As taxas Euribor já estão perto do pico?

A Euribor a 12 meses já está em linha com a taxa terminal que os mercados estimam que o BCE vai colocar os juros.

Fazer previsões para a evolução da política monetária é sempre um exercício arriscado. Este ano ainda mais, pois a incerteza é muito elevada, com os bancos centrais reféns da evolução da inflação.

Com a subida dos preços sem sinais de dar tréguas, os bancos centrais estão a agravar os juros ao ritmo mais acelerado deste século. Uma política que está a apertar o orçamento das famílias, já penalizadas com o aumento acentuado do custo de vida.

O Banco Central Europeu subiu os juros em 75 pontos base na semana passada (0,75 pontos percentuais), colocando a taxa dos depósitos em 1,50%. No espaço de três meses, agravou a taxa de juro num total de 200 pontos base e é quase certo que não vai ficar por aqui.

Em dezembro é expectável uma subida de pelo menos 50 pontos base. Os mercados apontam para uma taxa terminal em redor de 3%, enquanto os economistas são mais comedidos, estimando que o BCE vai concluir o ciclo de agravamento quando a taxa dos depósitos chegar aos 2,50% na primeira metade de 2023.

Tendo em conta esta perspetiva, parece extemporâneo falar em pico nas taxas Euribor. Contudo, os mercados já anteciparam este aperto da política monetária e, olhando para o indexante com o prazo a 12 meses, já se situa em linha com o nível máximo a que os investidores esperam que o BCE coloque os juros.

A Euribor a 12 meses está em 2,673%, sendo previsível que estacione agora no intervalo entre 2,5% e 3%. Depois de um agravamento de mais de 300 pontos base desde o início do ano, não será muito arriscado afirmar que, neste prazo, o ciclo de fortes subidas já chegou ao fim.

Nos indexantes com os prazos mais curtos a tendência de subida ainda tem margem para continuar. A Euribor a 6 meses está em 2,198%, pelo que deverá continuar a aumentar ao longo das próximas semanas. Na Euribor a 3 meses, que anda habitualmente encostada à taxa atual do BCE, o caminho a percorrer ainda é mais amplo. Está atualmente em 1,726%, pelo que poderemos ter pela frente um aumento superior a 100 pontos base.

Subida das Euribor desde o início do ano

12 meses: 317 pontos base

6 meses: 274 pontos base

3 meses: 230 pontos base

Distância para 3%

12 meses: 33 pontos base

6 meses: 80 pontos base

3 meses: 127 pontos base

BCE pressionado a abrandar…

Na reunião da passada quinta-feira, o BCE efetuou a segunda subida consecutiva de 75 pontos base, mas deu sinais de que terá sido o último aumento “jumbo”. Pressionado pelo abrandamento da economia, e com a taxa de juro a aproximar-se de um nível neutral, a autoridade monetária tem agora uma margem mais limitada para subidas agressivas de juros.

Acresce que, se até aqui, as decisões têm sido consensuais, começam agora a surgir pressões para um abrandamento no aperto da política monetária: no Conselho do BCE e também entre os políticos europeus, destacando-se as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, a acusar o banco central de agravar as perspetivas de recessão na economia europeia.

Esta narrativa de que o BCE vai ser mais brando a subir os juros teve forte impacto nos mercados, na semana passada, com as ações e as obrigações a valorizarem de forma pronunciada.

No mercado interbancário, a Euribor a 12 meses registou uma descida acentuada de 10 pontos base na sexta-feira, concluindo um ciclo de cinco sessões em queda. Situou-se em 2,567%, já mais de 20 pontos base abaixo do máximo desde 2008 fixado a 21 de outubro (2,778%).   

…mas inflação ainda a subir e PIB continua a crescer

No início desta semana a situação inverteu-se, mostrando como as perspetivas podem mudar rapidamente, em função dos dados económicos.

A Euribor a 12 meses saltou 6 pontos base esta segunda-feira e registou um aumento idêntico na terça-feira, apagando mais de metade da queda que tinha registado nas cinco sessões anteriores. A Euribor a 6 meses atingiu esta quarta-feira um novo máximo desde 2009 após uma subida acumulada de 16 pontos base em três dias.  

A subida das taxas Euribor nas últimas sessões é explicada pelos indicadores revelados pelo Eurostat na segunda-feira. O gabinete de estatística da Comissão Europeia revelou que a inflação na Zona Euro atingiu um novo máximo histórico, o que representa um forte revés para quem estimava que o pico já tinha sido atingido. O índice de preços no consumidor cresceu a um ritmo anual de 10,7% em outubro, bem acima do registo de setembro (9,9%) e do esperado pelos economistas (10,3%).

