Cultura e Lazer

Poupar, pagar as dívidas e depois…gastar tudo depressa e bem

Um jogo em que se aprende o valor do dinheiro e outro que nos põe a brincar com ele: quem gastar de forma mais extravagante e rápida, ganha.

Dave Ramsey, autor de livros e de shows no Youtube em que revela a sua história de vida (e também o seu encontro com a religião), aplicou os seus ensinamentos sobre Paz Financeira, ou sobre como lidar com o dinheiro, num jogo de tabuleiro chamado “Act your Wage!”.

Não é nossa intenção avaliar as ideias e conselhos defendidos pelo autor, mas o jogo interessa-nos por ter algumas semelhanças – e bastantes diferenças – em relação ao Monopólio. Diga-se, desde já, que não se trata de um título popular entre a comunidade de especialistas de jogos de tabuleiro. Talvez a vertente religiosa (há um conjunto de cartas que apresenta textos retirados das escrituras sagradas), possa não ser apelativa para muitos. E o próprio título pode gerar confusões, pois a expressão act your wage ganhou recentemente um novo significado que podemos resumir genericamente deste modo: um colaborador deve comportar-se, ou retribuir ao patronato, no mesmo nível ou medida do ordenado que recebe.

Os sete passos de Ramsey

Polémicas e princípios à parte, o jogo de Dave Ramsey constitui uma conversão para um tabuleiro quadrado dos seus sete passos de bebé para atingir a paz financeira:

1.º passinho: poupar 1.000 dólares para começar um fundo de emergência;

2.º passinho: pagar todas as dívidas usando o método de dívida “bola de neve”;

3.º passinho: acumular nas poupanças um valor equivalente a três ou seis meses do valor das despesas mensais;

4.º passinho: investir 15% do rendimento do agregado familiar em planos poupança-reforma;

5.º passinho: pôr de lado um montante para pagar o curso universitário dos filhos;

6.º passinho: pagar antecipadamente a casa;

7.º passinho: construir riqueza e distribuir!

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Simulador de uma vida real

Em “Act your Wage!” cada jogador começa com mil dólares no fundo de emergência e o equivalente a uma semana de salário. Será uma carta “Vida” a definir este ordenado, bem como o estado civil, o número de filhos, o valor da hipoteca ou renda da casa, e os gastos em serviços e comida. Três cartas de “Dívida” mostram aquilo que o jogador deve, sejam impostos ou um empréstimo para a compra de carro.

Os quatro cantos do tabuleiro são dias de receber o vencimento semanal e de fazer um pagamento (renda/hipoteca, comida, serviços, comida novamente). Há cartas de “Dar” e “Gastar”, que implicam saída de dinheiros, e o objetivo passa por aumentar as poupanças e reduzir as despesas até se conseguir gritar: “Estou livre de dívidas!”. Resumindo: básico o suficiente para poder ser didático.

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Gastar o dinheiro todo para enriquecer

Ah, mas será que não apetece, às vezes, sermos um bocadinho menos compostos? Menos ajuizados? Pois é mesmo isso que “Last Will”, de Vladimir Suchý, propõe aos jogadores. A premissa não podia ser mais esquisita, a começar logo pela frase de apresentação: «O seu tio morreu. Iuuupi!»

Ao que parece, este tio enriqueceu durante a era vitoriana. Era uma espécie de eremita que só ligava aos negócios. No leito da morte, o milionário entendeu finalmente que nem tivera tempo para desfrutar da sua riqueza. Por isso, no último testamento, decidiu deixar a sua fortuna ao familiar que se mostrasse mais competente a… apreciar os prazeres e os luxos da vida. Assim, cada parente (jogador) inicia a partida com uma dada quantia; quem conseguir gastar o dinheiro mais depressa, vence a corrida e torna-se milionário. Mas desbaratar parte da herança do tio pode não ser tão fácil quanto soa.

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Levar o cão à opera e o cavalo ao restaurante

“Last Will” obriga a pensar ao contrário do que é nosso hábito. Tudo o que provocar gasto de dinheiro é bom. Deixar a casa cair aos pedaços? Fantástico, pois deprecia a propriedade! O mercado imobiliário, aliás, é um dos vetores mais desafiantes. Quer-se comprar as casas o mais caras possível, fazer com que elas se degradem para ficarem menos valiosas e depois vendê-las ao desbarato. E até existe a possibilidade de baralhar os valores do mercado imobiliário, para tornar a venda mais ruinosa. Receber menos, aqui, é mais. No fundo, pede-se ao jogador que descubra a melhor forma de perder dinheiro.

Claro que é tudo para levar na brincadeira. Contudo, mesmo que “Last Will” nos convide ao escape da realidade, não deixa de estar baseado na construção de um motor económico. A diferença é que se aplica uma mecânica inversa, pois estamos perante um motor económico de falência. E, quanto mais os jogadores vestirem a pele de inconscientes gastadores, maior a diversão. "Muito bem, vou comprar um camarote no teatro para levar os meus cães a ver uma peça, eh eh", diz um. “Ai sim? Pois eu vou levar o meu cavalo a jantar no restaurante mais luxuoso da cidade”, responde o outro. Qual deles gastará mais nessas extravagâncias? E tudo em homenagem ao coitado do tio falecido…

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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