Talvez já tenha dado por si a pensar como seria empreender em época de crise: seria uma ameaça à sua estabilidade ou poderia representar uma oportunidade para se reinventar?
O empreendedorismo está desde sempre associado a risco e o povo português, segundo os principais relatórios de empreendedorismo, é um povo “avesso ao risco”. Talvez por isso, a taxa de sobrevivência das empresas a dois anos não ultrapasse os 58,4% (com base nos dados estatísticos de 2020 da Pordata).
No entanto, Portugal tem apostado cada vez mais no ecossistema empreendedor como impulsionador do emprego e desenvolvimento económico, sendo considerado pela União Europeia como um dos países mais fortes ao nível de empreendedorismo (de acordo com a informação da “Portugal SME Fact Sheet 2021”).
Ameaça ou oportunidade?
Empreender é por si só desafiante, por isso, quando o passo é dado num cenário incerto o risco pode ser ainda maior. Mas não será essa a oportunidade que muitos procuram para se destacar no mercado e conseguir ter uma vantagem competitiva?
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Empreender em época de crise: uma ameaça
A maior ameaça ao empreendedor que se propõe criar um negócio em tempos incertos tem a ver com a sustentabilidade financeira.
Desde logo, se for necessário algum capital de investimento, poderá ter muito mais dificuldade em arranjar o valor necessário, com condições acessíveis. Mas também a curto/médio prazo precisa de garantir que o negócio irá gerar o dinheiro suficiente para sobreviver, nomeadamente, é necessário existir poder de compra e procura pelo serviço/produto que vai comercializar.
Neste cenário, o empreendedor precisa de ser criativo, considerar modelos de inovação, e ter a capacidade de se adaptar rapidamente ao contexto do mercado, procurando formas de reduzir custos, inovar no formato de entrega, e/ou aumentar a produtividade.
Outro aspeto que se pode revelar uma ameaça prende-se com a necessidade e urgência em empreender.
De acordo com o “Estudo de avaliação sobre as dinâmicas empreendedoras em Portugal” uma das principais motivações para os “empreendedores early-stage portugueses” criarem novos negócios é a escassez de oportunidades de emprego.
A decisão de empreender surge muitas vezes quando se está desempregado, numa lógica de sobrevivência, e embora esta possa ser uma oportunidade para a pessoa se reinventar profissionalmente, a verdade é que, o empreendedorismo por necessidade, também pode ser uma armadilha.
Quando o empreendedor decide criar o seu próprio emprego justificado pela urgência de ganhar dinheiro para sobreviver, isso pode fazer com que perca de vista alguns aspetos fundamentais para ter sucesso, nomeadamente: fazer um plano de negócios para avaliar a viabilidade do mesmo, estudar o mercado e garantir que tem as competências certas, técnicas e comportamentais, para criar o seu negócio.
A criação de um plano de negócios é fundamental para qualquer empreendedor garantir que o seu projeto tem pernas para andar, quer seja ao nível de mercado, quer seja ao nível de operacionalização.
Para começar, pode ser suficiente desenhar um plano de negócios mais simples, como um Business Model Canvas: uma representação gráfica que permite estruturar os pontos chave do modelo de negócios de forma rápida e exaustiva. Contudo, se precisar de financiamento, o melhor será optar por um Plano de Negócios tradicional, acompanhado do Modelo Financeiro.
Hoje em dia existem várias entidades, públicas e privadas, que dispõem de gabinetes de empreendedorismo, centros de incubação e programas de aceleração para ajudar nesta fase inicial. A melhor forma de enfrentar uma ameaça é estar bem preparado e esta pode ser a melhor forma de garantir que fez tudo ao seu alcance para ser bem-sucedido.
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Empreender em época de crise: uma oportunidade
Reforçando o que foi dito anteriormente, empreender pode ser a oportunidade para muitas pessoas se reinventarem profissionalmente.
