“É importante, desde cedo, desenvolver nas crianças hábitos de conhecer e lidar com o dinheiro”. A frase está no Guião para a Educação Financeira na Educação Pré-Escolar, um trabalho conjunto do Ministério da Educação, Ciência e Inovação, supervisores e associações do setor financeiro (como o Banco de Portugal e a Associação Portuguesa de Bancos).

De facto, quanto mais cedo se começar a sensibilizar os mais novos para as questões relacionadas com o dinheiro, melhor. Dessa forma, preparamos “as crianças e os jovens para serem consumidores esclarecidos e dotados de atitudes e comportamentos financeiros adequados”.

Reunimos algumas estratégias presentes no guia para ajudar a falar sobre dinheiro com os mais novos. Porque a brincar também se aprende.

Planear e gerir um orçamento

É importante que as crianças comecem a perceber a importância de planear, fazer escolhas e priorizar despesas. Assim, um bom ponto de partida é aprender a distinguir entre necessidades e desejos, e entre despesas e rendimentos.

No primeiro caso, deve-se sensibilizar as crianças para o facto de que nem sempre se pode comprar tudo o que se deseja. Assim, é importante proporcionar oportunidades para que elas reflitam sobre o que não é prioritário. O Guião da Educação Financeira apresenta até um exemplo de um projeto escolar que passou pela dinamização de jogos e construção de cartazes sobre a diferenciação entre produtos essenciais e supérfluos.

Já na abordagem às despesas e rendimentos, o objetivo é que as crianças possam começar a entender a relação entre os dois. Por exemplo, quando houver necessidade e fizer sentido, os pais podem pensar juntamente com os filhos em formas de juntar dinheiro para as despesas que as crianças querem fazer.

Conhecer meios de pagamento

De acordo com o guia conjunto do Ministério da Educação e dos supervisores e associações do setor financeiro, um dos temas que se pode abordar junto de crianças até aos 6 anos é o dos meios de pagamento.

Neste caso, uma das estratégias pode ser criar moedas e notas de euro para simular situações de compra e venda. Além disso, os pais podem mesmo aproveitar situações reais para chamar a atenção para os preços afixados, comparar custos e calcular o troco a receber.

Também importante é falar sobre os meios de pagamento eletrónicos e explicar que têm um limite que depende do dinheiro que temos.

Um dos projetos desenvolvidos sobre este tema e que é apresentado no guia é a exploração de histórias relacionadas com a origem do dinheiro.

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Sensibilizar para a poupança

A poupança tanto serve para comprar algo mais caro como para fazer face a uma situação imprevisível. Por exemplo, para quem já trabalha, pode assumir a forma de um fundo de emergência. Mas a sensibilização começa bem antes disso.

Assim, as crianças devem, desde cedo, compreender o que é a poupança e para que serve. Uma das estratégias mais conhecidas e antigas é a do mealheiro. Deste modo, os seus filhos podem ir guardando o dinheiro que vão recebendo, sabendo que estão a juntar para poder fazer uma compra no futuro.

Por falar em mealheiros, há também a estratégia de ter três:

  • Gastar: para pequenas despesas do dia a dia;
  • Poupar: para objetivos importantes;
  • Ajudar: para contribuir em causas solidárias ou ajudar quem precisa.

Mas a poupança é também o dinheiro que não gastamos devido às nossas atitudes e comportamentos. Assim, deve ensinar as crianças a poupar recursos, como água, eletricidade e até materiais.

O Guião para a Educação Financeira na Educação Pré-Escolar dá o exemplo de uma associação que comprou reservatórios para aproveitamento das chuvas. Desta forma, puderam usar a água para lavar o chão, por exemplo.

O dinheiro como cidadania

Por fim, o guia destaca a importância de falar sobre o dinheiro numa ótica de ética e cidadania. Na idade pré-escolar, a ideia é que as crianças compreendam que as decisões financeiras têm implicações sociais e ambientais.

Deste modo, pode-se discutir com elas comportamentos de respeito pelo rendimento coletivo e de respeito por aquilo que pertence a cada um. Além disso, pode sensibilizá-las para o facto de que podemos usar o dinheiro para ajudar e beneficiar outros.

Num dos exemplos apresentados, os alunos de uma escola juntaram dinheiro para ajudar uma associação de proteção animal e apadrinhar uma cadela, responsabilizando-se pela sua alimentação e medicação. Ao longo do ano, criaram iniciativas para juntar dinheiro para as despesas que tinham com o animal.

Neste exemplo, as crianças aprenderam não só a importância que o dinheiro pode ter na comunidade, como ainda aplicaram noções de poupança, despesas e rendimentos, além de terem sido obrigadas a tomar decisões sobre o que precisavam realmente de comprar, ajudando-as a distinguir o essencial do supérfluo.

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Pais ainda falam pouco com os filhos

Apesar da importância de falar de dinheiro com as crianças, isso não é o que acontece numa boa parte das famílias portuguesas. Em maio de 2025, o Doutor Finanças, em parceria com a Universidade Católica Portuguesa, lançou o 1.º Barómetro de Hábitos Financeiros, que mostrou que 33% dos pais com filhos até aos seis anos acham que o dinheiro não é um tema para crianças. Outros 2% consideram que é uma temática que deve ficar a cargo da escola.

No entanto, os autores do Guião para a Educação Financeira consideram que se deve falar sobre dinheiro desde a idade pré-escolar, destacando a importância da articulação entre escola e casa: “O meio familiar e o jardim de infância são os dois principais contextos de desenvolvimento e educação das crianças, sendo essencial a relação entre eles”.

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