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Jovem frente ao computador com dificuldades a ilustrar a desistência escolar que existe em Portugal

A desistência escolar ainda é uma realidade com um peso significativo em Portugal. Quase 17% dos jovens entre os 15 e os 34 anos já desistiram de pelo menos um nível de escolaridade. Destes, mais de metade deixou o ensino superior. Os dados são do módulo “Jovens no mercado de trabalho” do Inquérito ao Emprego 2024, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que traça um retrato detalhado sobre o percurso educativo, as razões para o abandono escolar e a ligação entre formação e emprego.

A pesquisa mostra ainda que um em cada cinco jovens considera estar sobrequalificado para o trabalho que desempenha, tanto a nível académico como de competências. Este inquérito do INE evidencia os desafios de integração dos jovens no mercado de trabalho português.

Mais de 369 mil jovens já desistiram dos estudos em Portugal

Dos 2,2 milhões de jovens com idades entre os 15 e os 34 anos, cerca de 369,4 mil admitiram ter abandonado pelo menos um nível de escolaridade ao longo do seu percurso. Entre estes, 50,8% deixou o ensino superior, 39% interrompeu o ensino secundário ou pós-secundário e 10,3% não concluiu o ensino básico. Ou seja, cerca de um em cada seis jovens já passou por uma situação de desistência escolar.

As taxas de abandono são mais elevadas entre os homens (19,2%) do que entre as mulheres (14,3%). A idade também influencia: quanto mais velhos, maior a incidência de desistência. No grupo entre os 30 e os 34 anos, a taxa de abandono atinge os 22,8%.

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Desistência motivada por dificuldades económicas e desilusão com o curso

As principais razões para o abandono escolar são questões financeiras ou de trabalho (30,1%) e a perceção de que o curso era demasiado difícil ou não ia ao encontro das expectativas (28,2%). Em menor escala, surgem motivos de saúde ou familiares (7,1%) e outras razões pessoais, como mudança de residência, falta de motivação, desejo de realizar outras atividades ou conflitos no ambiente escolar (20,5%).

Estas dificuldades foram mais mencionadas pelos homens, pessoas entre os 25 e os 29 anos, jovens cujo nível máximo de escolaridade é o 3.º ciclo e trabalhadores do setor da indústria, construção, energia e água.

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Experiência profissional no currículo ainda é exceção

Entre os jovens com ensino superior, apenas 12,4% afirmou ter concluído uma formação técnico-profissional com equivalência ao ensino secundário. Este tipo de formação, que integra experiência prática no currículo escolar, é mais comum entre homens (13,5%) e jovens dos 30 aos 34 anos.

Apesar do seu potencial para facilitar a transição para o mercado de trabalho, esta via continua a ser pouco utilizada, mesmo entre os que já têm qualificações superiores.

Subqualificação é rara, mas sobrequalificação preocupa

Entre os jovens empregados ou com experiência profissional anterior (1,5 milhões), a maioria (72,9%) acredita que o seu nível de escolaridade corresponde ao exigido pelo trabalho. Ainda assim, 20,8% considera ter mais qualificações do que o necessário e 6,4% diz estar subqualificado.

A sobrequalificação é mais frequente entre mulheres, inativos e desempregados à procura de novo emprego. A situação é especialmente prevalente no setor da agricultura e entre trabalhadores não qualificados, com mais de 30% a considerar-se sobrequalificado.

Um em cada cinco jovens tem competências a mais para o emprego

Quanto às competências (entendidas como o conjunto de conhecimentos, experiências e capacidades), 74% dos jovens consideram que estão alinhadas com o que o trabalho exige. No entanto, 22,7% sente que tem mais competências do que o necessário (cerca de um em cada cinco jovens) e 3,3% afirma ter menos.

A sensação de possuir mais competências do que as exigidas é mais comum entre mulheres, inativos, desempregados e pessoas com formação secundária ou superior. No setor agrícola e entre trabalhadores não qualificados, a taxa ultrapassa os 30%.

Área de formação nem sempre bate certo com o trabalho

No grupo com ensino secundário ou superior, apenas 41,3% afirmou que a sua área de formação corresponde totalmente (ou quase) às exigências do trabalho. Para 16,8% não há qualquer correspondência e 6,6% refere não existir uma área específica de formação para a função que desempenha.

As maiores correspondências verificam-se entre mulheres, pessoas com ensino superior e trabalhadores do setor dos serviços. Entre os profissionais especializados, a ligação entre formação e função atinge os 59,2%.

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Uma geração qualificada, mas ainda mal aproveitada

Embora Portugal tenha uma geração jovem cada vez mais qualificada, as suas competências continuam a ser pouco aproveitadas pelo mercado de trabalho. A sobrequalificação e o desalinhamento entre formação e função são sinais de ineficiência no aproveitamento do talento disponível.

A estes desafios juntam-se as desistências no percurso escolar, muitas vezes motivadas por dificuldades económicas ou falta de motivação, e a pouca integração de experiência prática nos percursos educativos.

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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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