Com as recentes subidas das taxas Euribor, as famílias portuguesas têm enfrentado maiores dificuldades para pagar as prestações mensais dos seus créditos habitação. Isto porque o aumento dos encargos com o empréstimo da casa implica um acréscimo da taxa de esforço e, com isso, menos rendimento disponível para as outras despesas.
Recentemente, o Governo anunciou até novas medidas para evitar o incumprimento por parte das famílias, forçando os bancos a renegociar as condições dos créditos habitação em casos onde a taxa de esforço seja superior a 36%.
Vejamos, neste artigo, o que é a taxa de esforço e como poderá reduzi-la através da revisão do crédito habitação ou processos como a consolidação de créditos.
O que é a taxa de esforço?
A taxa de esforço é uma fórmula de cálculo que representa o peso das prestações de créditos no rendimento mensal do agregado.
Ou seja, para calcular a sua taxa de esforço, deve utilizar o seguinte método:
[Total de prestações financeiras / Rendimento mensal líquido] x 100 = Percentagem da taxa de esforço
Nas prestações financeiras, deve contabilizar todas as mensalidades de créditos que o seu agregado familiar tem, como a mensalidade do crédito habitação, do crédito automóvel, ou outros créditos.
No rendimento mensal líquido deve considerar todos os ganhos do agregado familiar, independentemente da origem. Isto é, salários de empregos full-time, part-time, ou até rendimentos de trabalho freelance, de aplicações financeiras ou com rendas imobiliárias. Também deve contabilizar subsídios ou abonos familiares que possa receber.
Para um crédito habitação, a taxa de esforço é um dos fatores a ser analisado e que pode determinar a aprovação do crédito. Ou seja, por norma, os bancos aprovam um crédito a clientes que tenham uma taxa de esforço até 30%. Acima disso, a taxa de esforço pode ser já considerada preocupante e é menos provável que consiga um crédito habitação aprovado.
Pode utilizar o Simulador de Taxa de Esforço para um cálculo mais preciso da sua. Para isso, certifique-se de que sabe quais as despesas e os rendimentos totais do agregado.
Leia também: Como posso reduzir a minha taxa de esforço no crédito habitação?
Renegoceie com o banco o seu crédito habitação
Considerando que o crédito habitação é um dos principais encargos no orçamento das famílias portuguesas (e por isso o que mais influencia a taxa de esforço) é importante procurar soluções para baixar a prestação mensal deste empréstimo.
Se o seu crédito habitação estiver associado a uma taxa de juro variável, pode já ter sentido um aumento na prestação mensal que paga, devido à subida das taxas de juro.
Este aumento pode ser mais ou menos significativo de acordo com o prazo da taxa Euribor que tem no seu contrato (3, 6 ou 12 meses).
Porém, mesmo com esta subida da Euribor, saiba que continua a ser possível poupar e reduzir a taxa de esforço no crédito habitação, caso renegoceie as condições com o banco.
Sendo que a Euribor não é o único fator a influenciar a taxa de juro, pode tentar renegociar o seu spread. Isto porque, com uma taxa variável, a Taxa Anual Nominal (TAN) é composta pela Euribor (no prazo determinado) e o spread.
Caso tenha um spread de valor elevado, esta é uma boa altura para conversar com o seu banco, uma vez que a maioria das instituições bancárias estão agora a aplicar spreads nos novos contratos entre os 0,95% e 1%. Há até bancos a oferecer spreads de 0,85% em casos específicos.
Sendo que esta taxa tem em conta fatores como o nível de risco, garantias do financiamento e o rácio entre o valor do empréstimo e o valor do imóvel, para que lhe baixem o spread podem propor-lhe outras condições. Como, por exemplo, adquirir um cartão de crédito ao qual tem de dar uma certa utilização por mês ou outros produtos.
Além disso, pode ainda fazer alterações nos seguros que tem associados ao crédito: o seguro de vida e o seguro multirriscos. À partida, tem estes seguros contratados através da seguradora parceira do banco, o que lhe permite ter também uma bonificação no spread.
Mas atente que, por lei, não é obrigatório manter estes seguros junto da seguradora associada ao banco, e, muitas vezes, ao mudar os seguros para uma nova seguradora, consegue prestações significativamente mais baixas, que podem compensar a penalização do spread.
Por isso, faça as contas às várias opções que tem para perceber o que compensa mais e como pode conseguir poupar com o seu crédito habitação.
Leia ainda: Subida da Euribor: é o momento certo para amortizar o crédito habitação?
Governo força bancos a agir
De acordo com as novas medidas anunciadas pelo Governo, uma taxa de esforço superior a 36% deve levar os bancos a propor uma renegociação das condições do contrato, oferecendo alternativas mais vantajosas para evitar situações de incumprimento.