Durante a pandemia Covid-19 continuaram sempre a surgir novos negócios, mesmo durante o período de confinamento: segundo dados da consultora D&B, entre 19 de março e 2 de maio de 2020, foram criadas 1.226 empresas.
Nestas circunstâncias, o desemprego pode ser visto como o momento certo para a pessoa tirar um projeto antigo da gaveta e criar o seu próprio negócio; em outras situações trata-se de encontrar a oportunidade no meio da crise, como foi o caso da Lux N' Roses, da SoftParticle e da Asoka, negócios criados no meio da pandemia que tiveram sucesso.
Mesmo o período de austeridade da Troika, entre 2011/2013, revelou-se uma oportunidade para o nascimento de novos negócios: de acordo com dados do Global Entrepreneurship Monitor, em 2013, a taxa de atividade empreendedora aumentou cerca de 86% face ao valor registado em 2010.
Se, por um lado, a oportunidade está do lado dos potenciais empreendedores, por outro lado, surge aos olhos do Governo.
O empreendedorismo surge como resposta à crise e como estratégia de futuro para o crescimento económico, apresentando como vantagens: a redução da taxa de desemprego, a criação de novas empresas e a promoção da competitividade e da inovação. Isto faz com que existam mais incentivos à criação de negócios, de forma a dinamizar o ecossistema nacional empreendedor.
Segundo a “Portugal SME Fact Sheet 2021”, Portugal é considerado pela União Europeia como um dos players mais fortes ao nível do empreendedorismo precisamente pela base tecnológica de muitas start-ups, pela capacidade de inovação das pequenas e médias empresas, pelo apoio dinâmico de organizações não governamentais e pela aposta do Governo na inclusão do empreendedorismo no sistema educativo português.
Inclusive, encontra-se a ser elaborado o Referencial de Educação para o Empreendedorismo como forma de incentivar os mais jovens a desenvolverem desde cedo “competências empreendedoras, a agirem sobre oportunidades, a gerarem ideias e a transformá-las em valor para os outros, de cariz social, económico, cultural”, o que contribui também para a concretização do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 - Educação de Qualidade, nomeadamente a meta 4.4: “Até 2030, aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilitações relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo.”
Para quem quer criar o seu negócio, é altura de estar atento e procurar a informação necessária para poder beneficiar dos apoios existentes, quer seja ao nível de instituições governamentais ou não governamentais.
10 dicas para empreender em época de crise
O ato de empreender é muito mais do que a simples criação de novos negócios.
Segundo Soumodip Sarkar, autor do livro “Empreendedorismo e Inovação”: “empreendedorismo vai muito além da criação de negócios, reflete uma forma de ver e fazer as coisas onde a criatividade tem um papel fundamental”.
Assim, não se trata apenas de ter conhecimentos técnicos, mas também é necessário ter as competências comportamentais necessárias para garantir que vai ser bem-sucedido.
Neste sentido, aqui ficam 10 dicas a considerar antes de empreender, sobretudo em época de crise:
- Escolha um negócio com o qual se identifique para garantir que se mantém motivado, mesmo perante as dificuldades;
- Faça uma análise SWOT pessoal para analisar os seus pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças;
- Desenvolva as competências empreendedoras necessárias, tais como: capacidade para lidar com o risco, resolução de problemas, planeamento, flexibilidade, resiliência e proatividade;
- Desenvolva um mindset de tentativa-erro para lidar melhor com situações de fracasso;
- Aprenda sobre técnicas de vendas e persuasão;
- Procure grupos de networking para alargar a rede de contactos e estabelecer possíveis parcerias;
- Encare a concorrência numa perspetiva colaborativa e construa sinergias;
- Estude o mercado de forma a assegurar que existe interesse no produto/serviço que vai comercializar;
- Garanta que tem os conhecimentos técnicos essenciais para criar um plano de negócios (em alternativa, pode procurar o apoio de entidades para o ajudar neste processo);
- Esteja atento ao mercado e à mudança nos hábitos de consumo para fazer ajustes rapidamente e adaptar às necessidades dos consumidores.
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