mas estas empresas têm acesso a condições a que os particulares não conseguem aceder, pelo que não surpreende que não seja fácil reproduzir o pacote turístico por valores mais (muito mais) baixos. 

A questão é que a sua viagem não tem de ser igual à da agência. Aliás, esta é uma das principais vantagens de marcar a viagem por conta própria – a flexibilidade para poupar onde entender e gastar mais naquilo que mais valoriza. 

Então, vamos a um segundo exercício? Desta vez, vamos criar uma viagem para os mesmos destinos, nas mesmas datas, mas com algumas alterações – sempre procurando que a experiência não seja prejudicada. 

Poupar 300 euros nos voos de longo curso 

A primeira despesa que conseguimos reduzir são os voos: em vez da Emirates, conseguimos um voo da Etihad de Lisboa para Banguecoque, com uma escala de 2h10 em Abu Dhabi, por 548 euros. E, para o regresso, a mesma companhia voa de Phuket para Lisboa, também com escala de 1h30 em Abu Dhabi, por 669 euros. Encontrámos uma hipótese de regresso ainda mais barata (576 euros), mas não a considerámos, porque implica uma escala de 14 horas em Zurique. 

Ou seja, para voos com horários relativamente parecidos, conseguimos poupar mais de 300 euros (de 1.572 para 1.217) trocando apenas de companhia aérea. 

Nos hotéis também é fácil poupar. Em Banguecoque, podemos optar por um Ibis de 3 estrelas, com piscina, por 67,50 euros no total das 3 noites (poupança de 132 euros). Em Krabi, conseguimos reduzir a despesa para pouco mais de metade (de 132,50 para 70 euros por duas noites) noutro hotel de 4 estrelas. E em Phi Phi Don, podemos baixar de 213 para 124 euros por três noites – é verdade que abdicamos de uma estrela e da piscina, mas a alternativa tem uma avaliação muito superior dos clientes e fica mesmo em frente à praia. 

Alimentação e seguros 

No que respeita à alimentação, como já referimos, é possível comer bem na Tailândia por apenas 7 euros, pelo que podemos contar com apenas 35 euros para as cinco refeições que estavam incluídas no pacote da agência. 

Finalmente, em alguns casos, pode ser possível abdicar do seguro de viagem sem correr grandes riscos. Se tiver seguro de vida e seguro de saúde, é provável que já goze de proteção durante as férias no estrangeiro. E se pagar a viagem com cartão de crédito também poderá usufruir de cobertura, dado que costumam ter um seguro de viagem associado. O mais aconselhável é mesmo consultar as apólices destes seguros para confirmar as coberturas e garantir que não gasta dinheiro em duplicações. 

Feitas as contas desta viagem mais feita à medida, é possível descer o custo em 976,95 euros (de 2.639 euros para 1.662,05) apenas com estas alterações, e continuar a fazer umas férias inesquecíveis. 


Agência 

Conta própria igual ao pacote 

Conta própria otimizado 

Voos de longo curso 

Incluído 

1.572 € 

1.217 € 

Hotéis 

Incluído 

545 € 

261,50 € 

Refeições (5) 

Incluído 

140 € 

35 € 

Atividades 

Incluído 

60,55 € 

60,55 € 

Deslocações internas 

Incluído 

88 € 

88 € 

Seguro 

Incluído 

104,58 € 

0 €

Total 

2.639 € 

2.510,13 € 

1.662,05 € 

Diferença vs. agência 

— 

128,87 € 

976,95 € 

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Mãe e filhos carregam malas de viagem pelo aeroporto

Viajar por conta própria ou com agência: Prós e contras 

A grande vantagem de organizar uma viagem por conta própria é a flexibilidade: pode definir o roteiro de acordo com as suas preferências, procurar localizações menos turísticas e experiências mais autênticas e únicas. Terá a sensação de que está a preparar a sua própria viagem e não a que uma agência vende a qualquer cliente. 

Ao reservar por sua conta, pode escolher os horários de voo com as melhores tarifas, combinar uma zona de cidade mais barata com alguns dias de resort, usar passes de transportes públicos, reservar excursões diretamente com operadores locais e aproveitar milhas e promoções.  Se tiver datas maleáveis e alguma elasticidade para aceitar escalas menos cómodas, a poupança em relação aos pacotes das agências tende a ser ainda maior. 

Mas nem sempre é assim. Em determinados destinos e épocas, os operadores turísticos negociam lugares de avião e quartos de hotel em bloco (allotment) ou organizam voos charter, conseguindo pacotes com um preço por pessoa muito difícil de replicar individualmente. Isto é particularmente visível em épocas de elevada procura, em destinos como ilhas mediterrânicas, resorts nas Caraíbas ou combinados clássicos. 