Estas regras advêm de um diploma dirigido ao setor bancário, aprovado em Conselho de Ministros, que regula o processo de negociação entre os clientes e as instituições bancárias, estando em vigor até ao final de 2023.
A renegociação deve ser proposta caso tenha existido um agravamento da taxa de esforço de cinco pontos percentuais que conduza a um patamar superior a 36%, ou caso a taxa de juro inicial acrescida de 3 pontos percentuais (cenário de teste de stress) levar a uma taxa de esforço superior a 36%.
Estes casos vão ser identificados pelos bancos que, de forma rápida e proativa, têm de renegociar os empréstimos e oferecer condições mais vantajosas.
Esta medida abrange contratos de crédito habitação com taxa variável, um capital em dívida inferior a 300 mil euros, que se destinem à compra de habitação própria e permanente.
O Executivo age em resposta à subida recente e consecutiva das taxas Euribor, que se tem refletido num impacto nos encargos das famílias com as prestações deste crédito.
Consolidar vários créditos pode ser solução
Um processo que pode reduzir significativamente a sua taxa de esforço é fazer uma consolidação de créditos, caso tenha mais do que dois.
Por isso, caso o seu agregado familiar detenha, por exemplo, um crédito habitação, um crédito automóvel, um crédito pessoal e cartões de crédito, pode juntar estas prestações numa só através de um crédito consolidado.
Esta opção poderá garantir-lhe uma folga no orçamento mensal, uma vez que a soma de todas as prestações pode estar a roubar-lhe uma grande fatia do seu rendimento.
E com a consolidação de créditos vai conseguir reduzir esta fatia, uma vez que a taxa de juro de um crédito consolidado é mais baixa do que a média das taxas de juro dos outros créditos. Esta consolidação poderá traduzir-se numa poupança superior a 60%.
A poupança, porém, vai depender de caso para caso, da quantidade de créditos que detém e das condições desses créditos. Por isso, caso queira ponderar a opção do crédito consolidado, pode recorrer a um intermediário de crédito, como o Doutor Finanças, que o aconselha de forma gratuita.
Poupar com os encargos domésticos
Ainda que não sejam contabilizadas na taxa de esforço, as despesas domésticas, como as contas da água, eletricidade e condomínio, entre outras, têm, tal como as prestações dos créditos, um grande peso no orçamento familiar. Assim, é importante começar por encontrar formas de poupar neste campo.
Exemplificando, se tem o seu contrato de telecomunicações há algum tempo, talvez seja altura de o rever junto da operadora. Existem cada vez mais pacotes completos que englobam vários serviços e que podem representar uma certa poupança. Pode ter, dentro do mesmo contrato, o serviço de televisão, telefone fixo, tarifários de telemóveis e internet.
Avalie o pacote atual que tem, até pelo facto de já poder ter necessidades diferentes do que as que tinha quando o contratou. Por exemplo, vale a pena ter 1G de internet mensal no seu telemóvel ou apenas 500Mbps chegariam?
Se já estiver fora do período de fidelização, pode também ir à procura de condições melhores e mais em conta noutras operadoras.
Faça o mesmo exercício com o contrato de eletricidade. Ainda necessita mesmo do pacote atual de que dispõe? Uma potência que lhe possibilite ter quatro aparelhos ligados simultaneamente pode já não fazer sentido, uma vez que tem um preço mais elevado. Talvez seja suficiente uma potência que lhe permita ter apenas dois aparelhos ligados ao mesmo tempo.
São adaptações que consegue fazer nas tarefas domésticas e que podem representar uma poupança considerável mensalmente e a longo prazo.
Da mesma forma, poderá conseguir poupanças nos gastos do dia-a-dia, como no supermercado e no combustível, adotando certas estratégias que poderão fazer uma grande diferença no final do mês.
Para poupar na conta do supermercado: antes de ir às compras, certifique-se de que faz uma organização prévia verificando na despensa o que faz falta, elaborando uma lista e estipulando um orçamento máximo; depois, compare preços entre supermercados para decidir onde vai comprar mais barato; no momento das compras, não se esqueça de levar os seus sacos para não ter de comprar novos, de levar um carrinho pequeno e não ter a tentação de levar nada desnecessário, bem como priorizar a área das promoções e as marcas brancas.
Para poupar no combustível, é importante ponderar as seguintes opções: partilhar boleias para ir e vir do trabalho com quem more perto de si; faça uma condução mais lenta para não gastar tanto; caso o seu carro tenha, opte pelo modo eco de condução, e não se esqueça de fechar bem a tampa após abastecer o carro para evitar que algum combustível evapore.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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