Você sofre de dinheirofobia?

Sabe onde gasta o seu dinheiro ou prefere nem saber? Se tem um problema financeiro, há solução. Mas tem de saber para onde vai cada cêntimo.

Imagine que lhe perguntava quanto pagou em comissões bancárias no ano passado. Talvez a sua resposta seja qualquer coisa como “Não sei ao certo, mas sei que é muito…”. Ou talvez simplesmente “Não sei”. Qualquer uma destas respostas é má do ponto de vista das suas finanças pessoais: querem dizer que não sabe para onde está a ir o seu dinheiro e que ainda não fez nada para descobrir.

Na minha opinião, este é um dos problemas mais graves que afeta os portugueses. São “dinheirofóbicos”. 

Esse poço de informação sempre disponível chamado Wikipedia diz que Fobia “é um tipo de perturbação da ansiedade caracterizado por medo ou aversão persistente a um objeto ou uma situação. A pessoa afetada exerce grandes esforços para evitar a situação ou o objeto, geralmente a um grau superior em relação ao perigo real do próprio objeto ou situação”. 

Normalmente, falamos de cobras, aranhas, ver sangue ou ter medo de alturas, mas não imagina a quantidade de pessoas que tem medo de falar ou mexer em dinheiro. Não é mexer em dinheiro físico, como já entendeu. 

Conheço pessoas que tremem (literalmente) ou bloqueiam só de pensar em fechar uma conta e mudar tudo para outro banco. Preferem estar a pagar todos os meses uma prestação do que ter a “vergonha” de dizer que não tem dinheiro para pagar. Muitas vezes nem mudar de empresa de eletricidade, gás ou telecomunicações conseguem… “Dá muito trabalho”; “Não sei fazer”, “E se eu me engano?”; “Estarei a fazer bem?”; “No fim de contas, são todos iguais…”; “Mudo mas enganam-me na mesma”. Conhece estas frases? São frases de “dinheirofóbicos”. 

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A origem do medo

Todos nós já tivemos experiências negativas com o dinheiro. Talvez tivesse assistido a discussões graves entre os seus pais, familiares ou amigos por causa de dinheiro. É a “raiz de todos os males”. 

Pode ter passado por uma situação financeira difícil e sentiu-se enganado por alguém, empresa ou instituição. Talvez tenha perdido a confiança no sistema financeiro. Talvez tenha tomado más decisões  financeiras no passado e teme repeti-las no futuro, portanto prefere deixar as coisas como estão (mesmo que estejam mal).  Isso é dinheirofobia.

Quando falamos de dinheiro, a estratégia para vencer a sua fobia é mesmo esta: exposição ao objeto e às situações. Tem de começar a falar e a ler sobre dinheiro e a ver como estão as suas contas e para onde vai cada cêntimo.

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Se perceber que todos os meses sai dinheiro da sua conta bancária e não sabe para onde ele vai, nem em que quantidades, tem um problema: não quer saber ou - pior - tem medo de saber. Porque sabe que se descobrir que a culpa é sua, vai ter de agir. E admitir que não anda a gerir bem o seu dinheiro.

Estou a falar-lhe com toda esta franqueza porque não imagino outra forma mais eficaz de o ajudar a recuperar o controlo das suas finanças. Às vezes temos de levar um “abanão”. Se não sabe quanto está a pagar em comissões bancárias isso não é uma situação muito grave em si mesma (estamos a falar de quanto? 5, 7, 8 euros por mês?), mas revela uma outra situação bem mais preocupante, que é a forma ligeira como encara o seu dinheiro no dia a dia. 

Se não sabe quanto ganha exatamente, se prefere não tirar o saldo do multibanco para não saber que está quase sem dinheiro ou que o saldo até já está negativo, se não faz ideia de quanto paga todos os meses de eletricidade ou em telecomunicações, então você provavelmente tem esta “doença” financeira.

Preferir não saber quanto está a gastar, é agir como aquelas pessoas que fogem de fazer análises ao sangue regularmente porque têm medo de que acusem algum problema. Chama-se enterrar a cabeça na areia, como as avestruzes.

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Assumir que se tem um problema financeiro

Por favor, faça uma auto-análise. Não tenha medo de assumir que tem um problema financeiro. Pelo menos assuma que tem uma má relação com o dinheiro e decida mudar isso.

Não será fácil, mas será não apenas útil, como pode mudar o seu presente e o seu futuro e o da sua família. Identificar a sua situação atual é o primeiro passo para poder agir sobre o que está mal e precisa ser corrigido.

Costumo dizer que não há nenhum problema financeiro que não tenha solução. É verdade que a solução pode ser extremamente dolorosa, mas tudo se pode resolver. Pela minha experiência, as situações que acabaram da pior maneira foi porque as pessoas simplesmente deixaram as coisas andar e esperaram que - por artes mágicas - o problema desaparecesse.

Só para ter uma ideia, uma pessoa que conheci disse-me que quando chegavam as cartas do banco relacionadas com uma dívida, não as abria. Na cabeça dela, se não abrisse as cartas e não respondesse não aconteceria nada e o banco acabaria por esquecer o assunto. Surreal, não é? Mas foi uma situação real. Esteve a um milímetro de perder todos os bens que tinha.

Sei que você não faria isso, mas se calhar está a “fazer de conta que não vê” em relação a outras situações na sua vida financeira. Pode ter gastos ou despesas completamente desnecessários e que mantém simplesmente por preguiça. 

Faça uma média das suas receitas e despesas mensais e anuais. Descubra as percentagens das suas categorias de despesas (quanto gasta em entretenimento, saúde, educação, assinaturas de serviços, telecomunicações, comissões bancárias, pequenos-almoços, almoços e lanches, raspadinhas e euromilhões, combustíveis e multas, estacionamento e portagens, etc.).

E depois veja se tem de fazer alguma coisa. Não tenha é medo de fazer contas ao seu dinheiro.  Trate da sua dinheirorofobia! Tem cura.

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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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