Por outro lado, o PIB da Zona Euro cresceu 0,2% no terceiro trimestre. Embora represente um abrandamento pronunciado face ao registado no segundo trimestre (0,8%), indica que a Zona Euro ainda não está em recessão.

Com a inflação da Zona Euro sem sinais de alívio e a economia a mostrar sinais de resiliência, o BCE fica sem argumentos para abrandar o ritmo de subida de juros. Baixa também a pressão que tem sido exercida por vários políticos europeus para que o BCE suspenda o ciclo de subida de juros.

Por outro lado, os analistas continuam a considerar que será incontornável a economia europeia sofrer uma recessão em 2023, sobretudo devido às perspetivas sombrias para a economia alemã, fortemente castigada pela intensidade da crise energética que assola o país.  Uma tendência que dificilmente permitirá ao BCE colocar a taxa dos depósitos acima do nível máximo que economistas e investidores estão atualmente a estimar (entre 2,5% e 3%).

Prestações do crédito a subir

Mais do que a variação diária da Euribor, para as famílias com crédito à habitação interessa sobretudo qual será a taxa terminal do BCE. É ainda uma incógnita, mas dificilmente duplicará o nível atual (1,5%).

Para quem tem um empréstimo ligado à Euribor a 12 meses (indexante da maior parte dos contratos celebrados nos últimos anos), a boa notícia é que esta taxa já não deverá subir muito mais. Se a prestação foi revista recentemente, no próximo ano já não deverá agravar-se substancialmente. Caso a revisão calhe num dos próximos meses, conte com um aumento muito pronunciado, mas que deverá ser o último de dimensão relevante.

Um crédito de 200 mil euros a 30 anos, com um spread de 1% e que tenha sido revisto em outubro, está agora a pagar uma prestação em redor de 860 euros, o que representa um agravamento de 70% face a outubro do ano passado. Quando a prestação voltar a ser revista, em outubro de 2023, a prestação subirá para 920 euros (caso a Euribor permaneça nos níveis atuais). Trata-se de uma subida de 7%.

Nos contratos de crédito indexados à Euribor com prazos mais curtos, os agravamentos das prestações têm sido menos pronunciados, mas vão continuar ao longo do próximo ano. Simule aqui o seu caso.

Tendo em conta as mesmas condições (crédito de 200 mil euros a 30 anos, com um spread de 1%), mas num empréstimo com taxa de juro indexada à Euribor a 6 meses, a prestação revista em outubro aumentou 30% para 800 euros. Em abril do próximo ano, se a Euribor a 6 meses estiver em 2,5%, a prestação dará mais um salto de 13% para 900 euros.

Independentemente de qual seja o indexante contratado, é certo que os 1,3 milhões de famílias portuguesas com crédito à habitação a taxa variável estarão na segunda metade de 2023 a pagar uma prestação mais de 50% acima do custo que tinham na primeira metade deste ano. A boa notícia é que a partir dessa altura, os aumentos (se existirem), não serão consideráveis.

Tendo em conta as atuais expectativas, o BCE deve concluir o ciclo de subida de juros no primeiro semestre do próximo ano, mantendo depois as taxas em máximos de mais de 10 anos devido à persistência da inflação acima da meta (2%) pelo menos até 2024.

Leia ainda: Crédito habitação: Famílias podem ter “alívio” mensal no IRS em 2023

Taxa dos Certificados de Aforro a caminho dos 3,5%

Se o agravamento das taxas de juro está a representar uma dor de cabeça para as famílias endividadas, para as aforradoras traduz o fim de um longo período em que a rendibilidade das suas poupanças foi praticamente nula.

Os Certificados de Aforro são atualmente o produto de capital garantido mais atrativo. A subscrição em novembro garante uma taxa de juro bruta de 2,492%, o que apesar de representar uma rendibilidade real negativa, compara de forma bastante favorável com as taxas de juro que estão a ser oferecidas pelos bancos (ainda encostadas a 0%).

O retorno deste produto de poupança do Estado está diretamente ligado à Euribor a 3 meses, pelo que é de esperar que a rendibilidade dos Certificados de Aforro continue a subir ao longo dos próximos meses.

A taxa de juro é calculada tendo em conta o valor do indexante somado de um ponto percentual. Se a Euribor a 3 meses alcançar os 2,5% em 2023, a taxa bruta dos Certificados de Aforro chegará ao limite máximo deste produto de poupança, que está definido em 3,5%.

Leia ainda: Como subscrever certificados de aforro?

Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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