Pessoas a assinar documentos no banco

TANB, TANL, TAE e TAEL são siglas que surgem frequentemente quando se fala de taxas de juro. Aparecem em simuladores, propostas bancárias, comparações e anúncios. O problema é que nem todas dizem a mesma coisa. E, muitas vezes, a taxa que parece mais atrativa não é a que melhor reflete a realidade.

Perceber o que distingue cada uma destas taxas é essencial. Ajuda a interpretar números, evita conclusões erradas e permite tomar decisões mais informadas.

Neste artigo descubra o que são a TANB, a TANL, a TAE e a TAEL, como funcionam e por que razão não devem ser confundidas.

Antes de tudo: Porque existem tantas taxas?

As taxas existem para responder a perguntas diferentes. Algumas mostram valores antes de impostos. Outras já refletem retenções. Algumas ignoram a capitalização. Outras incluem esse efeito.

Por isso, olhar para uma taxa isolada pode ser enganador. Quanto mais simples for o mecanismo associado, mais direta será a leitura. À medida que entram fatores como impostos, periodicidade de pagamentos ou capitalização, surgem taxas mais completas.

O objetivo é permitir comparações mais justas e rigorosas entre realidades diferentes.

TANB: A taxa base de referência

A Taxa Anual Nominal Bruta, conhecida como TANB, é o ponto de partida. Representa a taxa de juro anual antes de impostos e sem qualquer efeito de capitalização. É uma taxa simples, aplicada sempre sobre o valor inicial.

“Anual” indica que o cálculo tem como base um ano, mesmo quando o prazo é inferior. “Nominal” significa que a taxa não varia ao longo do tempo. “Bruta” quer dizer que ainda não considera impostos.

Na prática, a TANB mostra quanto um montante pode render num ano, sem descontos. É por isso que costuma ser a taxa mais visível. Também é a menos completa.

Como se calcula a TANB

O cálculo da TANB é direto. Basta multiplicar o montante aplicado pela taxa anual. Por exemplo, um valor aplicado com uma TANB de 5% gera, num ano, um rendimento bruto equivalente a 5% desse montante.

Quando o prazo é inferior a um ano, o cálculo é ajustado proporcionalmente ao tempo. Regra geral, usa-se a convenção de 360 dias. Assim, seis meses correspondem a metade do rendimento anual.

É um método simples e transparente. Mas tem uma limitação clara: não mostra quanto sobra depois de impostos.

TANL: O que sobra depois do IRS

A Taxa Anual Nominal Líquida, ou TANL, resolve essa limitação. Corresponde à TANB depois de aplicada a retenção de IRS sobre os juros. Mostra o rendimento que entra efetivamente na conta.

Em Portugal continental e na Madeira, a taxa liberatória é de 28%. Nos Açores, é inferior. Isso significa que parte do rendimento é retida automaticamente antes de o valor ser creditado.

A TANL aproxima-se muito mais da realidade. É esta taxa que permite perceber quanto se ganha, sem necessidade de fazer contas adicionais.

TANB e TANL: A diferença que faz sentido

A diferença entre TANB e TANL está apenas nos impostos. A TANB ignora a retenção. A TANL já a inclui. Por isso, a TANB tende a parecer mais apelativa.

Um exemplo simples ajuda a perceber. Uma TANB de 5% corresponde a uma TANL de 3,6% quando a retenção é de 28%.

É por isso que, sempre que possível, faz sentido olhar para taxas líquidas. São essas que mostram o impacto real no rendimento.

TAE: Quando entra a capitalização

A Taxa Anual Efetiva, ou TAE, vai mais longe. Tem em conta a periodicidade dos pagamentos de juros e o efeito da capitalização. Ou seja, considera situações em que os juros geram novos juros.

Quando os pagamentos são feitos mais do que uma vez por ano, o resultado final não é igual ao de uma taxa simples. A TAE ajusta essa diferença e transforma tudo numa taxa anual comparável.

Dois produtos com a mesma taxa nominal podem ter TAE diferentes, consoante a forma como os juros são pagos.

O que distingue a TAE da TAN

Enquanto a TAN ignora a capitalização, a TAE incorpora esse efeito. Quanto mais frequentes forem os pagamentos, maior será a diferença entre as duas taxas.

A TAE permite comparar produtos com calendários distintos. É por isso que é considerada uma taxa mais rigorosa do ponto de vista matemático. Apesar disso, continua a ser uma taxa bruta. Ainda não reflete o impacto dos impostos.

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TAEL: A taxa mais próxima da realidade

A Taxa Anual Efetiva Líquida, ou TAEL, junta tudo. Considera a capitalização e deduz os impostos. É, por isso, a taxa que melhor traduz o rendimento efetivo anual.

Na prática, resulta da aplicação da retenção de IRS à taxa efetiva. Com uma taxa liberatória de 28%, uma aproximação simples passa por multiplicar a taxa bruta por 0,72.

A TAEL permite comparar produtos com diferentes periodicidades e perceber quanto rende realmente um valor ao fim de um ano.

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Porque a periodicidade faz diferença

Quando os juros são pagos mais do que uma vez por ano, existe capitalização. Mesmo que o efeito seja reduzido, é real.

Por exemplo, uma taxa líquida anual pode ser ligeiramente inferior à mesma taxa com pagamentos semestrais. A diferença não é imediata, mas existe.

Este detalhe ganha relevância em montantes elevados ou em prazos mais longos. Ignorá-lo pode levar a decisões menos informadas.

TANB, TANL, TAE e TAEL: Quando usar cada uma

Cada taxa responde a uma pergunta específica. A TANB mostra o ponto de partida. A TANL indica quanto sobra depois de impostos. A TAE ajusta a taxa à capitalização. A TAEL combina tudo.

Não existe uma taxa “melhor” em absoluto. Existe a taxa certa para cada análise. O erro está em comparar taxas diferentes como se fossem equivalentes.

Como evitar comparações enganadoras

O primeiro passo é confirmar se está a comparar taxas da mesma natureza. Brutas com brutas. Líquidas com líquidas. O segundo é perceber se existe capitalização e com que frequência. O terceiro é ter em conta os impostos. Só depois faz sentido tirar conclusões.

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Perguntas frequentes

Não. Estas taxas surgem sobretudo em produtos de poupança e investimento com juros definidos, como depósitos a prazo, certificados ou contas remuneradas. Nem todos os produtos são obrigados a apresentar todas as taxas.

Sim. A TAEL pode variar se houver alterações na periodicidade do pagamento de juros, na taxa aplicada ou na taxa de retenção de IRS. Não é uma taxa fixa para toda a duração do produto.

Não. A lei obriga à divulgação de taxas nominais e efetivas, mas as taxas líquidas nem sempre são apresentadas de forma explícita. Em muitos casos, o consumidor tem de fazer as contas.

Nestes casos, a TANB não é suficiente. Deve olhar para a TAE ou para a TAEL, porque estas taxas ajustam o cálculo ao tempo e à capitalização, permitindo comparações mais rigorosas.

Nem sempre. A taxa de retenção de IRS pode variar consoante o regime fiscal, o local de residência ou a opção pelo englobamento, o que influencia diretamente a TANL e a TAEL.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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