pessoa com mais de 60 anos com dinheiro na mão a ilustrar os cortes nas pensões antecipadas

A esperança média de vida voltou a aumentar em Portugal, atingindo os 20,02 anos aos 65 anos entre 2022 e 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este número traz implicações diretas para quem pretende reformar-se antes da idade legal: o corte nas pensões antecipadas sobe, este ano, para 16,9%, com tendência de agravamento.

Também a idade da reforma vai aumentar em 2026, passando dos atuais 66 anos e 7 meses para 66 anos e 9 meses, o valor mais elevado de sempre. Esta atualização é automática e resulta da recuperação da esperança de vida após os impactos da pandemia.

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Corte nas pensões antecipadas agrava-se com fator de sustentabilidade

O chamado fator de sustentabilidade é o responsável pelo corte de 16,9% nas pensões antecipadas já em 2025. Este corte aplica-se a quem se aposenta antes da idade legal sem ter 40 anos de descontos completados aos 60 anos ou a quem entra na reforma após desemprego de longa duração.

As reformas antecipadas deixam de ser uma solução viável para muitos, dada a redução permanente no valor da pensão. Mesmo os funcionários públicos abrangidos pela Caixa Geral de Aposentações não escapam a esta penalização, que também se aplica aos beneficiários da Segurança Social.

A esperança de vida voltou a crescer e tem um preço

Segundo o INE, a esperança de vida à nascença subiu para 81,49 anos no triénio 2022-2024, ultrapassando pela primeira vez os níveis pré-pandemia. Aos 65 anos, os homens podem esperar viver mais 18,3 anos e as mulheres 21,35 anos, refletindo um aumento de quase três meses face ao período anterior.

Este aumento traduz-se, na prática, em reformas mais tardias e mais penalizadas. Embora viver mais anos seja uma conquista social, isso empurra os trabalhadores para mais tempo no ativo, com menos margem para escolher quando parar.

Reforma aos 66 anos e 9 meses: Um novo marco histórico

Com base nas novas projeções, a idade legal da reforma será de 66 anos e 9 meses em 2026, um novo recorde. Esta subida é consequência direta da melhoria nos indicadores de longevidade da população portuguesa.

Este valor aplica-se de forma transversal a todos os trabalhadores, tanto do setor público como privado. Ou seja, quem tenciona reformar-se mais cedo terá de suportar penalizações acumuladas, somando o corte do fator de sustentabilidade aos habituais descontos por cada mês de antecipação.

Mulheres continuam a viver mais, mas também serão mais penalizadas

Os dados do INE mostram que, embora a diferença entre sexos tenha reduzido, as mulheres continuam a ter maior esperança de vida (83,96 anos à nascença contra 78,73 anos nos homens). Aos 65 anos, essa diferença é de mais de três anos.

Este cenário pode resultar em maiores períodos de reforma para as mulheres, o que, conjugado com carreiras contributivas mais irregulares ou penalizações antecipadas, pode levar a pensões significativamente mais baixas, sobretudo nas reformas por antecipação.

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Longas carreiras escapam ao fator de sustentabilidade

Nem todos os que se reformam antecipadamente são penalizados com o corte de 16,9%. Quem iniciou a vida contributiva muito cedo e completou pelo menos 40 anos de descontos aos 60 anos pode escapar ao fator de sustentabilidade, beneficiando do regime de longas carreiras contributivas.

Este regime especial procura proteger quem teve uma vida laboral mais longa e desgastante, mas exige o cumprimento rigoroso de critérios. Mesmo assim, continua a aplicar-se um corte por cada mês de antecipação, exceto se houver carreira contributiva excecionalmente longa.

Portugal vive mais, mas com desafios para a sustentabilidade do sistema

O aumento da longevidade representa um desafio direto à sustentabilidade financeira do sistema de pensões. Com mais pensionistas a viver mais tempo, é necessário garantir que o sistema consiga pagar as reformas sem sobrecarregar as gerações ativas.

A resposta do Governo tem sido clara: alongar a idade da reforma e aplicar cortes nas reformas antecipadas. A recuperação da esperança de vida após a pandemia apenas acelera esta tendência. As perspetivas para quem pensa reformar-se cedo tornam-se, assim, cada vez mais limitadas.

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Reformar-se cedo vai ser um luxo cada vez mais difícil

A mensagem que os dados transmitem é inequívoca. A reforma antecipada será cada vez mais penalizada, tornando-se um luxo acessível apenas a quem pode suportar um corte permanente no rendimento.

Num cenário de inflação, precariedade e envelhecimento, o debate sobre a equidade do sistema de pensões ganha novo fôlego. Para muitos portugueses, a escolha já não é entre trabalhar ou reformar-se cedo. É entre ter uma reforma digna ou viver com cortes pesados nos seus rendimentos.

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