Cultura e Lazer

Quebrar o mealheiro para ir ao…Museu da Poupança

Se tiver viagem programada para o norte de Itália, propomos uma visita ao Museo del Risparmio, em Turim. Caso não tenha, faça a visita virtual.

Sob o lema de «conhecer, compreender, experimentar», o museu italiano dedicado à poupança pretende ser um local único e inovador onde as pessoas, desde as crianças aos adultos, podem contactar com os conceitos de poupar e investir. Por outras palavras, trata-se de uma casa que visa melhorar a literacia financeira dos visitantes, preparando-os melhor para o panorama do nosso dia-a-dia, cada vez mais repleto de decisões cruciais sobre finanças, crédito, segurança social e, claro está, dinheiro.

Uma história de contornos longínquos

A visita ao Museo del Risparmio começa com uma breve, mas importante, introdução aos principais acontecimentos históricos ligados à economia. Nas primeiras salas, através de uma série de vídeos, conhecem-se curiosas histórias sobre a importância e o papel do dinheiro desde tempos remotos até às causas e efeitos das bolhas especulativas. Somos apresentados à deusa romana Juno – e ao seu epíteto Moneta, que deu origem à palavra inglesa “money” (dinheiro) –, e ouvimos a explicação da incrível especulação em redor das tulipas, nos Países Baixos do século XVI, que levou à fortuna, e depois à ruína, de muitos comerciantes de bolbos da flor exótica que se tornou uma verdadeira paixão dos neerlandeses. Igualmente fascinante a descrição do funcionamento das casas da moeda durante a Idade Média, era em que circulavam moedas de ouro e prata, usadas para os negócios mais importantes, e moedas de cobre, usadas no comércio tradicional. Quem possuía materiais preciosos deslocava-se a uma dessas casas, onde a matéria-prima, em troca de uma taxa, era derretida e moldada em dinheiro facilmente utilizável.

Ao longo deste caminho pela história da Economia, o visitante (mesmo o virtual) pode ir lendo citações inscritas na parede, como a que nos revela os mandamentos do multimilionário Warren Buffet:

Regra n.º 1: Nunca percas dinheiro.

Regra n.º 2: Nunca te esqueças da regra n.º 1.

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As crises financeiras de Dante e Molière

Com toda a calma, para não perder informações preciosas, assistimos a mais alguns vídeos sobre as crises especulativas já do século XXI (e um dos especialistas entrevistados defende que as bolhas que levaram às crises financeiras foram causadas por erro humano, tendo os mercados financeiros servido para atenuar o impacto do choque), antes de aprofundar conhecimentos sobre alguns dos instrumentos financeiros mais frequentes dos nossos dias: ações, títulos, derivados, seguros, planos de reforma e fundos de investimento.

A relação do homem com o dinheiro, e com estes instrumentos, é depois analisada através de cenas do cinema italiano e por “testemunhos” vindos do passado. Dante, por exemplo, conta-nos como soube o que era viver em pobreza, numa altura em que um livro podia custar mais do que um boi. Já Shakespeare revela que não podia deixar de escrever, uma vez que precisava de sustentar mulher, três filhos e os atores da sua companhia teatral. E quanto ao dramaturgo francês Molière, que acabou preso por dívidas após não conseguir pagar as velas para o espaço onde o seu grupo atuava, mais parece a ilustração da sentença atribuída a Benjamim Franklin: «Os credores têm melhor memória do que os devedores.» Teria o dramaturgo francês evitado a prisão, caso conseguisse (ou tivesse sabido) poupar alguma coisa para os tempos de aflição?

Museu da Poupança

Porquinhos-mealheiros para todos os gostos e feitios

Numa das últimas salas, destaque para um dos mais fabulosos instrumentos de poupança: o mealheiro. Sim, bem sabemos, estes objetos passaram tanto de moda que, atualmente, são coisa própria de museus. É será pena que assim seja, pois alguns dos ensinamentos e princípios associados a ele continuam perfeitamente válidos. A coleção encerrada nas vitrines do museu vai muito para além dos tradicionais porquinhos-mealheiros. Entre as dezenas de exemplares que se podem admirar, alguns ganham destaque nos belíssimos vídeos que nos contam histórias curiosas sobre este objeto icónico.

O design aliado à função criou peças incríveis. Um mealheiro dos anos 1940-50, feito no Reino Unido, com cinco ranhuras: quatro para pagar as contas da eletricidade, do gás, do carvão e a renda da casa, e uma, sem título inscrito, que seria para o projeto de sonho. Uma década antes, outra caixinha de metal britânica apresentava compartimentos para os presentes de aniversário, os presentes de Natal, as férias, e uma ranhura especial para os "dias mais difíceis, meus e dos outros", porque o dinheiro também serve para ajudar quem mais precisa. E que dizer da caixa de ferro, datada de 1900, criada para ajudar as mulheres dos mineiros belgas? O dinheiro amealhado servia como uma espécie de seguro perante uma fatalidade que acontecesse a um dos maridos que trabalhavam debaixo da terra.

A coleção de mealheiros serve para mostrar que até as despesas mais pequenas podem pesar menos no orçamento caso sejam devidamente planeadas. Só isso justifica a existência de uma caneca de cerveja em cerâmica para guardar as moedas destinadas às saídas com os amigos... E os luxos? Pois bem, que tal um mealheiro kitsh em forma de bota de salto alto, toda cor-de-rosa, cujo cano até ao joelho se divide em vários níveis de poupança. Pode-se poupar o suficiente para um par de pantufas, umas sandálias ou então esperar mais uns tempos e juntar os trocos necessários para uns stilettos de marca.

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Figuras do cinema e da política que nos fazem poupar

Outro vídeo traz-nos pequenas histórias de mealheiros ligados a personagens dos filmes e dos álbuns de banda desenhada. Lá estão Tintin, Capitão Hadock e Milou apoiados numa arca do tesouro, o Batman e o Super-Homem de costas voltadas, o enternecedor E.T. - O Extraterrestre de Steven Spielberg, o rabugento e sovina Tio Patinhas, e a inevitável claquete que tão bem representa a arte do cinema. Finalmente, a terminar a nossa visita virtual, mais alguns exemplares de mealheiros com pendor histórico. Um tanque de gesso comemorativo da libertação de França no ano de 1944, um busto metálico do presidente norte-americano John F. Kennedy, que convida a usar o dinheiro de modo consciencioso – pensando que a poupança individual também pode contribuir para o crescimento do próprio país –, uma representação da missão Apolo 8 que abriu o caminho para que no ano seguinte o Homem pisasse a Lua, relembrando-nos de que o investimento científico e tecnológico visa obter progressos que melhorem as condições de vida de todas as pessoas.

Saídos do museu, somos obrigados a concluir que a promessa inicial ficou inteiramente cumprida. Afinal, é possível falar de literacia financeira de uma forma descontraída e com recurso a formas de entretenimento típicas da nossa era. Ficámos até com a vontade de ir a Itália para transformar a nossa visita virtual ao Museo del Rispiarmo num passeio ainda mais palpável. Talvez poupando? Já sabemos que há métodos modernos de guardar e investir dinheiro. Mas, pelo sim, pelo não, também não custa ir à procura de um “velho” mealheiro onde possamos ir guardando umas moeditas…

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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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