Além disso, ao comprar um pacote de viagem organizada em Portugal, o consumidor beneficia de um enquadramento legal de proteção que não existe quando compra “peças soltas” (voo, hotel, transfers e excursões em contratos separados). 

Ao adquirir uma viagem organizada numa agência registada em Portugal, passa a ter um contrato único que agrega vários serviços, concentrando a responsabilidade num só organizador. Na prática, isto significa que a agência tem o dever de assistência se o cliente enfrentar dificuldades durante a viagem e também pode representar maior segurança em termos de alterações e cancelamentos. 

Quando marca tudo sozinho, é difícil acompanhar as condições e políticas de alteração e cancelamento, uma vez que cada fornecedor tem a sua. Remarcar voos, hotéis e transfers pode ser uma dor de cabeça se algo falhar. 

Agência de viagens (pacote organizado) 

Por conta própria 

Preço 

Pode ser muito competitivo quando são contratados quartos em quantidade (allotment) ou voos charter 

Geralmente é mais baixo – e a diferença pode ser muito significativa se a viagem for otimizada 

Tempo gasto 

Baixo: existe um único ponto de contacto antes e durante a viagem 

Médio a alto: exige pesquisa, reservas, confirmações e reagendamentos 

Flexibilidade 

Média: pacotes e circuitos pré-definidos, com variações e upgrades 

Alta: roteiro à medida, combinação de estilos e ritmos 

Responsabilidade e assistência 

Concentrada na agência, com dever de assistência e regras bem definidas de alteração e cancelamento 

Dispersa pelos fornecedores – o viajante é o “operador” que tem de resolver, caso haja imprevistos 

Cenários onde tende a ganhar 

Épocas altas, destinos clássicos com charter, férias em resort, viagens com crianças/seniores, grupos, pouco tempo disponível 

Datas flexíveis, longas estadias mistas (urbano+praia), destinos menos comuns, pessoas que gostem e sabem preparar viagens 

Comprar à agência de viagens ou marcar: A decisão é sua

O exemplo que apresentámos demonstra que é possível poupar perto de mil euros ao montar uma viagem sozinho – e a diferença seria maior se a viagem fosse ainda mais longa –, sobretudo se aceitar opções diferentes das do pacote turístico, como voos com escalas e alojamentos de gama média. Mas também mostra que a vantagem pode desaparecer se tentar replicar exatamente a proposta da agência de viagens

Para algumas pessoas, planear uma viagem ao milímetro é prolongar o prazer das férias, saboreando por antecipação cada surpresa ou momento de lazer. Para outras, é tempo valioso perdido e um mar de incertezas que só o apoio de uma agência de viagens pode dissipar. O segredo está em fazer algumas contas e perceber qual é o seu caso. 

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Perguntas frequentes

Não. Em muitos casos, sim, mas não é regra. As agências podem negociar blocos de lugares (allotment) e voos lass=”TextRun SCXW38282933 BCX8″ lang=”PT-PT” xml:lang=”PT-PT” data-contrast=”auto”>charter, conseguindo preços muito competitivos, sobretudo em épocas altas e destinos clássicos. Além disso, os pacotes incluem extras (transfers, bagagem, algumas refeições) que, se marcar a viagem por conta própria, terá de pagar à parte. 

Tempo: não precisa de pesquisar voos, hotéis, deslocações e atividades. Assistência: tem um único ponto de contacto para resolver imprevistos. Proteção legal: a lei garante direitos claros em caso de alterações, cancelamentos ou insolvência da agência. 

Ter flexibilidade nas datas e nos horários, para aproveitar os mais baratos. Utilizar comparadores de viagens aéreas, como Skyscanner ou Google Flights; de alojamentos, como Booking ou Trivago; e de atividades, como Tripadvisor, Civitatis ou GetYourGuide. Misturar hotéis económicos com uma estadia especial para terminar a viagem em grande. Aproveitar programas de fidelização com milhas e promoções. E verificar se tem seguro de vida ou saúde e/ou cartão de crédito que confiram proteção sem necessidade de fazer um seguro de viagem. 

Compare o preço total (incluindo bagagem, transfers, refeições, atividades e seguros) com o custo de montar a viagem sozinho, nos seus próprios moldes. Como orientação geral, se a diferença for inferior a 10%, a agência pode a compensar pelo tempo e segurança. Se for superior, vale a pena marcar por sua conta. 

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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